Eles eram muitos cavalos

Eles eram muitos cavalos Luiz Ruffato




Resenhas - Eles Eram Muitos Cavalos


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Naotto 11/06/2013

Pretensioso ao extremo, facilmente uma das piores obras que já li na vida. Machado de Assis ficaria deprimido em saber que tal obra recebeu um prêmio com o seu nome.


Por mais que a intenção do autor seja retratar a maior cidade do país como um lugar onde o caos se personaliza, a população está morta por dentro e onde as mais sórdidas histórias acontecem sem que ninguém saiba é necessário que haja pelo menos um plano de narrativa.

Durante todo o livro somos bombardeados com anúncios de jornal, previsões do tempo, lista de livros presentes em uma estante, correntes e folhetins. Será mesmo que não existia nenhuma outra alternativa para retratar isso?

Na segunda metade, o livro sofre uma pequena melhora. Os contos começam a respeitar o leitor um pouco mais e somos apresentados a um Luiz Ruffato que, se seguisse nessa linha desde o começo do livro, seria bem mais feliz no resultado final de sua obra. E mesmo assim, o título não seria nem um pouco memorável.
Clarissa Bueno 25/03/2015minha estante
Estou lendo porque preciso, e terei que comentá-lo na faculdade.
Vou dizer que não gostei pela história não ter nem pé nem cabeça.
Ainda não terminei de ler, mas acho que não mudarei essa impressão. Estou na metade do livro, e honestamente não entendo como ganhou prêmios.
Quero só ver o que o professor dirá depois de saber meu ponto de vista.
Mas opinião (e gosto) é pessoal, não?


Vanessa 25/05/2015minha estante
Gostei do seu comentário! Também estou me perguntando como o autor conseguiu publicar esse livro, me perguntando como uma universidade pede para que leiamos isso... qual será o próximo passo? Analisar letras de funk? kkk....


Amâncio Siqueira 08/11/2015minha estante
Você vê um livro premiado e cultuado e pensa: esse deve valer meu tempo escasso, tem um selo de qualidade. Aí vem a decepção com um livro que não te diz absolutamente nada, vazio de qualquer significado. A cada dia me convenço mais se que os grandes prêmios são dados para os livros mais irrelevantes.




MatheusPetris 10/12/2023

Quando Pardo (2007) menciona um artigo publicado por Francisco Costa no Estado de S. Paulo, no qual afirma que, daqui alguns anos, o ano de 2001 provavelmente ficaria marcado como o ano de lançamento de Eles Eram Muito Cavalos, ela não chama atenção apenas para a dimensão do livro e para a trajetória de Luiz Ruffato — agora, um escritor profissionalizado, que vive disso —, mas, principalmente, destaca importância do romance para a literatura brasileira contemporânea. Se este livro editado e reeditado inúmeras vezes, traduzido em diversos idiomas, possibilitou que Ruffato viajasse por diversos continentes para discutir sua literatura, além de indicar seu impacto, nos lança a uma pergunta: por que um livro tão particular, um retrato de uma São Paulo ainda mais desvairada que a paulicéia, ecoou de modo universal? Talvez, uma possibilidade de resposta esteja no texto-manifesto de João Antonio intitulado corpo-a-corpo com a vida. Antonio (1975) afirma que o universal se localiza dentro do particular, isto é, que a forma de se alcançar o universal é partindo do recorte. Vejamos como isso é possível.

