spoiler visualizar.Igor 29/05/2021
Terminei a leitura mais cedo, mas precisei de algumas horas para me recompor e tentar escrever alguma coisa parecida com uma resenha para Oathbringer. Mas levando em conta o fato de que, se você chegou até esse livro, provavelmente gosta o suficiente da escrita do Brandon Sanderson, não abordarei nenhum aspecto técnico (até porque esse livro é impecável).
Falarei um pouco então desse elenco de personagens magníficos que o autor criou e que o leitor vem acompanhando desde The Way of Kings. Atenção para alguns spoilers pesados e para alguns termos em inglês (até que saia uma tradução brasileira oficial, manterei os termos originais).
No primeiro livro, a história foca principalmente em Kaladin. Filho de cirurgião, soldado, escravo, carregador de ponte, Windrunner; acompanhamos sua luta para se reerguer sobre uma vida de traições e injustiças. Ele começa literalmente destruído e aos poucos vai catando os pedaços até se aceitar e se dar uma outra chance, em um processo que começa oficialmente no final de The Way of Kings, e chega ao seu ápice no desfecho de Words of Radiance, com sua batalha contra Szeth no meio das Everstorm e Highstorm ? de tirar o fôlego, diga-se de passagem. Mas, vem Oathbringer, e vemos finalmente Kaladin refletindo sobre suas vidas, como ele mesmo diz, e a própria natureza do que é justiça e do que é certo.
Não é uma discussão incomum em histórias de heróis, mas aqui é abordado, ora com a sutileza de uma brisa ora com a violência de uma tempestade. Kaladin conhece a injustiça como ninguém, e entende, com todo o seu ser, a luta dos parshmen, escravizados por milênios. Essa compreensão, e o conflito com aqueles que ele jurou proteger, chega a um resultado de partir o coração na batalha de Kholinar, isso quase o destrói. Não creio que ele se recupera totalmente até o fim do livro, mas ele mais uma vez vive e se levanta, protagonizando uma incrível batalha, enfrentando seis Fused ao mesmo tempo em que resolve de vez sua dívida com Amaram. Quase todos, no confronto final, estavam atordoados com tudo o que estava acontecendo para perceberem a magnitude desse feito, mas pelo que o autor construiu do universo Stormlight, essa batalha seria praticamente impossível para qualquer um que não fosse um Herald e provavelmente terá repercussões no futuro do nosso bridgeboy.
Enquanto Kaladin teve destaque no primeiro livro, Shallan é praticamente dona de Words of Radiance, seu personagem crescendo bastante em importância, ao mesmo tempo em que ela se quebra cada vez mais. Tantas personalidades, tantas mentiras, tudo como uma forma de escapar da dor de seu passado. Boa parte de suas lutas em Oathbringer são para manter a própria sanidade e encontrar sua identidade, enfrentar sua dor e se aceitar. Não falarei muito da Shallan porque ela é muito complexa (e eu precisaria de mais espaço e reflexão) e seu personagem ainda está dando pequenos mas significativos passos em direção uma direção bem gratificante.
Agora temos o foco de Oathbringer, que não poderia ser outro além de Dalinar Kholin. A vida do Blackthorn foi banhada em sangue e sofrimento, tanto dele quanto de seus inimigos. Tanta violência e morte soterraram um homem bom, transformando-o em um animal. A tragédia com Evi foi o último golpe necessário para destruir Dalinar, mas em um esforço supremo, ele decidiu mudar. Não foi e nem está sendo fácil para o antigo Blackthorn, muito pelo contrário. Seu passado o perseguiu ao ponto dele, desesperadamente, procurar apagar a própria memória, o que não durou muito tempo.
Agora, Bondsmith do Stormfather, tentando liderar uma coalisão para salvar o mundo, toda a dor que ele havia misericordiosamente esquecido volta com tudo e quase causa uma tragédia maior ainda. Mas ele aceita a dor que causou, que sofreu, as mortes que sua vida causou e se ergue, em busca de fazer melhor, de ser uma pessoa melhor. Como ele mesmo diz, o passo mais importante que uma pessoa pode tomar é sempre o próximo passo.
Creio que uma temática comum nos livros do Stormlight Archive seja a dor do passado. Aceitar os erros, as tragédias, os machucados de toda uma vida, e viver, não controlado por essas coisas, mas sim apesar delas, está sendo a verdadeira jornada desses homens e mulheres tão magníficos.
Acabei divagando e o texto se estendeu muito, mas não posso finalizar isso aqui sem falar dos nossos outros personagens principais, ainda que brevemente. Todo o pessoal da Bridge Four recebe um belo e ?radiante? desenvolvimento: Teft, lutando com seu problemas com drogas (muito bem retratado); Rock, com sua ainda misteriosa história, mas agora com a família e um feito totalmente inesperado no fim do livro; Skar e Drehy, melhores guardas costas; Lopen, sério concorrente ao título de personagem mais exuberante desses livros e basicamente meu favorito; Lyn, Hobber e Sigzil, cada vez mais fascinantes... São tantos, mas cada um conseguindo seu momento de brilhar, meio que literalmente. E sobre o Moash, mesmo entendendo relutantemente seu lado, só direi que, com o perdão da palavra, esse filho da puta vai fazer muita desgraça ainda, tenho certeza.
Temos então Adolin e Navani, que cresceram muito ao longo dos livros. Como praticamente as únicas pessoas normais no meio de tantos deuses e semi-deuses, os pontos de vista deles são fascinantemente bem trabalhados, e trazendo boas risadas e uma bela quantidade de momentos incríveis! Creio que acabarei dando mais atenção aos dois futuramente.
Renarin provou ser muito mais do que aparentava, para o bem e para o mal. Mas o cara tímido e desajeitado teve seu momento de ser incrível.
Szeth e Lift - não sei exatamente porque - dão uma vibe enorme de Batman e Robin, especialmente as versões do Frank Miller. A dinâmica dos dois é, no mínimo, fantástica, e se colocarmos no meio a alegre e sanguinolenta espada do agora Skybreaker e o pacifista spren da Lift, Wyndle, temos algumas das situações mais absurdas e divertidas do livro. Estou torcendo muito para ver mais deles juntos.
Jasnah, mais uma vez apareceu pouco, mas cada aparição foi fantástica! Sério, fiquei de boca aberta lendo o que ela fazia na batalha de Thaylen. Ela foi, realmente, dona daquilo tudo, e mais do que mereceu ser a capa desse livro.
Falar de todos os personagens que o autor criou seria dificílimo, especialmente porque todos são, de alguma forma, importantes para história. Simplesmente não há pessoas desnecessárias aqui: se alguém aparece, mesmo que seja em duas ou três páginas, basta aguardar um pouco que seu impacto na história vai aparecer, e isso é uma das coisas que mais gosto nessa saga. Isso, e o Wit, mas não tenho muito que escrever sobre ele, apesar de ter minhas suspeitas sobre sua natureza. De todo jeito, ele é o campeão dessa competição fictícia, sendo coroado meu personagem favorito (desculpa Lopen, na próxima você ganha).