Lovett (@bloglariteratura) 30/01/2018
Desconfortavelmente Necessário
Sabe aquele friozinho na barriga que você sente quando tá andando numa rua meio deserta e tem algum homem logo atrás de você? Então, é exatamente esse sentimento que você vai ter durante toda a leitura deste livro.
Eu sei, eu sei. Por que alguém seria louco de ler algo que causasse essa sensação horrível, né? Vou te explicar agora. Você realmente deveria ler “Eu sei onde você está”, de Claire Kendal. Principalmente se você for mulher.
O livro fala sobre como um caso de “avanço indesejado” de um cara pode se tornar algo muito perigoso, já que a polícia tende a não tomar nenhuma atitude antes que seja tarde demais. Quantos casos não vemos na televisão de mulheres que procuraram ajuda de autoridades, mas como não havia prova física de qualquer tipo de abuso, eles “não podiam fazer nada” por elas?
O personagem Rafe começou como um homem inconveniente, com investidas desconfortáveis e tentando embebedar Clarissa (a protagonista), pra ver se conseguia alguma coisa. Aconselhada a escrever todas as investidas que Rafe fazia para acumular evidências, Clarissa começou uma espécie de “diário do medo”, e é através dele que acompanhamos a história.
É incrível como a autora consegue nos fazer sentir incomodados durante toda a leitura, como se estivéssemos vendo tudo aquilo acontecer de verdade diante dos nossos olhos. Todo o medo, desconfiança, nojo, desamparo e desespero que Clarissa sente, flui das páginas diretamente pro nosso coração, nos deixando agoniadas e ansiosas pra que alguém, por favor, a ajude.
Talvez nunca tenha acontecido com você, mas infelizmente, é mais provável que você já tenha passado pela situação em que o seu “não” tenha sido inútil. Que sua resposta negativa só fez parecer um desafio maior, ou tenha sido encarado como o famoso “se fazendo de difícil”. Talvez tenham te xingado de feia, gorda, vaca ou puta porque você se recusou a dar um beijo ou até mesmo um olhar. Já sabemos que tudo isso é caracterizado como abuso, mas Rafe vai muito mais além. Pra ele, o “não” nunca existiu.
Esse livro torna íntima a experiência de ser perseguida e abusada, tornando difícil imaginar que tudo isso acontece muito longe da gente. Clarissa poderia ser sua amiga querida, sua irmã, sua sobrinha. Poderia ser você.
Ler algo que te deixa desconfortável não é fácil, realmente, mas é muito importante. Tive que dar algumas pausas na leitura pra espairecer um pouco e, quando o livro terminou, confesso que fiquei triste por um tempo. Imaginar quantas pessoas já passaram ou devem passar por aquele sofrimento me fez refletir sobre o quanto sou sortuda por nunca ter esbarrado com um psicopata, já que os noticiários nos mostram que existem tantos por aí.
“Eu sei onde você está” é um livro que te faz, acima de tudo, dar valor as pessoas que você tem na sua vida. Faz você perceber o quanto a sororidade e a empatia são valorosas e necessárias, porque se você inspirar confiança naquela sua amiga ou conhecida, ela pode te contar sobre o que ela tá passando. E assim, ela pode ter um final diferente.
Se você gosta de um thriller psicológico, como é o meu caso, indico fortemente esse livro. Ele contém todas as características indispensáveis pra um livro do gênero, inclusive aquele desgraçamento mental básico! Hahaha.
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