ElisaCazorla 17/05/2020
Por que essas cenas não me são estranhas?
Felizmente, a tragédia que aconteceu na Alemanha entre 1939 e 1945 é até hoje explorada pelo cinema e já está solidificado no inconsciente coletivo a imensa catástrofe que foi o holocausto. Autoridades alemãs têm políticas muito específicas para garantir que, através da educação, da informações e de leis rígidas, o holocausto não volte a acontecer no país. Além disso, toda a comunidade internacional faz o seu papel fazendo com que as cenas que li neste livro sejam expostas em filmes de alcance mundial, em documentários por canais internacionais numa linguagem acessível, cinematográfica repetidas vezes. Por isso, eu tive a constante sensação de já ter visto as cenas terríveis que o autor descrevia neste livro.
Isso foi para mim uma denúncia de outra enorme tragédia da humanidade, com proporções infinitamente maiores do que foi o holocausto na Alemanha e a repercussão e o interesse pela educação e informação para garantir que aquela tragédia não aconteça mais é praticamente invisível.
Pouco ou NADA se fala que Hitler teve uma fonte onde basear sua lei de segregação e para os campos de concentração: Estados Unidos da América. Sim, nada se fala que Hitler se baseou nas leis de Jim Crow em vigor nos EUA desde o século XIX e na época de Hitler e continuou em vigor depois da segunda Guerra Mundial até muito recentemente, no final dos anos de 1960.
A escravidão que teve proporções continentais quase não é retratada nos cinema como uma denúncia e com a intenção de garantir que aquilo não se repita. Nas novelas, o que vemos é algo quase positivo sobre a escravidão, algo muito próximo de Casa Grande e Senzala de Gilberto Freyre e da Tia Nastácia de Monteiro Lobato, criticado por muitos por ser racista - pouco se fala sobre isso e o sítio do pica-pau amarelo não é usado como exemplo do pensamento racista no Brasil. A escravidão parece ser pintada como algo tranquilo e até positivo para ambos, brancos e negros. A escravidão foi o holocausto mundial! Por que as cenas terríveis narradas em livros que retratam a escravidão são tão pouco exploradas pelo cinema de massa? Por que nos emocionamos e nos revoltamos tanto com A Lista de Schindler e não estranhamos que praticamente não existem filmes sobre Zumbi dos Palmares, sobre os Quilombos, sobre A revolta da chibata, sobre as famílias que faziam dos negros um NEGÓCIO LUCRATIVO durante gerações e gerações??
Uma tragédia não diminui a outra mas é impossível não pensar, impossível não levantar questões sobre isso.