Por uma outra globalização

Por uma outra globalização Milton Santos




Resenhas - Por uma outra globalização


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Biblioteca Álvaro Guerra 07/06/2019

Poucas vezes um livro já nasce como um clássico. Este é, sem dúvida, o caso de POR UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO — Do pensamento único à consciência universal, de Milton Santos. No livro, o geógrafo defende a idéia de que é preciso uma nova interpretação do mundo contemporâneo, uma análise multidisciplinar, que tenha condições de destacar a ideologia na produção da história, além de mostrar os limites do seu discurso frente à realidade vivida pela maioria dos países do mundo.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. De graça!



site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/85-01-05878-5
Jim 07/06/2019minha estante
Ótima resenha do gênio baiano Milton Santos,nosso grande geógrafo!




Marcelo 17/03/2019

Por outra globalização
Livro que Milton revela as três esferas da globalização, a globalização como fábula, a globalização perversa e a globalização solidária
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Gabi 13/03/2017

Muito importante, porque induz a refletir questões fundamentais na compreensão da globalização em seu propósito. Faz uma reflexão acerca a criação do consumidor antes do próprio produto, o sistema de P&D, a importância dá crise no processo de desenvolvimento político, a criação de grupos supranacionais como uma etapa do pós guerra... E o que eu achei mais importante: a manipulação do tempo de forma diferenciada entre as diferentes classes sociais- tendo isso como maior difusor de desigualdades. É uma pena, porque preciso admitir: Milton é superestimado. Seu livro foi muito raso e cheio de informação, não justificando de forma profunda como se dá o processo. Na verdade, pode ser apenas uma questão pessoal, pois já tinha estudado muito sobre globalização, e esperava obter mais profundidade no assunto. Além disso, acredito que Milton tenha sido em demasiado idealista ao constar que, aqueles que vivem em escassez aprendem necessariamente sobre solidariedade, sendo que na verdade é o contrário: na vida de escassez, a luta por realidade é bens é ainda mais acirrada e cruel. Por isso, caso os países subdesenvolvidos realizassem uma globalização de baixo para cima (como ele infere no livro) o máximo que iria ocorrer seria uma permutação de poderes, e não uma partilha de virtudes, como ele insiste em dizer. A política, até hoje, não passa da disputa pelo poder, ou seja, na disputa por privilégios- assim, os países dissidentes dos hegemônicos jamais lutaram por cidadania, e sim por privilégios.
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Lista de Livros 16/02/2017

Lista de livros: Por uma outra globalização – Milton Santos
“Atualmente, as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzir os produtos. Um dado essencial do entendimento do consumo é que a produção do consumidor, hoje, precede à produção dos bens e dos serviços. Então, na cadeia casual, a chamada autonomia da produção cede lugar ao despotismo do consumo. Daí, o império da informação e da publicidade. Tal remédio teria 1% de medicina e 99% de publicidade, mas todas as coisas no comércio acabam por ter essa composição: publicidade + materialidade; publicidade + serviços, e esse é o caso de tantas mercadorias cuja circulação é fundada numa propaganda insistente e frequentemente enganosa.
Desse modo, vivemos cercados, por todos os lados, por esse sistema ideológico tecido ao redor do consumo e da informação ideologizados. Esse consumo ideologizado e essa informação ideologizada acabam por ser o motor de ações públicas e privadas. Esse par é, ao mesmo tempo, fortíssimo e fragilíssimo. De um lado é muito forte, pela sua eficácia atual sobre a produção e o consumo. Mas, de outro lado, ele é muito fraco, muito débil, desde que encontremos a maneira de defini-lo como um dado de um sistema mais amplo. O consumo é o grande emoliente, produtor ou encorajador de imobilismos. Ele é, também, um veículo de narcisismos, por meio dos seus estímulos estéticos, morais, sociais; e aparece como o grande fundamentalismo do nosso tempo, porque alcança e envolve toda gente. Por isso, o entendimento do que é o mundo passa pelo consumo e pela competitividade, ambos fundados no mesmo sistema da ideologia.
Consumismo e competitividade levam ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa, à redução da personalidade e da visão do mundo, convidando, também, a esquecer a oposição fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão. É certo que no Brasil tal oposição é menos sentida, porque em nosso país jamais houve a figura do cidadão. As classes chamadas superiores, incluindo as classes médias, jamais quiseram ser cidadãs; os pobres jamais puderam ser cidadãos. As classes médias foram condicionadas a apenas querer privilégios e não direitos. E isso é um dado essencial do entendimento do Brasil: de como os partidos se organizam e funcionam; de como a política se dá, de como a sociedade se move.”
*
Mais em:
http://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2017/01/por-uma-outra-globalizacao-do.html
e:

