Resenhas - Política & Púlpito

Hélio 24/12/2022

Política e Púlpito
Um livrinho bom para se iniciar um debate importante sobre a questão, se o pastor deve ou não tratar de política nos púlpitos das igrejas.
Um grande erro que vejo nesta publicação é no prefácio à edição brasileira, o prefaciador que é uma pessoa da editora Monergisno (Uma editora que pública muita coisa boa), considero que ele foi infeliz ao escrever o prefácio. Pois, destilou ódio para tudo quanto é lado rsrs. Por defender uma posição extremada que "o pastor deve se engajar na política" atacou os arminianos, bateu forte nos calvinistas (ele mesmo sendo um calvinista supralapsariano), chamou os leitores de teologia sistemática de inúteis e analfabetos funcionais rsrs. Chamou todos os pastores que não orientaram os fiéis a não votarem em Dilma, de infiéis. Disse mais que todos que votaram nela pecaram. Para completar numa nota de roda pé ele recomenda um livro de Timothy Keller, mas, ao mesmo tempo faz questão de afirmar que: "recomendar o livro não significa recomendar o 'socialismo' presente em algumas obras de Keller." Acusou Keller de socialista, e acredito que acusaria também John Piper, pois, parece que este compartilha o mesmo posicionamento sobre questões políticas de Keller. Falei mais sobre o prefácio porque ele ocupa quase a metade do livro.

Quanto ao conteúdo do autor Jeffery J. Ventrella que é doutor em direito pela Universidade da Califórnia, advogado da suprema corte dos EUA e doutor pelo seminário teológico Whitefield, defende uma posição mais sensata e equilibrada do que o prefaciador.

Ventrella defende que o pastor tenha liberdade para falar com sabedoria sobre política e sobre políticos nos púlpitos das igrejas. Discordo de alguns argumentos que ele usa, mas vejo que a maior preocupação dele é que nos EUA a lei não permite os pastores fazerem endosso ou crítica a qualquer candidato, devido a uma emenda apresentada 1954 pelo senador Lyndon Johnson que modernizava e reformulava o código tributário. Essa emenda proíbe as organizações beneficiadas de isenção de impostos de participar em qualquer campanha política a favor de qualquer candidato a cargo público.

Trecho:
"O ponto aqui não é que todo deva emitir, com fúria e sem sabedoria, bordões políticos ou partidários. Em vez disso, o pastor possui a liberdade - liberdade que não deveria ser restrita pelo Estado - de lidar sabiamente com essas questões e tratar desses assuntos de maneira sábia, para edificar e preparar as ovelhas e glorificar o Senhor.

Gabriel Dayan 14/08/2017

Anos atrás, um grande pastor de Curitiba emitiu um alerta de púlpito sobre os perigos de uma ideologia explicitamente anti-cristã que promove uma agenda assassina, que inverte os padrões morais que construíram a nossa sociedade e por fim, possui no seu âmago o ódio (de classes) e a perversidade como ponto de partida. Essa questão causou uma polêmica que até hoje não se encontra muito bem resolvida: Como os púlpitos devem abordar as questões políticas? Citar candidatos, planos de governo, se posicionar criticamente ou à favor? O que a Bíblia nos ensina sobre a relação do discurso público do Pastor e do Político?

O pequeno livreto do Dr. Ventrella, procura clarear a discussão, abordando o assunto com a percepção de um jurista, pois o autor é doutor em Direito e atua também como advogado na Suprema Corte americana. Jeffery luta contra a ideologia de gênero, o feminismo a dialética hegeliana de forma técnica, jurídica e comprometida com o Reino de Deus. Como bom cristão reformado, sua análise compreende a junção dos exemplos bíblicos que permeiam o tema, uma defesa prévia dos possíveis contra argumentos que suas ideias possam gerar de uma forma semelhante à linguagem jurídica de alguma corte superior.

O livro falha terrivelmente no prefácio. Os irmãos da Editora Monergismo são benção por traduzir obras maravilhosas do contexto reformado para nós, mas caem direto na tentação de expor seu orgulho separatista em que tudo o que não for calvinista-supralapsariano-republicano-capitalista-criacionista-da-terra-jovem. Isso é sério, pois retira o brilho do texto de Ventrella que tive o prazer de conhecer pessoalmente e que destila carisma, bom humor, evangelicalismo com genuína preocupação com a santidade pessoal e pública. O prefácio retira a disposição de ler o resto do livro, pois fecha o coração de qualquer um que busque o tema com preocupação genuína.

Porém o livro ajuda a entender que o pastor é responsável pelo que diz e pelo que não diz no púlpito. Alerta que muitos dos desmandos que ocorrem na política e até mesmo na Igreja são frutos de uma Igreja ignorante de assuntos políticos ou públicos. Mostra que talvez foi de forma acertada o discurso que se revelou profético do pastor de Curitiba. É uma boa bibliografia para pastores que buscam lidar de forma sábia sobre política em seus púlpitos.