Attraverso le Pagine 10/07/2017
Falar de Olga Benario Preste é sempre, para mim, muito prazeroso e suspeito.
Conheci essa mulher no final dos meus tenros 13 anos de idade, logo após assistir ao famoso filme do diretor Jayme Monjardim. Diga-se de passagem que, até então, nunca havia ouvido sobre a alemã de olhos azuis e que conquistaram alguns corações na sua juventude e confesso que fui assistir à película somente pela atriz Camila Morgado. Não preciso dizer que sai da sala do cinema louca para comprar o livro que havia inspirado Monjardim.
Por sorte, meus pais sempre me incentivaram a ler, ganhando, assim, muitos livros deles e, eis que em setembro, no meu aniversário, ganhei a biografia escrita por Fernando Morais.
Não vou entrar em detalhes deste livro, pois não é o foco. Só saibam que é muito bom e muito bem escrito. Leiam!
Em abril de 2015, os arquivos da Gestapo, que estavam com os soviéticos desde o fim da guerra, começaram a ser digitalizados e foram disponibilizados na internet. Assim, foi encontrado oito dossiês sobre Olga Benario chamado de “Processo Benario” constando de, mais ou menos, 2 mil folhas.
Nesse processo de abertura e digitalização, a historiadora Anita Leocadia Prestes se debruçou sobre esse tesouro afim de rever a história da comunista alemã, proporcionando fatos inéditos tanto à História do Brasil quanto a sua própria, já que é filha de Olga com o líder, político, comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes.
O livro, “Olga Benario Prestes: Uma Comunista nos Arquivos da Gestapo”, começa dando uma breve explicação de quem foi Olga, uma comunista alemã que escoltou Prestes de Moscou ao Brasil e teve uma filha com ele; foram presos em 1936 acusados de participação na “Intentona Comunista” (como ficou conhecido pejorativamente a Revolta de 1935 – tentativa de derrubar o governo Vargas) e nunca mais se viram.
Depois da breve apresentação, Anita Prestes entra de fato na prisão e deportação da mulher, então grávida de 7 meses, e na tentativa dos familiares de salvar Benario e sua filha das garras nazistas. Sabemos que a pequena Anita conseguiu ser “resgatada” pela avó e pela tia paterna e por uma intensa campanha a favor da libertação delas, mas Olga foi mandada para um campo de concentração para mulheres e assassinada em abril de 1942. Todos os pedidos de libertar Olga e enviá-la para o México, foram em vão; é possível ver em diversos documentos a recusa da Gestapo em libertar a mulher dizendo que era uma “comunista fanática” e muito perigosa e autorizar o aumento de trabalhos forçados, proibir a comunicação por carta entre ela e seus familiares brasileiros.
É muito interessante conhecer fatos novos sobre esta grande mulher como a causa “oficial” da morte de Olga: como a Gestapo não podia dizer que matava as prisioneiras, registrava como causas de mortes por alguma doença e que teria sido feito de tudo para salvar essas prisioneiras. Era costume também avisar a família da prisioneira e podemos ver que a mãe de Olga foi avisada, mas provavelmente não se importou já que não reconhecia mais a mesma como filha. Em contrapartida, a família de Prestes, seu marido, não foram avisado e o homem só soube da morte da esposa no final da guerra, em 1945.
O livro ainda trás, no final, algumas imagens e algumas cartas inéditas onde podemos nos emocionar com o amor que Olga sentia pela filha (e a tristeza por não poder criá-la) e o amor, carinho, respeito e saudade entre Carlos Prestes e ela. Ambos se despendem, em todas as cartas, “com carinho todo amor e muitas saudades”.
É muito triste saber que seres humanos separaram famílias, mataram pessoas inocentes. Olga foi apenas uma dessas vítimas do nazismo. Como afirma a autora, “seu martírio deveria servir de exemplo para que não se permita que tais horrores venham a se repetir.” (Anita Leocadia Prestes, p. 80)
Frase: “Se outros se tornam traidores, eu jamais o serei.” (Olga Benario Prestes).
(Resenha por Moony)
site: http://attraverso-le-pagine.blogspot.com.br/2017/07/resenha-livro-olga-benario-prestes-uma.html