GilbertoOrtegaJr 09/07/2016Coração tão branco – Javier MaríasCoração tão branco fazia parte de uma grande porcentagem de livros que tenho na estante para ler, mas acabo me esquivando da leitura por suspeitar que vou gostar do livro. Na primeira leitura o que eu acabei de escrever parece não ter sentido, mas vou explicar de forma mais clara; acabo evitando ler de uma vez todos os livros que eu suspeito que vou gostar, pelo simples medo de depois só me sobrar para ler livros medianos ou fracos. Mas como, vergonhosamente afirmo, eu ganhei este livro a mais de um ano, já se fazia mais do que necessário que eu o lesse, então nada melhor do que ler ele para tirar as dúvidas.
Juan e Luísa são intérpretes e tradutores, e recém-casados, ambos se conheceram trabalhando para organismos internacionais, em um evento com dois importantes líderes mundiais nos anos 80. Desde que se casou Juan é perseguido por um pressentimento de que algum desastre acontecerá, e durante sua viagem de núpcias, em Havana, acaba acontecendo um pequeno incidente, onde ele é confundido com outra pessoa, ao mesmo tempo em que sua mulher está doente no quarto de hotel.
De forma entrelaçada a história de Juan e Luísa, está o fato que que Juan acaba conhecendo a história de sua tia Teresa, que é irmã da mãe de Juan, e primeira esposa de Ranz, o pai de Juan, que se suicidou logo após voltar da sua lua de mel em Havana, sendo que o motivo pelo qual ela fez isso é um mistério a grande maioria dos personagens. Temos também a história de uma amiga de Juan, que se encontra com homens através de uma agencia de encontro, e quando Juan passa uma temporada em sua casa ele acaba a ajudando a conhecer um misterioso pretendente.
Coração tão branco não é de forma alguma um livro que flui de forma rápida e leve, ao contrário ele é profundamente equilibrado, com um tom descritivo e com uma grande gama de reflexões, mas isso não quer dizer que ele seja chato, ao contrário isso só é uma mostra de que dentro do livro e da trama ele é substancioso, rende assuntos para se pensar. Ao mesmo tempo em que a narrativa é descritiva e densa aquilo que não é narrado também é tão denso quanto, o não dito, não somente para os personagens como também para nós leitores, é a comichão que nos faz criar teorias ou ir buscando juntar tantas pistas quanto Juan sobre o que pode ter acontecido para que sua tia se se suicidasse.
Uma imagem que notei em Coração tão branco, e que eu acreditava que viria em romances posteriores do Javier Marías, é o protagonista como uma espécie de expectador da vida de terceiros, assim como é leitor é um tipo de expectador da vida dos personagens. Juan e Luísa, ao mesmo tempo que são expectadores, também são integrantes da vida de quem eles observam, deixando assim claro que ninguém é só expectador.
Apesar de em alguns momentos ser um livro maçante e lento, em geral minha experiência com Coração tão branco, que foi meu primeiro contado com as obras de Javier Marías, foi muito bom, é um livro para se degustar aos poucos e ir pensando em tudo aquilo que é narrado, não me surpreendeu quando ao acabar a leitura este livro parar entre meus favoritos, e sua força narrativa reside não só ao criar uma trama, como ao retratar a vida em suas várias nuances, de forma bela e envolvente.
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