O “romance-mosaico” (PARDO, 2007, p. 165) de Ruffato retrata de forma caleidoscópica um único dia da cidade de São Paulo, uma terça-feira, 09 de maio, semana que se encerra com o dia das mães. Visando representar a multiplicidade, uma cidade tão plural quanto São Paulo, Ruffato estilhaça a cidade com 70 fragmentos, 70 contos — como alguns gostam de ler as partes do livro —, são múltiplas vozes que ecoam ao decorrer do livro, múltiplos tipos de narrador. Quando lançado, o livro foi catalogado como romance, entretanto, em outras edições essa tipificação se modificou, afinal, “o livro aparenta ser de contos não o é e o romance que parece ser também, para ele, não o é” (PARDO, 2007, p. 165). A estrutura do livro é muito particular, apesar de existir uma divisão em 70 partes — o que passarei a chamar de capítulo —, essas partes quase nunca representam continuidade, é como se tudo tivesse acontecendo quase ao mesmo tempo, de forma paralela. Pensemos, primeiro, na pluralidade linguística que essa miríade de histórias (e não só histórias) nos revela. O livro começa com um “cabeçalho”, a primeira parte que nos informa sobre o dia do ano e semana e, em seguida, apresenta a previsão do tempo. Há, inclusive, uma espécie de folheto, um folder com informações da gráfica que o teria impresso, uma oração a santo expedito. No final deste capítulo, o texto diz “Mande você também imprimir imediatamente após o pedido” (RUFFATO, 2013, p.58). O que indica uma provável forma da gráfica se aproveitar de pessoas crentes na realização de desejos por meio da fé, ou seja, uma faceta de uma cidade como São Paulo, e ao mesmo tempo uma relação com a própria ideia gráfica diretamente relacionado ao mercado editorial, afinal, o romance mesmo subverte a questão tipográfica do livro. Há diversas tipografias — que nem sempre indicam vozes diferentes, mas muitas vezes sim —, trechos em itálico, negrito, diagramações distintas, o livro enquanto objeto também traz à tona a São Paulo fragmentada, moderna e diversificada. Posteriormente, temos horóscopo, narrativas lineares, narrativas elípticas, uma mulher deixando recados na secretária eletrônica e revelando agruras de sua vida, vozes que se misturam dentro da própria narrativa, isto apenas para ficarmos em poucos exemplos. Tatiana Salem Levy (2003, p. 176) chama atenção para essas vozes: “Os fragmentos são como vozes que ecoam de diferentes origens, os pontos de vida são oscilantes, focados a cada momento em um diferente quadro, a uma distância maior ou menor”. E além. Os fragmentos perpassam um presente dessas personagens, embora muitos deles rememorem o passado, recapitulem a vida destas — implícita e explicitamente. Recortes tempo-espaciais, mas densos, carregados de toda uma vida.

O espaço de São Paulo também é variado, diverso, então, sua representação deve seguir essa ideia. O livro, como dito pelo próprio autor, tem a intenção de representar coletivos de pessoas inusuais para a história da literatura, isto é, marginalizados, por esse motivo, boa parte dos fragmentos diz respeito a pessoas em condições de pobreza e sofrimento. Mas não só. E isso contribui para o romance ser tão poderoso. Falemos por meio de exemplos. No capítulo 20, “Nós poderíamos ter sido grandes amigos”, o narrador em primeira pessoa relata a história de um homem de classe média alta, que se imagina amigo de um vizinho com quem apenas se cumprimentava no elevador. O capítulo todo é construído em cima de “se”. O narrador imagina o vizinho como melhor amigo e vai contando o que poderiam ter feitos juntos — ao mesmo tempo em que se revela uma pessoa infeliz —, um passado inexistente, porém, bruscamente, a narrativa muda: “Mas nós não nos conhecíamos” e, logo adiante, “Hoje soube que ele não vai mais voltar pra casa”, pois seu “o corpo foi encontrado hoje de manhã”. Um relato aparentemente banal nos conduz a um choque, o vizinho foi sequestrado e morto. Esse será o presente de dia das mães que a mãe do assassinado terá. Afinal, sabemos, o dia das mães se aproxima e vários capítulos abordam isso. Por exemplo, um ladrão de esquina em busca de dinheiro, planeja algum roubo para presentear sua mãe. No capítulo 23 há outros “se”, possibilidades. Neste capítulo, faxineiros limpam o sangue da calçada, pois aconteceram duas mortes em frente ao restaurante, “o vermelho escoou para a sarjeta um riozinho espumoso correu para a boca-de-lobo”. Algumas dessas possibilidades são justamente a miríade da paisagem paulistana. Se os clientes chegassem antes, teriam vistos operários limpando uma vidraça de um edifício; veriam operários batendo cartão ponto; ouviriam conversas amenas. Mas não. Parece, nesta São Paulo ecoada, conter o choque, a desgraça.

