PorEssasPáginas 01/09/2017
Resenha: Até que a culpa nos separe - Por Essas Páginas
Já conhecia Liane Moriarty há algum tempo, quando li o ótimo O Segredo do Meu Marido, por isso achei maravilhoso quando a Intrínseca enviou para nós dois títulos: a nova edição de Pequenas Grandes Mentiras e o lançamento Até que a culpa nos separe. Pode parecer diferente, mas preferi começar pelo segundo, ainda não li o livro mais famoso da autora (calma, ele será o próximo). Mas é que Até que a culpa nos separe me deixou bastante curiosa e, de fato, é um livro com o toque da autora, dramas de vidas, de casais, de mulheres, porém, é mais que isso, a obra possui também uma pitada de suspense deliciosa – outro toque da autora.
Tudo começa com um churrasco. Três casais – com três crianças, sendo que um dos casais não tem filhos e isso é importante para a trama – se reúnem para um churrasco no jardim, em uma bela tarde de domingo. Porém, algo terrível acontece. Algo que muda a vida de todos eles para sempre.
Narrado em capítulos que ocorrem antes do churrasco e depois do churrasco, a história vai fisgando o leitor aos poucos. No começo, conhecemos os personagens, especialmente Erika e Clementine, duas amigas de infância que têm um relacionamento extremamente conturbado e repleto de palavras não ditas; além disso, elas são o oposto da outra e aos poucos vamos percebendo como, em vários momentos, as duas chegam a invejar a vida da outra. Mas aí você pensa: que espécie de amizade é essa? Existem todo tipo de amizades, e algumas amizades, como essa, também são amizades e também são importantes. Há, no livro, um capítulo belíssimo entre as duas, no qual Clementine compara sua amizade com Erika à nota lobo em seu violoncelo, uma nota dissonante.
“Talvez Erika fosse sua nota lobo. Talvez algo sutil porém essencial tivesse faltado na vida de Clementine sem ela: certa riqueza, certa profundidade.” Página 380
A obra tem um ritmo lento, porém crescente, até que – BUM – temos uma queda vertiginosa, no sentido bom da palavra, como em uma montanha russa. O começo parece morno, mas talvez isso se deva apenas ao fato de que ainda estamos nos acostumando e nos apegando aos personagens. A partir de algum momento ficamos íntimos deles, na ponta da cadeira tentando adivinhar que acontecimento terrível ocorreu no churrasco e causou toda aquela tristeza, culpa e separação.
Todos os personagens são riquíssimos, até mesmo os que aparecem pouco, e Liane Moriarty traz camadas complexas para cada um deles. Você sente que aquelas são pessoas reais, poderiam representar qualquer eu; impossível não se identificar em algum nível. A escrita é apaixonante e, mesmo quando você adivinha (ou descobre) o que aconteceu no churrasco, o livro não perde o brilho, pelo contrário, torna-se ainda mais consistente e você se vê torcendo para que aquelas pessoas consigam superar a mudança terrível e repentina em suas vidas comuns.
A edição é simples, porém competente. Não gostei muito da capa, achei que poderia ser mais elaborada, apesar de fazer sentido em relação à história. Mas, é como dizem, não julguem um livro pela capa, e esse é um belo exemplo, trata-se de uma leitura enriquecedora e maravilhosa. Liane Moriarty é daquelas autoras que conseguem resgatar histórias extraordinárias de vidas e pessoas extremamente comuns. Vale a pena.
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