site: http://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2017/01/por-uma-outra-globalizacao-do_8.html
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Camila 16/03/2016

Acessível, interessante e reflexivo.
Sempre incrível, o baiano, geógrafo social Milton Santos (1926-2001) fala da globalização como fator primordial na manutenção das desigualdades sociais.
Para o autor, enquanto o dinheiro estiver no centro das relações sociais atuais (nacionalmente e internacionalmente) não haverá possibilidade da vida digna do homem.
Para os "não-possuidores" a escassez é uma realidade constante, estão quase que conformados com ela, já para os "possuidores" (aqueles que participam de alguma forma do movimento econômico) há uma luta constante para conseguir mais, sempre mais. A estes estão destinadas as atenções da propaganda que engendra os valores e ideologias que levam ao consumo.
Milton Santos diz ainda da necessidade da reflexão sobre tal quadro, e quando a tomada de consciência acontecer - em diversos níveis - somada as novas tecnologias de informação, vistas como um palco importante para tal movimento, o descontentamento com o pensamento único aparecerá e a política pode começar a ser pensada de baixo para cima, e concatenada horizontalmente.
Milton Santos não pôde assistir as eclosões de manifestações mais recentes em nossa história, mas é correto afirmar que muitas de suas colocações, resumidas na frase "o feitiço se virou contra o feiticeiro", estão se concretizando como o uso das mais novas tecnologias informacionais pelas classes consideradas menos importantes para a economia em direção a uma mudança política-social que contempla a vida digna do homem como central discussão.
A leitura desta obra é indicada a todos os interessados sobre o assunto, através de uma linguagem muito acessível Milton Santos se faz entender e por meio da crítica ao modelo global econômico imposto pelas "potências mundiais" nos leva a refletir sobre o atual quadro de vida do homem deslocando olhares em direção a um futuro mais justo para a humanidade em geral.
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Ricardo Silas 11/12/2015

"A globalização atual não é irreversível"
Na década de 90, quando o geógrafo Milton Santos, um dos mais aclamados do mundo, publicou "Por uma outra globalização", o Brasil vivia um momento de quase tragédia social sob a era das privatizações das nossas estatais. A ideia de que a gestão pública era um obstáculo para o desenvolvimento ganhou força com propagandas neoliberais apoiadas pelas grandes empresas internacionais. Era o fenômeno da globalização abrindo um sorriso no rosto dos países de Primeiro Mundo, na época assim denominados, enquanto as nações que se espremiam nos degraus de baixo, tentando subir, eram esmagadas pelos interesses dos poderosos. A história nos conta uma versão mais rigorosa das relações que os países ricos tiveram com os pobres: séculos de colonização, de intervenções militares e uso da força bruta, imperialismo em regiões da África, Ásia e Oriente Médio, tudo isso contribuiu com o sucesso de alguns países à custa do fracasso de outros.

Diante das promessas de riqueza e prosperidade feitas pelas novas ideologias capitalistas de “livre-mercado”, a globalização revelou-se como um risco para o bem-estar da sociedade. Uma outra globalização poderia substituir a atual, que, segundo Milton Santos, não passava de uma farsa, ou melhor, uma fábula. Existe uma enorme diferença entre “o mundo como ele é”, “o mundo tal como nos dizem que ele é” e, por fim, “o mundo como ele pode ser”. Para chegarmos a esta terceira categoria, precisamos superar as duas primeiras, ambas resultado de uma geração construída em benefício do poder privado, dos investidores e das elites financeiras. Milton Santos apresenta um dos aspectos marcantes desta nova transição da sociedade moderna: a internacionalização das relações políticas e econômicas, a mais-valia universal, a velocidade da informação e a inovação das técnicas científicas a serviço dos protagonistas do capitalismo industrial.