Concluímos, então, que a representação (tanto linguística quanto espacial) diversa de São Paulo quando recortada nos fragmentos, que representam os mais variados espaços, busca alcançar uma realidade, mas uma realidade diferente da mimética, pois o mundo e as formas literárias são outras. Embora alguns defendam que existe uma certa aleatoriedade nos capítulos (LEVY, 2003), desconfiamos disso e do autor. Sim, os capítulos se bastam por si mesmos, “valem isoladamente” (LEVY, 2003, p. 177), todavia, nos choques uns com os outros, na relação entre eles, as possibilidades se intensificam. Um exemplo bem claro disso são os capítulos 21 e 22, respectivamente, “ele)” e “(ela”, como o próprio título já sugere, eles se completam, podem ser uma unidade. Conforme avançamos, vamos nos lembrando das vozes, relacionando-as, “como se as vozes continuassem ecoando mesmo depois de pronunciadas” (Ibid., p.178), comparando os causos, mesmo que estejam tão distantes temporal e espacialmente, fazem parte de uma mesma São Paulo. Talvez a pergunta tenha sido respondida: Ruffato conseguiu alcançar o universal pelo mosaico de particulares, sua colagem fragmentada.
Karamaru 10/12/2023minha estante
Livraço


MatheusPetris 12/12/2023minha estante
Uma das melhores leituras do ano!




Ana Luisa Araujo 17/05/2018

Desconfortável de ler
Pra mim que sou mulher foi desconfortável e ruim mas, na verdade, péssimo de ler, tem coisas ruins e boas no livro. As ruins são maioria.
Modesto 07/06/2018minha estante
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Aline 02/08/2018minha estante
Eu também sou mulher, mas achei uma leitura muito agradável: às vezes desconfortável no conteúdo, por despertar uma coisa melancólica, mas confortável na inovação da forma. Enfim, só quero dizer que sua opinião sobre o livro não tem nada a ver com você ser mulher, afinal Elas Eram Muitas Mulheres, sabe??




Ramon Diego 16/02/2022

Como captar a atmosfera de uma cidade? É essa a pergunta que o livro de Luiz Ruffato tenta responder. O romance se baseia numa mistura de recortes de jornal, anúncios, narrativas de pessoas que, como flashes da movimentação de uma São Paulo em transe, surgem e desaparecem de forma quase instantânea.

Ruffato acerta demais em contar sobre São Paulo a partir do seu ritmo, mostrando a velocidade enquanto essência das relações sentimentais e profissionais. Velocidade que é cortada, também, por vezes, pelas contradições sociais e identitárias nos discursos e ações de seus habitantes. Livraço. Recomendo de verdade.
Karamaru 17/02/2022minha estante
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Fred 05/07/2009

São Paulo em 1 dia
Imagina perambular por São Paulo e registrar todas as impressões e histórias que ouvir. Foi isso que fez o mineiro Luiz Ruffato e o resultado está nesse livro excelente. Há contos, anúncios de jornal, trechos de cartas. Tudo é um reflexo do caos da maior cidade do país e dos milhões de "cavalos" que nela vivem.
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todearaujo 10/01/2010minha estante
Acrescento ainda: toda a ambientação da cidade é permeada com intensas descrições; detalhes impressionantes que transportam o leitor para o momento registrado pelo autor. O que mais gosto no livro é a possibilidade das múltiplas interpretações que cada segmento do livro tem, inclusive a famigerada página preta no fim.




andalm 07/02/2010

Frenético!
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melnoliteraverso 12/12/2023

Eles eram muitos cavalos
Peguei pra ler por causa da faculdade e achei o livro bem interessante. Não é um romance, e sim uma série de fragmentos que fazem com que paramos para refletir sobre a sociedade
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Eni Miranda 18/04/2012

Resenha de "Eles Eram Muitos Cavalos" no www.doseliteraria.com.br
http://www.doseliteraria.com.br/2011/09/eles-eram-muitos-cavalos.html
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Márcia Regina 01/09/2012

A falta de história pode ser a própria história?

