Annah12 28/10/2023
Trigésima primeira leitura...
"Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida."
Clarice Lispector, o evento literário mais fascinante do século 21...
Ninguém soa como ela, ninguém age como ela, e ninguém da tanto sentido aos nossos pensamentos caóticos como ela.
O ritmo da vida dolorosa e cheia de dúvidas emerge de suas páginas, a compreensão que a obra provoca no mais ínfimo de nossa alma quebrada é constantemente surreal.
Clarice conversa com todos, e querendo ou não, todos temos um pouco Clarice habitando em nós.
Uma das linguagens mais esplêndidas já usadas na literatura, capaz de lhe deixar suspirando e lendo uma única frase em forma de incógnita por horas seguidas.
Acho que esse é seu propósito, e seu discurso trás até nós a certeza de que não estamos sozinhos, de que algumas pessoas pensam como nós afinal das contas.
"Estou cheio de recordações e tudo o que já é passado tem um toque de melancolia dolorida."
Suas palavras confortam, nos fazem viajar a um novo lugar na mente, um que nos faz questionar tudo e que sabe do grande potencial de superação que temos. Hipóteses se criam, e se enlaçam em questões como: "E se eu tivesse feito diferente?". As frases suspiram, os sentimentos afloram, lágrimas caem. Num mundo onde o vazio tem se alastrado, ela mostra a verdade nua e crua, e tenta demonstrar as emoções mais evasivas da forma mais comum possível.
Clarice pode ter partido, mas seu legado foi registrado e permanece vivo por meio dessas páginas.
Quem eu fui? Quem eu sou? Quem eu serei?
Não importa muito, desde que eu me divirta no processo, desde que eu me perdoe pelos meus erros, desde que eu viva meu presente e aceite meu passado, e desde que eu me ame como se eu fosse a coisa mais preciosa e rara que exista nesse mundo. Afinal, um dia, assim como Ângela e Clarice, partirei. O melhor que posso fazer, assim como elas, é não temer a chegada do mesmo, e sim aproveitar até que ele venha a tona.
"Em um sopro de vida, fala-se muito de morte e, mais do que tudo, de vida."