“Ao surgir uma nova família de técnicas, as outras não desaparecem. Continuam existindo, mas o novo conjunto de instrumentos passa a ser usado pelos novos atores hegemônicos, enquanto os não hegemônicos continuam utilizando conjuntos menos atuais e menos poderosos.”

A concorrência básica e honesta deu lugar a uma competitividade destrutiva que só produz instabilidades e crises em todos os lugares, e esse espírito competitivo desenfreado impossibilita que os indivíduos estabeleçam entre si uma relação mais harmoniosa. Em vez de utilizarmos a nossa condição tecnológica para beneficiar todos os países mutuamente, permitimos que todos os recursos que poderiam ser usados para o bem sejam usados para o mal. Tirou-se a cooperação de foco para dar lugar a uma nova racionalidade dominante “que comanda os grandes negócios cada vez mais abrangentes e mais concentrados em poucas mãos”, e que são “de interesse direto de um número cada vez menor de pessoas e empresas”.

Sem perder o enfoque global, Milton Santos nos conduz a outro fenômeno que tem raízes no “milagre econômico” da ditadura militar que, por duas décadas marcadas pela censura e perseguição política, governou o Brasil. Trata-se da classe média, ou "burguesia operária", que foi generosamente favorecida pelo processo de diversificação do emprego nas novas áreas em desenvolvimento urbano do país. A classe média conseguiu desfrutar de sua nova ascensão econômica, mas foi prejudicada pela falta de conscientização política, que os tornaram mais apegados ao consumismo e à propriedade do que à cidadania e responsabilidade social: "o modelo econômico importava mais que o modelo cívico." Embora eu concorde com a breve análise que Milton Santos faz sobre a classe média, não posso deixar de fazer uma objeção. No início do livro, o autor afirma que a globalização é responsável pelos altos índices de desemprego no mundo e, mais adiante, ao se referir à classe média, ele atribui a abertura de novos empregos ao processo globalizante do mundo... Ou bem a globalização causa desemprego ou não. Seja como for, posso discordar do modelo de globalização atual, mas é controverso dizer que a taxa de desemprego subiu desde o período pós-Segunda Guerra...

Se fizermos uma análise atual do mundo, das instituições e governos que atuam em dimensões globais, descobriremos que uma nova globalização talvez seja necessária. Não sabemos como poderemos obtê-la, mas temos de estar prontos para projetá-la, primeiro como uma utopia e depois como uma meta. Milton Santos fez a sua ilustre contribuição intelectual, cabe a nós darmos o primeiro passo...
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jmrainho 10/05/2014

Por uma outra globalização
Editora Record, 2001

Milton Santos (1926-2001) foi um dos maiores geógrafos brasileiros. Foi professor na USP e na França, onde se formou.

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Livro indispensável para entender de fato a Globalização e suas implicações nefastas na economia e na sociedade do bem estar. Milton Santos foi um pensador independente, não filiado a nenhum partido nem submisso aos interesses dos tubarões. Mas não foi um pessimista. Fala da globalização como um conceito de fábula criado pelo mercado; a globalização como prática exploratória do ser humano como vemos e sentimos na pele ou na pelo dos outros;e, o que é mais importante, a globalização como possibilidade futura de um mundo melhor, com a conscientizaçãos dos atores sociais, principalmente, partindo de baixo para cima na hierarquia social. È o que Milton Santos chama de mutação filosófica do homem. Quem viver verá.


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TRECHOS

Acreditamos na força das ideias - para o bem e para o mal - nesta fase da história, em filigrama aparecerá como constante o papel do intelectual no mundo de hoje, isto é, o papel do pensamento livre.

O mundo como fábula, como perversidade como possibilidade.
Fala-se, por exemplo,em ALDEIA GLOBAL para fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. Na verdade, as diferenças locais são aprofundadas.
Fala-se, igualmente, na morte do Estado, mas o que estamos vendo é o seu fortalecimento par atender aos reclamos da finança e de outros interesses internacionais, em detrimento dos cuidados com as populações cuja vida se torna mais difícil.