Luiz Ruffato nos mostra que sim. Poesia, prosa literária, relatórios, textos jornalísticos, cinema, televisão, publicidade... Diferentes gêneros, tipos de discurso e vozes compõem um texto que retrata o redemoinho da cidade grande, o impacto da velocidade quotidiana que nos impede de perceber o que nos forma e o todo que somos. Nosso espelho está quebrado, grita o autor, e os pedaços são quase infinitos.

No transcorrer de toda a obra, vemos uma mescla de textos de forte lirismo (“O Neon vaga veloz sobre o asfalto irregular” - onde inclusive “Neon” adquire um sentido mítico ao ser escrito com inicial maiúscula) com listas, manchetes de jornais, classificados, etc. Dessa forma, o autor monta um retrato vivo e palpitante da cidade e da vida contemporânea, retrato que se torna ainda mais vivo na medida em que vários trechos são colagem, mais do que reescrita.

Reforçando essa ideia de retrato, vemos um cabeçalho identificando a obra temporal (9 de maio de 2000) e espacialmente (São Paulo). Mas, ainda antes do cabeçalho, temos o título, retirado (fragmento) de um poema de Cecília Meireles, cujas palavras direcionam a leitura, pois destacam a perda de memória ligada à falta de percepção. Não podemos lembrar o que não percebemos, e não podemos ser lembrados se somos incapazes de tocar, de atingir o outro, tão ausente e tão muro quanto nós.

As imagens são jogadas como flashes, perdem-se entre outras cenas, não permitem a personificação como indivíduo, como ente diferenciado do grupo, do todo que é a cidade.

Nesse sentido, o da angústia do não conseguir ser parte, mas também não conseguir não ser parte, é exemplificativo o texto da página 93. Atente-se para a expressão "parcial" constante no “título” e para o uso da letra minúscula na designação da cidade:

"45. Vista parcial da cidade
são paulo relâmpagos
(são paulo é o lá-fora? é o aqui-dentro?)”

Realidade e ficção mesclam-se, desemprego, miséria, esperança, sonhos e falta de perspectivas. Realidade crua com todas as suas nuances. A fragmentação também permite uma leitura não sequenciada. São pedaços autônomos (mas nem tanto quanto parecem em um primeiro momento) que apresentam textos curtos, mais ou menos intensos, mais ou menos complexos, não raro verdadeiros microcontos a serem decifrados pelo leitor, como pequenas brechas em muros de concreto.

A linguagem, ao se utilizar de diferentes linguagens, ao se fragmentar entre as vozes a que dá voz, também chama a atenção para a importância do questionamento, da relativização mesmo da cultura dita “oficial”. Até que ponto o ser humano deve almejar apenas o que os meios oficiais de conhecimento consideram “superior”? Somos múltiplos e torna-se urgente aprender a ver e compreender a amplitude da qual fazemos parte.

Fragmentar o texto é, de certa forma, reconstruir e reaproveitar seu sentido, mas, principalmente, é impedir o cerceamento, a limitação, o encarceramento da linguagem em uma ideologia ou visão de mundo.

E, assim, é uma forma de fugir do controle.
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Vanda 24/01/2013

uma resenha interessante

uma boa resenha sobre este livro pode ser encontrada aqui

http://amerika.revues.org/3507
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Dose Literária 20/02/2013

Visceral
O curioso título foi retirado do poema "Dos Cavalos da Inconfidência", de Cecília Meireles, e não poderia ser mais pertinente para descrever São Paulo, a cidade das luzes e escuridões do Brasil.
Confesso: foi bem complicado. A narrativa não segue os padrões convencionais e alterna entre poesia, prosa, texto, depoimento, conto, fluxo de consciência... São histórias que circulam entre o rico e o pobre, o confuso e a certeza da incerteza. Ninguém é poupado: das despirocadas da alta sociedade até o crime de uma batalhão de esfomeados; da conversa de um taxista nordestino boa praça à uma lista de livros contidos em determinada estante "intelectual e esotérica" paulistana ou ainda, a revolta de uma mulher traída disparada contra a secretária eletrônica da suposta amante.
Continue lendo... http://www.doseliteraria.com.br/2012/05/os-cavalos-viscerais-de-ruffato.html
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Toni 29/01/2014

