Junior.Silva 20/05/2018Resenha postada no site Leitor CompulsivoHoje vamos conhecer a história de Quinha, uma jovem que vive em uma luxuosa cobertura na zona sul do Rio de Janeiro e sofre da Síndrome de Pessoas Inexistentes, tirando a possibilidade de qualquer tipo de socialização com seus familiares. No outro lado, conhecemos Paco, um rapaz que ficou paraplégico depois de uma acidente e vive em uma instalação improvisada após a família ser despejada de sua casa. Mesmo em universos tão diferentes, ambos se encontram através das redes sociais, e mergulham em uma aventura emocionante de descobertas e recomeços.
Em “O Terraço e a Caverna”, Maurício Limeira cria uma história ousada, fugindo do que estamos habitualmente acostumados a ver nos livros nacionais, mas muito bem construída, através das fragilidades de seus personagens. A forma como o autor aproxima dois universos tão distintos através dos dramas vividos por Quinha e Paco foi incrível e surpreendente, resultando em um leitura fluida e agradável. Com isso, dificilmente não nos apegamos a cada um deles ou daqueles que os cercam, seja nos pais desesperados que tentam de todas as formas resgatar sua filha da escuridão ou dos familiares que se viram no meio da rua, sem uma perspectiva de um amanhã melhor.
O livro traz como pano de fundo uma forte crítica social, mesmo que esse não seja o objetivo central da história. É difícil não refletir na forma como a família de Paco teve que se virar para sobreviver após ser despejada e fazer, mesmo que cheio de ilegalidades, de tudo para que ele pudesse, através das redes sociais, ter uma alternativa de socialização.
A história consegue mostrar todas as credenciais de um grande livro, tem um enredo muito coerente e o autor consegue transmitir, com muita segurança e clareza, a sua mensagem. Se por vezes o caminho seguido acaba sendo previsível, ao terminar de ler a obra e olharmos a mesma como um todo fica difícil pensar em algo diferente sem manchar a integridade da história. Temos aqui um livro emocionante de duas pessoas que mesmo vivendo em mundos distintos, se encontram para criarem um novo sentido ao que parecia tão obscuro.
Particularmente, achei o epílogo da obra dispensável. Apesar da coerência com todo o universo fantástico criado pela imaginação de Quinha, não vi muito sentido ou necessidade desse complemento após o livro ter sido finalizado de forma bem satisfatória, mas acredito que esse ponto é muito pessoal, sendo interpretada de formas diferente por cada leitor.
Um fato que acho bem legal de compartilhar é que o livro foi um dos ganhadores do Prêmio Literário Dalcídio Jurandir, componente de um programa de incentivo da Fundação Cultural do Pará, que em 2016 publicou 12 obras de autores nacionais. O programa da fundação vem fazendo um trabalho que merece todo o destaque, dando espaço a autores nacionais que nem sempre encontram as portas abertas nas grandes editoras.
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