A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas.

Todavia, por uma outra globalização.
Se acrescente, graças aos progressos da informação, a mistura de filosofias, em detrimento do racionalismo europeu. Trata-se da existência de uma sociodiversidade, historicamente muito mais significativa que a própria biodiversidade.

Há dois elementos fundamentais a levar em conta: o estado das técnicas e o estado da política.

Quando um determinado ator não tem as condições para mobilizar as técnicas consideradas mais avançadas, torna-se, por isso mesmo, um ator de menor importância no período atual.

Havia, com o imperialismo, diversos motores, cada qual com sua força e alcance próprios - o motor francês, o motor inglês, o motor alemão, o motor português, o belga, o espanhol, etc.
Hoje, haveria um motor único, que é, exatamente, a mencionada mais-valia universal.As que resistem são aquelas que obtêm a mais-valia maior, permitindo-se continuar a proceder e a competir.
Mundialização da técnica e mundialização da mais-valia
Deixamos o mundo da competição e entremos no mundo da competitividade.

O computador é o instrumento de medida e, ao mesmo tempo, o controlador do uso do tempo.

Neste período histórico, a crise é estrutural. Por isso, quando se buscam soluções não estruturais, o resultado é a geração de mais crise.
Tirania do dinheiro e tirania da informação são os pilares da produção da história atual do capitalismo globalizado.

UMA GLOBALIZAÇÃO PERVERSA



A competitividade, sugerida pela produção e pelo consumo, é a fonte de novos totalitarismos, mas facilmente aceitos graças à confusão dos espíritos que se instala.A perversidade sistêmica é um dos corolários.
As pessoas sentem-se desamparadas, o que também constitui uma incitação a que adotem, em seus comportamentos ordinários, práticas que alguns decênios atrás eram moralmente condenadas. Há um verdadeiro retrocesso quanto à noção de bem público e de solidariedade.

O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde.
A informação atual tem dois rostos, um pelo qual ela busca construir, e um outro, pelo qual ela busca convencer.
Há uma relação carnal entre o mundo da produção de notícia e o mundo da produção das coisas e das normas.
Falsificam-se os eventos, já que não é propriamente o fato o que a mídia dá, mas uma interpretação, isto é, a notícia. Pierre Nora, em um bonito texto, "O Retorno do Fato", lembra que, na aldeia, o testemunho das pessoas que veiculam o que aconteceu pode ser cotejado com o testemunho do vizinho. Numa sociedade complexa como a nossa, somente vamos saber o que houve na rua ao lado dois dias depois, mediante uma interpretação....
É frequentemente mais fácil comunicar com quem está longe do que com o vizinho. Quando essa comunicação se faz, na realidade, ela se dá com a intermediação de objetos. A informação sobre o que acontece não vem da interação entre as pessoas, mas do que é veiculado pela mídia, uma interpretação interessada, senão interesseira, dos fatos.

No fundo, o chamado Produto Nacional Bruto é apenas um nome fantasia do que poderíamos chamar de produto global, já que as quantidades que entram nessa contabilidade são aquelas que se referem às operações que caracterizam a própria globalização.
O que sai do país como royalties, inteligência comprada, pagamento de serviços ou remessa de lucros volta como crédito e dívida.
Relação entre finança e produção, o que Marx chamava de loucura especulativa.

A atual globalização aponta-nos para formas de relações econômicas implacáveis, que não aceitam discussão e exigem obediência imediata, sem que os atores são expulsos da cena ou permanecem escravos de uma lógica indispensável ao funcionamento do sistema como um todo.

Para produzir a atual globalização, aponta-nos para formas de relações econômicas implacáveis, que não aceitam discussão e exigem obediência imediata, sem a qual os atores são expulsos da cena ou permanecem escravos de uma lógica indispensável ao funcionamento do sistema com um todo.

Meste mundo globalizado, a competitividade, o consumo, a confusão dos espíritos constituem baluartes do presente estado das coisas.

