Jeff.Rodrigues 28/02/2018Resenha publicada no Leitor Compulsivo.com.brSomos fascinados pelo desconhecido. A busca em desvendar os mistérios em torno de tudo aquilo que não conseguimos explicar racionalmente vem movendo o homem século após século. Seja escondido em porões, com medo de perseguição e punição, ou em gigantes laboratórios com alta tecnologia, a corrida para conhecer “as verdades do mundo” impulsiona os seres humanos. Mas qual o limite de tudo isso? Quais os perigos podem se esconder por trás dessas verdades? Conhecer o desconhecido é fundamental ou pode trazer riscos à própria sobrevivência?
Em linhas muito gerais, essa é a temática que permeia O Terceiro Testamento, uma ficção científica com ares de apocalipse que facilmente embaralha a cabeça dos leitores em uma trama alucinante. Mas, antes de mais nada preciso deixar claro que este é um livro extremamente difícil de resenhar. A história é complexa e por mais que se escreva, acho impossível conseguir dar a dimensão exata do quão boa ela é. O autor construiu uma narrativa em que os eventos vão se sucedendo de forma frenética com uma maquiavélica intenção de nos confundir. Somos tragados na espiral de alucinações dos personagens e nos perdemos na busca por respostas junto ao protagonista.
Pelas páginas de O Terceiro Testamento, acompanhamos um desequilíbrio total na ordem mundial causado por visões e alucinações de fatos e eras passados, mas ninguém sabe explicar ao certo o que pode estar acontecendo. Os incidentes envolvem qualquer pessoa, a qualquer momento e em qualquer lugar do globo. Eventos assim sempre causam histeria, e diversos suicídios e assassinatos em massa são registrados. Tudo isso, Christopher Galt nos apresenta em capítulos curtos espalhados pelo livro enquanto o protagonista John Macbeth (sugestivo sobrenome) dedica-se a tentar entender quais as origens desse surto. Para completar a trama, há um projeto envolvendo inteligência artificial sendo desenvolvido.
Com essa combinação de ingredientes, O Terceiro Testamento mergulha numa investigação sobre as causas das alucinações à medida que elas só pioram. E é impossível falar mais do que isso, tamanha a complexidade do desenrolar das ações. Uma complexidade que pode afastar muitos leitores porque a quantidade de termos científicos, principalmente relacionados com a física, é absurda. Todas as teorias científicas aplicáveis à trama são usadas com detalhamentos que tiram nossa atenção por se tratarem de assuntos muito específicos. Portanto, ao mesmo tempo que nos envolve a obra também tem seus pontos de tédio em que o interesse é facilmente perdido.
Característica interessante, os personagens não são bem desenvolvidos e, neste caso, isso não é um ponto negativo. A superficialidade com que a galeria de tipos humanos é tratada na obra é plenamente justificável quando levamos o soco na cara da sequência final. Absolutamente nenhum personagem, por mais tímida que seja sua participação, está ali apenas para encher páginas. Tudo é muito bem conectado para conduzir ao ápice do final, que pega totalmente os leitores de surpresa. A obra constrói um mistério que poderia tranquilamente levá-la ao fracasso absoluto se o desfecho não fosse inteligente o suficiente para satisfazer os leitores. Nesse quesito, Christopher Galt acertou em cheio.
O Terceiro Testamento provavelmente vai dividir opiniões entre os que vão conseguir avançar até o final e os que devem abandonar a obra pela metade. Aos que se aventurarem na leitura, aconselho a não desistir e mergulhar de cabeça porque vocês não vão se arrepender.
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