larissa 23/03/2024
Feminismo Quântico
A verdade é que existem algumas considerações a serem feitas antes de uma resenha efetiva: 1) reconheço que o livro é, antes de tudo, uma carta de um tom predominantemente pessoal; 2) igualmente reconheço que a autora não se propôs ? porque não era de seu interesse, já que acredita não ser uma especialista no tema ? propiciar, ao caráter do livro, uma carga acadêmica e, por último, 3) é de se assumir que o livro não só foi escrito para ser sucinto e introdutório, como também não foi feito com a pretensão de ser um caderno de regras.
Depois de estipuladas as considerações, devo dizer que, quanto a minha intenção com a leitura, iniciei o audiobook com o objetivo de me distrair com uma reflexão durante afazeres pessoais. Para isso, serviu e foi ótimo. No entanto, o questionamento que me restou, ao final da leitura, foi: como seria se eu, enquanto mãe, escolhesse este livro para não só me entreter, mas me educar política e maternalmente?
É questionável que, ao se introduzir o feminismo para crianças, foquemos em questões tão diminutas como o cuidado que devemos ter ao elogiar quando um homem cozinha; ou, também, sobre como a menina deve pegar o próprio brinquedo de volta em uma situação de ?desvio?, porque, se assim feito, ela aprenderia sobre consentimento. Pergunto-me, portanto, será que esses seriam os melhores exemplos para introduzir uma educação politicamente feminista às crianças?
Expresso, mais uma vez, o que escrevi no meu histórico de leitura desse livro. Algo nesse feminismo (o qual apelidei carinhosamente de ?feminismo quântico?) que agasalha situações minúsculas com um casaco de ?pauta grandiosa? é, mesmo que inocentemente, uma condição que nos distancia do debate central. Além de tudo, um feminismo que só se preocupa única e exclusivamente com os papéis de gênero ? que negligencia a interferência de fatores socioeconômicos na interpretação desses mesmos papéis ? não desempenha integralmente sua função política.
A finalizar, defendo que não ignoro a relevância deste livro enquanto debate inicial para a formação de crianças feministas. Discussões importantes foram, sim, retomadas ao passo da leitura; no entanto, a partir de vieses rasos e socialmente limitados.
(20/03/2024)