marisof 02/09/2023
?Vivo me perdendo de vista?
Esse livro aborda reflexões sobre liberdade, vida, morte,
imediatismo e, sobretudo, sobre dualidade. É uma constante batalha entre Clarices em relação à esperança do fim de sua melancolia, sobre seu processo de escrita e sobre o poder que um escritor tem de virar Deus e dar a vida aos seus personagens: ?AUTOR - Eu e Ângela somos o meu diálogo interior - eu converso comigo mesmo. estou cansado de pensar as mesmas coisas.?
?Tenho que ter paciência para não me perder dentro de mim: vivo me perdendo de vista. Preciso de paciência porque são vários caminhos, inclusive o fatal beco sem saída.?
?Que esforço eu faço para ser eu mesma.?
?Mais que tudo, me busco no meu grande vazio.?
?Obcecado pelo desejo de ser feliz eu perdi minha vida.?
Ângela não é a mesma pessoa que o autor, mas uma extensão dele, bem como Clarice-escritora não é Deus, mas uma extensão desse divino.
Ângela, diferentemente do autor, é inconsciente de si mesma, de sua falsidade existencial, é livre pois não tem conhecimento de si, ao passo que o autor é aprisionado em si próprio e precisa criar Ângela pra não se auto consumir; Clarice vê o autor como seu espelho, como um apêndice aprisionado de si mesmo, e Deus, por sua, vez criou tudo a partir de sua luz interna e deixou que seus sopros tomassem as rédeas.
Ao final da obra sabemos que o medo de Clarice de se perder de vista foi confirmado; após todo um livro de procura, revela-se a impossibilidade de se encontrar totalmente, pois que é evidente a inevitabilidade de precisar desvendar-se durante toda a vida - se não existe uma constante procura de si, é porque a vida acabou: o sopro de vida foi interrompido por uma guilhotina, e essa guilhotina seria Deus.