Enoque 15/05/2015
“Eles eram muitos cavalos, mas ninguém mais sabe os seus nomes, sua pelagem, sua origem...” (Cecília Meireles)
O título do livro foi tirado do poema "Dos Cavalos da Inconfidência", de Cecília Meireles e diz exatamente o que Ruffato expõe nessa coletânea de vários contos relacionados ao cotidiano da cidade de São Paulo. O autor usa de vários artifícios literários e poéticos para tentar reproduzir o dia a dia na maior metrópole do país. Em cada conto, os personagens são diferentes, muitas vezes têm nomes mas, mesmo assim, não deixam de ser generalizados. Os fatos descritos parecem acontecer a todo momento, e os textos, muitas vezes, com formas diferentes e com linguagem coloquial, fazem a leitura fluir muito rápido. Esta maneira de escrever, na minha opinião, tenta reproduzir a correria das pessoas que vivem nessa cidade e que, muitas vezes, se passam despercebidas em diversas ocasiões ou vivem no "piloto automático".
Nos contos, Luiz faz várias críticas e tenta distribuí-las em classes sociais diferentes. Mesmo as condições sendo favoráveis ou adversas, a generalização é a mesma para todos os personagens, reificando as relações humanas. O autor critica, por exemplo: a relação marido e mulher, a política, a corrupção, o caos nos transportes, a violência, a quantidade de informações a que somos expostos o tempo todo, o futebol, a internet, dentre outros assuntos evidentes ou não, mas conhecidos de todos que vivem aqui em SP. O autor não coloca sua opinião em relação às atitudes das personagens e, literalmente, essas não aparecem diretamente. Entretanto, fica muito claro nas entrelinhas uma estereotipação de vários personagens.
Eu li diversas críticas relacionadas à este livro, no entanto, discordo de várias delas. Muitos diziam "Essa é um livro sem pé nem cabeça" ou "Ele escreve qualquer coisa e coloca nos contos, como por exemplo, um anúncio de classificados". Primeiramente, devemos ter ciência de que este é um livro de contos e não um romance ou uma novela, sendo assim, as histórias não se dão de forma contínua e, em vários momentos, o autor não escreve o final da história e deixa este para a imaginação do leitor deduzir. Achei esse recurso muito interessante e, com certeza, me fez divagar por todo o texto imaginando situações diferentes. Além disso, Ruffato usa formas diferentes como cartas, classificados, estantes de livros para explicitar quantas vezes somos bombardeados de informações no nosso dia a dia e são coisas tão banais que não nos damos conta.
Apesar das várias críticas que li, achei o livro muito bom de se ler e de compreensão mediana. As histórias diferentes nos fazem ter uma grande empatia com as personagens, mesmo elas aparecendo de formas generalizadas. O modo de escrever, sem vírgulas e sem forma rígida, dá aos textos um teor poético e causam muitas sensações em quem está lendo. Sem dúvidas é um livro que incomoda e muito provocativo, indicado para quem quer refletir sobre as situações do cotidiano e também conhecer mais o que acontece nas ruas e nas casas de São Paulo.
site: virazoi.blogspot.com.br