Agora, a competitividade toma o lugar da competição. A concorrência atual não é mais a velha concorrência, sobretudo porque chega eliminando toda forma de compaixão. A competitividade tem a guerra como norma. Há, a todo custo, que vencer o outro, esmagando-o para tomar seu lugar.

As cidades brigando uma com as outras, as regiões reclamando soluções particularistas. Também na ordem social e individual são individualismos arrebatadores e possessivos, que acabam por constitui o outro como coisa. Comportamentos que justificam todo desrespeito às pessoas são, afinal, uma das bases da sociabilidade atual.
Também o abandono da noção e do fato da solidariedade.

Uma empresa para manipular a produção, buscava também manipular a opinião via publicidade.Nesse caso, o fato gerador do consumo seria a produção. Mas atualmente, as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzir os produtos.

Todas as coisas do comércio acabam por ter essa composição: publicidade+materialidade; publicidade+serviços, e esse é o caso de tantas mercadorias cuja circulação é fundada numa propaganda insistente e frequentemente enganosa.

Consumismo e competitividade levam ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa, à redução da personalidade e da visão do mundo, convidando, também, a esquecer a composição fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão.
As chamadas classes superiores, incluindo as classes médias, jamais quiseram ser cidadãs; os pobres jamais puderam ser cidadãos. As classes médias foram condicionadas a apenas querer privilégios e não direitos.

Século XX, o do despotismo da informação.
A crescente sedução pelos números, um uso mágico das estatísticas.

A partir desse quadro pode-se interpretar o que falava Sartre. Instalam-se a competitividade, o salve-se-quem-puder, a volta ao canibalismo, a supressão da solidariedade, acumulando dificuldades para um convívio social saudável e para o exercício da democracia.
O resultado dessa busca - pelo dinheiro - pode levar à acumulação (para alguns) como ao endividamento (para a maioria).
O resultado objetivo é a necessidade, real ou imaginada, de buscar mais dinheiro. As formas pelas quais ele é obtido, sejam quais forem, já se encontram antecipadamente justificadas.

Concorrer e competir não são a mesma coisa. A concorrência pode até ser saudável sempre que a batalha entre agentes, para melhor empreender uma tarefa e obter resultados finais, exige o respeito a certas regras de convivência preestabelecidas ou não. Já a competitividade se funda na invenção de noas armas de uta, num exercício em que a única regra é a conquista da melhor posição. A competitividade é uma espécie de guerra em que vale tudo e, desse modo, sua prática provoca um afrouxamento dos valores morais e um convite ao exercício da violência.
A realidade pode ser vista como uma fábrica de perversidades.
No século XX havia mais 600 milhões de pobres do que em 1960, e 1,4 bilhão de pessoas ganham menos de um dólar por dia.
O fato, porém, é que a pobreza, tanto quanto o desemprego agora são considerados como "natural", inerente ao seu próprio processo.
Daí a difusão, também generalizada, de outro subproduto da competitividade, isto é, a corrupção.
Junta-se a isso o processo de conformação da opinião pelas mídias, um dado importante no movimento de alienação trazido com a substituição do debate civilizatório pelo discurso único do mercado.
Reascende egoísmos e é um dos fermentos da quebra da solidariedade entre pessoas, classes e regiões.
Os papéis dominantes, legitimados pela ideologia e pela prática da competitividade, são a mentira, com o nome de segredo de marca; o engodo, com o nome de marketing; a dissimulação e o cinismo, com os nomes de tática e estratégia. É uma situação na qual se produz a glorificação da esperteza, negando a sinceridade, e a glorificação da esperteza, negando a sinceridade, e a glorificação da avareza, negando a generosidade.

A cidadania plena é o dique contra o capital pleno.

Não é que o Estado se ausente ou se torne menor. Ele apenas se omite quanto ao interesse das populações e se torna mais forte, mais ágil, mais presente, ao serviço da economia dominante.

Morte da política
Mas, se o Estado não pode ser solidário e a empresa não pode ser altruísta, a sociedade como um todo não tem quem a valha.
Fora daí, o que se pretende é encontrar formas de proteção a certos pobres e a certos ricos, escolhidos segundo os interesses dos doadores.

