Sô 04/04/2018Um daqueles livros para devorar e que fica com você por um tempo após o término da leitura. Apesar de parecer que seria sobre a investigação da morte de Lydia, uma garota de 16 anos encontrada morta num lago, o livro não é sobre ela. É sobre a sua família, mais especificamente, sobre seus pais, as expectativas deles e principalmente, sobre a falta de diálogo que permeia todos os envolvidos. A morte dela é a consequência direta disso tudo.
Lydia é a filha preferida de Marilyn e James. Ele é descendente de chineses que emigraram aos EUA e ela é a típica americana branca. A história de Lydia se passa na década de 1970, mas também teremos acesso à história dos pais que se inicia duas décadas antes. James, apesar de ter nascido nos EUA, nunca foi aceito pelos seus compatriotas e anseia em se integrar. Marilyn por sua vez, odeia o papel que esperam que ela desempenhe como mulher. Ela quer ser médica e fugir do futuro previsível como dona de casa, só que durante uma de suas aulas na faculdade acaba conhecendo James, seu professor. Eles se apaixonam e ela engravida. Resolvem se casar, apesar dos protestos da mãe de Marilyn que afirma que “isso não é certo”. Se hoje em dia ainda existe preconceito racial, imagina naquela época num país como os EUA?
Marilyn precisa deixar a faculdade devido ao barrigão e já engata uma segunda gravidez logo em seguida. É aí que a sua frustração começa. Ela vai transferir à Lydia tudo o que ela queria para si mesma, mas que não pôde conquistar. Já James enxerga nos olhos azuis da filha a oportunidade que ele nunca teve. Só que nada sai como o planejado, porque afinal de contas, Lydia tem a sua personalidade e seus próprios anseios. É interessante acompanhar também como cada um interpreta o que é ser diferente. Enquanto para James é uma coisa terrível, para Marilyn é uma coisa maravilhosa, ou seja, cada um vai ter uma visão de um determinado tema de acordo com o que vivenciou.
James e Marilyn possuem outros dois filhos, Nath que é mais velho e acabou de ser aceito em Harvard e Hannah, a mais nova que nascerá num momento delicado do casal. Hannah é completamente ignorada por todos, mas muito observadora e é justamente ela que sabe muito mais sobre a morte da irmã.
Conforme você avança na leitura vai percebendo como seria fácil resolver esses problemas todos com um simples ato chamado diálogo. Só que, vindo de uma família asiática como é o meu caso, sei o quanto esse simples ato é complexo. Essa questão de favoritismo descarado também é muito comum, gerando muita pressão para o favorito, mas também ao que vive à margem, como é o caso de Hannah.
O final é sujeito a interpretação. Uns podem concluir que foi suicídio, outros uma tentativa de mudar o estado das coisas. Uma tentativa deturpada, que só faz sentido na cabeça de quem está desesperado por mudança. Pra mim foi a segunda opção, o que torna tudo muito mais trágico ainda.