lispectoreana 31/05/2023
Clarice na Cabeceira
"Crônica é um relato? Uma conversa? É um resumo de um estado de espírito? Não sei."
Durante semanas, busquei por uma maneira de ser introduzida a Clarice Lispector e seu caos. Não parecia certo ler nenhuma de suas obras sem conhecer fragmentos de quem ela era antes. Quando me vi cara a cara com a oportunidade de ler fisicamente Clarice na Cabeceira, na biblioteca de meu colégio, não pude ignorar o chamado.
O que mais me tornou aflita no momento em que decidi que queria entender quem era Clarice, foi a intensidade e brutalidade com que me disseram que escrevia. Estava com medo de ler Clarice Lispector. Agora, imagino que se um dia alguém tenha dito essa mesma frase para a autora, ela tenha rido, ou talvez enrubescido, e em seguida dito alguma metáfora sobre como o Homem é nada mais que poeira, ou, dependendo de seu humor, revelado que Lispector não é para todos.
Quando li a frase "Clarice não se entende, se sente" há tempos, minha curiosidade sobre o que essa mulher faz com seus leitores se atiçou, e cá estou eu, completamente imersa no gênio de Lispector.
'Clarice na Cabeceira' reúne várias crônicas da autora que são, ora um enorme abraço e palavras de identidade, ora um enorme tapa na cara que arranca dores muito mais que físicas. Me senti uma amiga dela, naquele período onde recém se conhecem. Sua escrita tem momentos de compreensão total e de compreensão nenhuma, mas em momento algum deixei de sentir que estava em sua presença. Existe um quê de carinho em suas palavras, um amor pessoal, materno, existencial, que me cativou e me fez continuar conforme a voz de sua mente ressoava na minha cabeça, fui dormir pensando na crônica "As três experiências." Onde diz que espera encarnar novamente no corpo de uma leitora interessante e comum, apenas para que possa ler suas próprias obras sem saber que são suas.
"Uma das coisas mais solitárias que conheço é não ter a premonição."
Me senti caoticamente compreendida por ela, que não esconde o que pensa. Meu medo foi em vão, ou talvez não, pois deveria temer a obra de arte com que estaria lidando. Eu, que confesso não ser muito da literatura Brasileira, posso dizer a popular frase "Clarice Lispector alugou um tríplex na minha cabeça."
Aprendi que Clarice é para qualquer hora, qualquer dor, qualquer clima, qualquer pessoa.
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Crônicas favoritas:
➤ 'Das vantagens de ser bobo.'
➤ 'Se eu fosse eu.'
➤ 'As três experiências.'
➤ 'Persona.'
➤ 'Amor imorredouro.'
➤ 'O ato gratuito.'
➤ 'Lição de Filho.'