Estamos assistindo a não-política, isto é, à política feita pelas empresas, sobretudo as maiores.... Daí a crença de sua indispensabilidade, fator da presente guerra entre lugares e, em muitos casos, de sua atitude de chantagem frente ao poder público, ameaçando ir embora quando não atendidas em seus reclamos.

A pobreza estrutural.
Os pobres não são incluídos nem marginais. São excluídos.
Uma das grandes diferenças do ponto de vista ético é que a pobreza de agora surge, impõe-se e explica-se como algo natural e irreversível.

O papel dos intelectuais.
O terrível é que, nesse mundo de hoje, aumenta o número de letrados e diminui o de intelectuais.

Enquanto o urbano surge, sob muitos aspectos, e com diferentes matizes, como o lugar da resistência, as áreas agrícolas se transformam agora no lugar da vulnerabilidade.

Os fenômenos a que muitos chamam de globalização e outros de pós-modernidade (Renato Ortiz, Mundialização e Cultura, 1994)na verdade constituem, juntos um momento bem demarcado no processo histórico.

Uma boa parcela da humanidade, por desinteresse ou incapacidade, não é mais capaz de obedecer a leis, normas, regras , mandamentos, costumes derivados dessa racionalidade hegemônica. Daí a proliferação de "ilegais", "irregulares", "informais".
Recordemos Sartre, para quem a escassez é que torna a história possível, graças à unidade negativa da multiplicidade concreta dos homens.

Diferença entre pobreza e miséria. A miséria é a privação total, com o aniquilamento, ou quase, da pessoa. A pobreza é uma situação de carência, mas também de luta. Miseráveis são os que se confessam derrotados. Mas os pobres não se entregam. Eles descobrem a cada dia formas inéditas de trabalho e de luta.

Num mundo tão complexo, pode escapar aos pobres o entendimento sistêmico do sistema do mundo. Mas há também a desilusão das demandas não satisfeitas, o exemplo do vizinho que prospera, o cotidiano contraditório.

Os movimentos organizados devem imitar o cotidiano das pessoas, cuja flexibilidade e adaptabilidade lhe asseguram um autêntico pragmatismo existencial e constituem a sua riqueza e fonte principal de veracidade.

A escassez chega às classes médias
Tais dificuldades chegam em um tropel: a educação dos filhos, o cuidado com a saúde, a aquisição ou o aluguel da moradia, a possibilidade de pagar pelo lazer, a falta de garantia no emprego, a deterioração dos salários, a poupança negativa e o crescente endividamento estão levando ao desconforto quanto ao presente e à insegurança quanto ao futuro, tanto o futuro remoto quanto o imediato.
A experiência da escassez, um revelador cotidiano da verdadeira situação de cada pessoa é, desse modo, um dado fundamental da aceleração da tomada de consciência.

A transição em marcha.
A racionalidade é mantida à custa de normas férreas, exclusivas, implacáveis e radicais. Sem obediência cega não há eficácia.
O homem acaba por ser considerado um elemento residual.
A primazia do homem supõe que ele estará colocado no cento das preocupações do mundo.
Num mundo em que fosse abolida a regra da competitividade como padrão essencial de relacionamento, a vontade de ser potência não seria mais um norte para o comportamento dos estados, e a ideia de mercado interno será uma preocupação central.
As mudanças sairão dos países subdesenvolvidos.

A ideia da história, sentido, destino é amesquinhada em nome da obtenção de metas estatísticas, cuja única preocupação é o conformismo frente às determinações do processo atual de globalização.

A dissolução das ideologias
Não há outro futuro senão aquele que nos virá como um presente ampliado.
É muito difundida a idéia segundo a qual o processo e a forma atuais da globalização seriam irreversíveis.
Para exorcizar esse risco, devemos considerar que o mundo é formado não apenas pelo que já existe, mas pelo que pode efetivamente existir. Não existe mas é empiricamente factível.
Situações como a que agora defrontamos parecem definitivas, mas não são verdades eternas.

A pertinência da utopia
Por isso, é lícito dizer que o futuro são muitos; e resultarão de arranjos diferentes segundo nosso grau de consciência, entre o reino das possibilidades e o reino da vontade.

