livrosepixels 20/04/2018Um infinito de possibilidades de explorar esse universoÉ muito gratificante para eu poder dizer “uau, essa trilogia foi o primeiro contato com a autora, mas já entrou para os favoritos”. De fato, Firebird se mostrou uma trama muito bacana e envolvente ao longo de seus três livros, e se antes de conhece-la eu julgava como mais uma história jovem romântica, agora posso dizer que tenho uma opinião totalmente diferente. Tem romance sim, mas tem aventura, tem suspense, tem mistério e a boa e velha ciência no meio. Todos os elementos narrativos que eu gosto estão ali, e todos são bem aproveitados.
A escrita de Claudia Gray neste terceiro volume se manteve fiel aos dois anteriores: fluida, inteligente e divertida. Eu me senti muito preso a história em grande parte, e confesso que havia finais de capítulos que tornavam a leitura impossível de adiar. A autora soube aproveitar bem a narrativa, equilibrando ela com momentos dramáticos, científicos e reflexivos, o que ao meu ver não é algo tão simples de se fazer. Na verdade, a mente da autora é muito criativa.
“Os Firebirds podem parecer medalhões futuristas supercomplicados, mas na verdade, são as criações científicas mais poderosas já criadas desde a bomba atômica.”
Marguerite enfrentou grandes obstáculos desde que foi envolvida na conspiração da Tríade, e agora que é parte dela não pode simplesmente recuar. Muitas de suas ações nas diferentes dimensões por onde passou modificaram a vida de suas outras versões, e ela tem noção de que muitas dessas escolhas foram erradas, impulsivas e invasivas. Porém, gostei de ver que a personagem, mesmo quando batia um pequeno desespero do tipo “não vou conseguir sair dessa”, logo se recuperava e encarava a realidade, assumia os seus erros e acertos e buscava formas de compensar o que tinha feito de errado. É uma personagem forte, mas não daquelas “resolve-tudo”. Pelo contrário, ela conhece suas limitações e aceita ser quem ela é.
Gostei bastante também desse livro pelo fato de ele dar mais “voz” aos pais da Marguerite, que vão ter uma participação maior, além também de ele responder várias perguntas que tinham ficado em aberto dentro da trilogia, com por exemplo, de que forma funciona os Firebirds. Desde o começo é dito que eles viajam por dimensões, mas como eles fazem isso? Bom, é aqui nesse livro que vem as respostas científicas, mas de uma forma tão simples que qualquer pessoa que não está familiarizada com a ciência consegue compreender.
“Nunca pensei nesses termos antes, de lealdade. Se eu pudesse proteger somente uma dimensão, não deveria ser a que eu chamo de casa?”
Outro ponto positivo também é que o personagem Paul agora teve uma importância maior dentro da história, ainda que apareça menos que a protagonista. Aqui ele está lidando com o dilema dos seus vários “eus” presos dentro de sua cabeça. Desde que Marguerite reuniu seus pedaços fragmentados, Paul tem sido atormentado por pequenas farpas de suas versões dimensionais, sendo que a maioria delas eram de Pauls do mal. Além disso, uma das teorias a qual Paul se agarrava desde o primeiro livro é derrubada no segundo, e isso coloca em jogo o seu relacionamento com a garota. Como ele pode ficar com ela se, cientificamente falando, o destino não existe?
Foi interessante ver o personagem tendo esse conflito interno, já que para ele tudo tinha uma explicação matemática, inclusive o amor, mas quando essa explicação falha, não sabe como agir. É como se um brinquedo perdesse sua bateria: sem ela, ele não funciona. Digamos que na nossa vida temos muito disso, nos apegamos a pensamentos ou conclusões “irrevogáveis”, mas quando elas se mostram erradas, ou passíveis de falhas, muitas vezes perdemos o chão, como se esquecêssemos do que somos.
“Saber mais sobre outra versão de você mesmo, e sobre todas as opções de pessoas que você poderia se tornar sem perder sua essência… É intoxicante.”
Quando terminei o livro, fiquei refletindo sobre a história, e de certa forma não sinto “raiva ou rancor” da Tríade. Na verdade, apesar do plano deles ser algo ruim e condenável, a motivação por trás dele era sincera e verdadeira, uma busca por amor, por afeto e, acima de tudo, por princípios morais. Qualquer pessoa diante daquela situação, e tendo somente aquelas alternativas, certamente faria aquilo (ou tentaria). Arrisco dizer que se fosse possível para a Tríade realizar o objetivo sem destruir vários universos, a Marguerite teria ajudado sem pensar duas vezes.
Apesar de tudo, a história não levou cinco estrelas por dois pequenos detalhes: o final achei um pouco atropelado, poderia ter sido um pouco mais explorado, eu não me importaria, estava num ritmo muito bom. E também que algumas das dimensões que a Marguerite passa não agregaram muita coisa para a história, então talvez a autora poderia ter pulado elas. Não é nada que prejudique a trama, apenas eu realmente não captei nenhuma “mensagem” ou “pista” que justificasse o motivo da importância delas para a trama toda.
“O nosso futuro não é tão seguro quanto pensamos e não está descansando nas mãos do destino. Ele precisa ser polido da pedra, escavado da lama, e construído lentamente, um dia confuso de cada vez.”
É complicado se despedir de uma trilogia tão bacana e tão bem escrita como foi a Firebird. Mas fico feliz em saber que ela se tornou uma das minhas preferidas e que, quando possível, farei uma releitura. Claudia Gray cria mundos incríveis, com personagens muito bem desenvolvidos, carismáticos, além de dar um toque de realidade muito crível e sincero.
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http://resenhandosonhos.com/um-milhao-de-mundos-com-voce-claudia-gray/