Gramatura Alta 27/07/2017
Ler O SEGREDO DOS CORPOS me tirou de uma ressaca literária daquelas... Nessa obra, acompanhamos a trajetória do renomado patologista e perito aposentado, Vincent Di Maio, que trabalhou por anos como médico legista, chegando a fazer mais de 9 mil necrópsias. Di Maio foi a peça chave de várias investigações criminais e julgamentos muito importantes das últimas décadas, tendo recebido premiações e ajudando a fazer justiça em vários crimes com seu trabalho acurado.
O SEGREDO DOS CORPOS não é indicado para menores de 18 anos por possuir conteúdos bastante violentos. Nele, acompanhamos casos que envolvem mortes de bebês, crianças e outras pessoas inocentes, o que pode despertar certa revolta no leitor, ainda mais quando o desfecho dos julgamentos não saem como o esperado. Diferente do que muitos imaginam, o livro não é tão focado nos procedimentos realizados em autópsias, e, sim, na importância de um trabalho bem feito por legistas e outros profissionais responsáveis, que terão papel determinante na solução de crimes.
Inicialmente, o autor nos conta sobre sua vida: sua infância, a família, a influência de um pai médico (muito renomado em sua época), como foi cursar Medicina, o que o levou a escolher a patologia forense e como construiu sua própria carreira. Logo após, Vincent começa a narrar diversos casos polêmicos para nós leitores: assassinatos, mortes suspeitas de um número impressionante de crianças em um hospital, crimes envolvendo pessoas famosas, injustiças cometidas por erros de investigação, conflitos raciais, etc.
O autor nos apresenta casos criminosos em que o trabalho dos médicos-legistas foi decisivo no julgamento dos suspeitos. Ao longo da leitura, é evidenciada a importância de um trabalho meticuloso para conclusões de casos, pois: as afirmações de um legista podem inocentar ou incriminar suspeitos, uma constatação equivocada pode colocar a pessoa errada atrás das grades ou no corredor da morte e é essencial a imparcialidade e honestidade ao relatar as descobertas de uma necropsia. Um legista tem a função de fazer seu trabalho da melhor forma possível e expor tudo com veracidade, sem se deixar influenciar por opiniões públicas, familiares da vítima ou advogados de defesa; porque as outras pessoas, durante investigações e julgamentos, deixam seus sentimentos influenciarem suas opiniões e atitudes, o que não é aceitável no trabalho de um perito.
Médicos legistas buscam identificar verdades que a morte deixa para trás, como fragmentos de bala, pedaços de ossos e lascas de pele, a fim de transformá-los em justiça; no entanto, são necessárias pessoas confiáveis para realizarem essas interpretações da ciência e ajudarem em investigações da forma correta.
Vincent Di Maio expõe suas opiniões criticamente (numa linguagem mais informal em alguns trechos, com direito a palavras chulas), acerca de temas variados: família, morte, vida, sentimentos, justiça, crimes... E essas opiniões me surpreenderam bastante, porque o livro, em geral, é muito expositivo, mas há momentos em que ele faz questionamentos que colocam o leitor para pensar sobre assuntos um tanto quanto polêmicos, além de expôr seus pensamentos sobre casos em que trabalhou.
É muito cativante a forma que ele encara seu trabalho com cadáveres, dizendo que, em todas as autópsias que realiza, vê aqueles cadáveres como uma casca do que uma pessoa já foi um dia, somente um corpo sem alma e sentimentos. Essa é uma forma de diminuir a carga emocional de um ofício bastante pesado e evitar questionamentos que nunca terão respostas sobre a vida de alguém que já se foi.
A narrativa destaca como a morte é um evento social que afeta muito mais os vivos que os mortos. Tudo que acontece e é descoberto após a perda de um ente querido, principalmente em mortes suspeitas, tem grande impacto na vida de família e amigos. A forma como alguém morre (Natural? Assassinato? Suicídio?), pode chocar todos por contrariar tudo aquilo em que acreditavam. Muitas famílias preferem ouvir que seu querido filho foi brutalmente assassinado, do que saber que ele se matou. E muitas delas esperam que esses profissionais as ajudem a manter essa ilusão de que seu ente querido era feliz e nunca se machucaria. No entanto, o legista tem que dizer a verdade, independente da reação que virá a seguir.
É falado também sobre o quanto os seriados policiais (CSI, NCIS e outros), fazem essa profissão parecer tão glamorosa, o que não é verdade. Produtores e roteiristas não se preocupam em mostrar a realidade científica, eles produzem aquilo que os telespectadores querem ver (cenas macabras com sangue falso e muitos conflitos, que sempre resultam na solução ideal dos crimes). Muitos patologistas acabam abandonando a profissão, piorando a escassez de médicos nessa área.
O livro lançado pela editora Darkside, que fez um trabalho impecável na edição, tem: capa dura, desenhos e fotografias muito bem selecionadas para complementar a obra, folha de guarda lindíssima, fita de cetim para marcar páginas, tem até o desenho de um bisturi na lombada. A única reclamação é o tamanho da fonte do texto, achei bem pequena (pessoas míopes entenderão). Outro ponto que para mim foi bastante negativo, são os capítulos grandes, o que torna a leitura um pouco cansativa em dados momentos. Mas, em suma, a leitura é muito interessante, indicada para os curiosos sobre mortes, crimes e investigações. É uma narrativa que coloca o leitor para refletir muito sobre morte e justiça
RESENHA ESCRITA PELA SARA PARA O GETTUB!
site: http://www.gettub.com.br/2017/07/o-segredo-dos-corpos.html