Não é raro que as regras estabelecidas pelas empresas afetem mais que as regras criadas pelo Estado.

Os sistemas técnicos de que se valem os atuais atores hegemônicos estão sendo utilizados para reduzir o escopo da vida humana sobre o planeta. No entanto, jamais houve na história sistemas tão propícios a facilitar a vida e a proporcionar a felicidade dos homens.

A partir desses efeitos de vizinhança, o indivíduo refortificado pode, num segundo momento, ultrapassar sua busca pelo consumo e entregar-se à busca da cidadania.

A aglomeração de pessoas em espaços reduzidos, com o fenômeno da urbanização concentrada, típico do último quartel do século XXX, e as próprias mutações nas relações de trabalho, junto ao desemprego crescente e à depressão dos salários, mostram aspectos que poderão se mostrar positivos em um futuro próximo, quando as metamorfoses do trabalho informal serão vividas também como expansão do trabalho livre, assegurando a seus portadores novas possibilidades de interpretação do mundo, dl lugar e da respectiva posição de cada num, no muno e no lugar.

Um novo mundo possível
A. Scmidt: "A realidade é, além disso, tudo aquilo em que ainda não nos tornamos, ou seja, tudo aquilo que a nós mesmos nos projetamos como seres humanos, por intermédio dos mitos, das escolhas, das decisões e das lutas".

A crise por que passa hoje o sistema, em diferentes países e continentes, põe à mostra não apenas a perversidade, mas também a fraqueza da respectiva construção. Isso conforme vimos, já está levando ao descrédito dos discursos dominantes.
O passo seguinte é a obtenção de uma visão sistêmica.

A nova consciência de ser mundo
Ousamos, desse modo, pensar que a história do homem sobre a Terra dispõe afinal das condições objetivas, materiais e intelectuais, para superar o endeusamento do dinheiro e dos objetos técnicos e enfrentar o começo de uma nova trajetória.
O que conta mesmo é o tempo das possibilidades efetivamente criadas. Isso a que chamamos tempo empírico, cujas mudanças são marcadas pela irrupção de novos objetos, de novas ações e relações e de novas idéias.

Pouco, no entanto, se fala das condições, também hoje presentes, que podem assegurar uma mutação filosófica do homem, capaz de atribuir um novo sentido à existência de cada pessoa e, também, do planeta.
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Ricardo_PA 20/11/2011

Curto e chato
Esse livrinho do Milton Santos é bem curto, mas mesmo assim consegue ser difícil, prolixo e confuso. Ele tem uma visão interessante sobre globalização? Certamente. Consegue passar a mensagem com eficácia para um leitor leigo? Não. Saímos do livro sem lembrar muito bem do que se tratava, exceto que ele é contra essa "globalização perversa" que está aí. Nas propostas de alternativa (pelo título, esse deveria ser o ponto alto!), o livro é, a meu ver, um fiasco. Não propõe absolutamente nada de concreto, só o velho idealismo de esquerda sobre como as coisas DEVERIAM ser, sem nunca explicar como podemos chegar a tanto.
É um livro apenas regular, a despeito de toda a fama do autor. Nunca li outras obras dele.
Emerson.Lopes 04/07/2016minha estante
Se você não entendeu o livro " A Natureza do Espaço", dificilmente entenderá a totalidade de "Por uma outra globalização". Não é um livro para leigos.




juhmangabeira 28/03/2010

Que trata-se de uma obra de referência, todos estão cansados de saber. Não apenas por isso devem procurá-lo, mas também porque é um livro capaz de abrir os olhos e ampliar os horizontes daqueles que o lêem. Após "devorá-lo" considero-me capaz de enxergar o processo de globalização como ele é, sem máscaras, sem 'fábulas'. E também de ter esperança que a tal "consciência universal" pode ser alcançada. Recomendadíssimo.
Sarah 06/10/2020minha estante
Te deixei um recado ;)