A cidade romance
Vez ou outra, o "romance" Eles eram muitos cavalos aparece na crítica especializada assim mesmo, com a palavra referente ao gênero posta entre aspas. Difícil, com efeito, chamar ao romance romance, quando tão poucos elementos concorrem para semelhante classificação. Lembro-me da recusa de José Saramago em se referir à Viagem do elefante como um romance, por não haver nele homem que se apaixonasse por mulher, ou seus contrários, ou porque não houvesse "ingrediente que se costuma encontrar em um romance, como um conflito complicado ou um problema de família". Se a viagem cheia de episódios do elefante Salomão não era assunto que justificasse o título que a editora portuguesa insistiu atribuir-lhe, que dizer dos 70 episódios desconexos arregimentados pelo escritor mineiro, tão variados quanto são possíveis as linguagens, formas e pontos de vista narrativos?

O romance-entre-aspas de Luiz Ruffato é composto de minicontos transcorridos ao longo de uma terça-feira, 9 de maio de 2000, na cidade de São Paulo. No entanto, longe de deixar o leitor perdido entre múltiplas sequências de breves histórias anônimas, a versatilidade narrativa de Ruffato permite que cada episódio seja absorvido onivoramente, deglutido e misturado à sensibilidade de quem observa impune aos flagrantes. À medida que impõe uma reflexão sobre o agora metropolitano, Ruffato expõe o leitor a uma linguagem literária aglutinadora que é conto romance poesia ensaio jornal televisão anúncio lista carta peça de teatro etc, demonstrando o deslocamento para a fragmentação, o cruzamento da literatura com outras mídias e a multiplicidade de caminhos tomados pela literatura brasileira a partir da década de 80.

Essa estética fragmentária presente na forma e no conteúdo coloca "Eles eram muitos cavalos" no centro da complexa dialética que enlaça a realidade representada e a forma da representação. Daí advém, sem dúvida, seu maior trunfo e o motivo de sua aclamação pela crítica. Nas palavras de Flávio Carneiro (No pais do presente, 2003, p.71), "As vezes o miniconto é apenas um recorte de jornal, que, colocado ali, no romance, adquire -- pela mudança de contexto original -- a polissemia característica do texto literário, perdendo parte do seu valor de 'uso' e transformando-se, então, em signo estético, aberto à intervenção do leitor na criação de possíveis significados."

Dessa forma os episódios se sucedem entre o humor e a crítica social: ora se demoram, provocam náusea e revolta, ora são breves-muito-breves e deixam o leitor a desejar que a narrativa torne à moça que sonha, ao médico que se recusa a operar o assaltante de sua casa, ao casal que decide ir a uma casa de swing, à secretária eletrônica de uma amante descoberta. Mas ela nunca torna; e de cada personagem não sabemos mais os seus nomes ou sua origem, como adverte a epígrafe retirada ao "Romanceiro da inconfidência". Como pedaços de um complexo mosaico, os episódios de "Eles eram muitos cavalos" se encaixam idiossincraticamente: emendam-se para formar uma obra que não é só "romance", mas uma elaborada sinédoque da vida nas metrópoles, reino de infinitas possibilidades para a ficção.
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jota 24/11/2014

Muitos mesmo, uns sessenta e nove...
Eles Eram Muitos Cavalos é sobre a cidade de São Paulo e seus personagens - ou habitantes, alguns deles. Não é exatamente um romance no sentido tradicional da palavra, mas uma série de histórias curtas e textos que incluem até mesmo anúncios, orações, um cardápio de restaurante e outras coisas mais. Parece que tudo isso junto forma uma unidade. Mas também pode parecer que não, depende do leitor.

Algumas histórias - as que achei as melhores - são contadas com início, meio e fim, de modo tradicional etc. Não são tantas assim; digamos cerca de vinte dentre sessenta e nove textos. Outras, contadas (ou formatadas ou mesmo fragmentadas) à maneira de David Foster Wallace - foi o autor de Breves Entrevistas com Homens Hediondos que me veio à memória durante a leitura do livro de Ruffato - , sem pontuação e algumas vezes parecendo sem sentido mesmo, denotando experimentalismo de linguagem ou algo parecido, foram as que não me agradaram tanto assim, embora eu tenha de reconhecer que às vezes sejam curiosas. Mas podem acabar incomodando o leitor pela repetição do modelo, pelo jeito de escrever meio sem regras.