guibre 20/03/2010

Trata-se de uma obra que contém uma crítica bastante consistente ao processo de globalização vigente (designado como "globaritarismo" pelo autor), de modo a estabelecer como o mesmo ocorre e suas nefastas consequências para aqueles que não se encontram em posição hegemônica. Como muito bem demonstrado no livro, tal fato ocorre pois se trata de um amplo processo de imposição de técnicas e ideologias que acarretam significativa exclusão, por meio de deturpações deliberadas (por vezes, muito sutilmente) da informação que é fornecida, de modo a disfarçar as fragilidades do discurso dominante.
São feitas minudentes análises acerca de temas como a autonomização do dinheiro e os referenciais axiológicos da globalização (como a competitividade), enquanto elementos de desagregação social que correspondem a implantação plena de um consumismo exacerbado, decorrente da criação artificial de necessidades em um mundo marcado pela escassez.
Desmistificam-se alguns dogmas do processo de globalização, dentre os quais a afirmação de que se daria uma integração cujos benefícios seriam amplamente perceptíveis, sendo que, na realidade, o que se observa é uma concentração de riquezas, inclusive com diminuição de participação de certos países no mercado internacional.
Também se revela como muito interessante a contraposição entre local e global, sendo o primeiro o espaço das relações autenticamente humanas, ainda não subjugadas pelos valores hegemônicos (ou pela simples ausência deles). Dessa forma, se construiria uma horizontalidade contraposta a verticalidade típica das relações globalizadas, nas quais não haveria qualquer perspectiva realmente democrática como real ou simplesmente plausível, enquanto se utilizarem as técnicas da maneira que são utilizadas atualmente, como indica o autor.
O desenvolvimento de algumas noções, como a de “violência estrutural”, são aspectos que tornam a obra muito interessante, já que fazem notar algo que se encontra escamoteado, especialmente em virtude de um discurso dominante, por vezes, hegemônico.
São apresentadas novas perspectivas, que segundo o autor, revelam a possibilidade de “uma outra globalização”, confirmando-se assim uma forma de otimismo, inclusive indicada ainda na introdução da obra. Essas alterações profundas seriam provenientes dos segmentos sociais e populações que se encontram atualmente excluídas do processo de globalização, ao fortalecerem-se e tomarem consciência das origens da sua exclusão e distância dos centros de decisão, controlados por interesses empresariais muito distantes de qualquer noção de interesse público. Dessa maneira, seria estabelecido o primado do homem, substituindo o do dinheiro, restaurando-se o valores da solidariedade e da democracia.
A leitura do texto requer atenção para compreensão das linhas de raciocínio seguidas pelo autor, diante da profundidade de várias argumentações presentes na obra. No entanto, reitere-se que se trata de uma crítica deveras bem-elaborada e sistematizada, diante do senso comum e da realidade que lhe é correlata, a qual muitas vezes é aceita como certa, válida ou simplesmente inevitável.
Ana 05/03/2020minha estante
Ótima resenha, guibre!
Extremamente esclarecedora.
Ótimas leituras para você!




Samirr 30/01/2010

Ótimo!
Por uma outra globalização é um ótimo livro, e mais uma vez Milton Santos se mostra um grande geógrafo, bem critico, excercendo a tarefa de mostrar a realidade. Indico para aqueles que desejem saber mais sobre um trabalho de um geógrafo.
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vintrava 22/10/2009

Apesar de a obra do geógrafo Milton Santos ser conhecida pela sua complexidade de escrita e a profundidades dos temas e conceitos, o livro "Por uma outra globalização" traz uma linguagem leve, mas ao mesmo tempo com uma discussão aprofundada sobre o tema da globalização.

O livro se pauta em três partes principais: a globalização como fábula (como o capital faz a gente acreditar que a globalização é favorável a todos), a globalização como perversidade (como a globalização realmente é, desigual e perversa) e a globalização como ela poderia ser (o papel da mudança que vem de baixo, e não de cima).

Essa leitura eu recomendo para qualquer brasileiro (ou qualquer latino-americano), mas ela pode ser iniciada por alunos do ensino médio. Com o acompanhamento do professor, elaborando debates em sala de aula, o livro pode ser trabalhado de maneira bem interessante, pois envolve a discussão de todo o contexto mundial que estamos vivendo.

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