É claro que livros como este têm seus leitores fieis e entusiastas - além disso foi premiado, traduzido para várias línguas e já está na 11ª. edição, a que li - e esse jeito diferente de escrever um romance - ou um livro - tem a ver com a revolução ou renovação que James Joyce causou na literatura com seu Ulisses lá em 1904 e parece que não vai acabar nunca. Ou também pode ser que o livro não tenha nada a ver com isso, sabe-se lá. Que ele seja, como querem alguns leitores, pretensioso. Seria? Será?

Como não tinha lido nada de Ruffato até aqui, e tampouco sei muita coisa sobre o homem, não sei se ele se considera ou é considerado um discípulo de James - ou mesmo de DFW - e isso também não tem importância nenhuma eu pensar, mas essas coisas me vieram à cabeça neste momento, finalizando a resenha, melhor dizendo, minhas impressões sobre o livro.

Lido entre 22 e 24/11/2014.
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Enoque 15/05/2015

“Eles eram muitos cavalos, mas ninguém mais sabe os seus nomes, sua pelagem, sua origem...” (Cecília Meireles)

O título do livro foi tirado do poema "Dos Cavalos da Inconfidência", de Cecília Meireles e diz exatamente o que Ruffato expõe nessa coletânea de vários contos relacionados ao cotidiano da cidade de São Paulo. O autor usa de vários artifícios literários e poéticos para tentar reproduzir o dia a dia na maior metrópole do país. Em cada conto, os personagens são diferentes, muitas vezes têm nomes mas, mesmo assim, não deixam de ser generalizados. Os fatos descritos parecem acontecer a todo momento, e os textos, muitas vezes, com formas diferentes e com linguagem coloquial, fazem a leitura fluir muito rápido. Esta maneira de escrever, na minha opinião, tenta reproduzir a correria das pessoas que vivem nessa cidade e que, muitas vezes, se passam despercebidas em diversas ocasiões ou vivem no "piloto automático".

Nos contos, Luiz faz várias críticas e tenta distribuí-las em classes sociais diferentes. Mesmo as condições sendo favoráveis ou adversas, a generalização é a mesma para todos os personagens, reificando as relações humanas. O autor critica, por exemplo: a relação marido e mulher, a política, a corrupção, o caos nos transportes, a violência, a quantidade de informações a que somos expostos o tempo todo, o futebol, a internet, dentre outros assuntos evidentes ou não, mas conhecidos de todos que vivem aqui em SP. O autor não coloca sua opinião em relação às atitudes das personagens e, literalmente, essas não aparecem diretamente. Entretanto, fica muito claro nas entrelinhas uma estereotipação de vários personagens.

Eu li diversas críticas relacionadas à este livro, no entanto, discordo de várias delas. Muitos diziam "Essa é um livro sem pé nem cabeça" ou "Ele escreve qualquer coisa e coloca nos contos, como por exemplo, um anúncio de classificados". Primeiramente, devemos ter ciência de que este é um livro de contos e não um romance ou uma novela, sendo assim, as histórias não se dão de forma contínua e, em vários momentos, o autor não escreve o final da história e deixa este para a imaginação do leitor deduzir. Achei esse recurso muito interessante e, com certeza, me fez divagar por todo o texto imaginando situações diferentes. Além disso, Ruffato usa formas diferentes como cartas, classificados, estantes de livros para explicitar quantas vezes somos bombardeados de informações no nosso dia a dia e são coisas tão banais que não nos damos conta.

Apesar das várias críticas que li, achei o livro muito bom de se ler e de compreensão mediana. As histórias diferentes nos fazem ter uma grande empatia com as personagens, mesmo elas aparecendo de formas generalizadas. O modo de escrever, sem vírgulas e sem forma rígida, dá aos textos um teor poético e causam muitas sensações em quem está lendo. Sem dúvidas é um livro que incomoda e muito provocativo, indicado para quem quer refletir sobre as situações do cotidiano e também conhecer mais o que acontece nas ruas e nas casas de São Paulo.

site: virazoi.blogspot.com.br
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