Leila de Carvalho e Gonçalves 11/07/2018
As Disputas Religiosas Na França Absolutista
?A Rainha Margot" é um romance histórico, de Alexandre Dumas. Publicado em 1845, é o primeiro volume de uma trilogia da qual também fazem parte "A Dama de Monsoreau" e os "Quarenta e Cinco".
Esses livros vão do final do reinado de Carlos IX até a morte de Henrique III, último rei da dinastia Valois. Aconselho a quem não estiver familiarizado com esse período, conhecer ao menos a biografia de Catarina de Médici cujo papel foi determinante para traçar o rumo da história, visto que ela dedicou a vida para perpetuar sua linhagem, o que custou muito caro para a França.
Catarina foi mãe de nove filhos, três reis e Margot, a única que herdou sua robustez, saúde inabalável e gênio difícil. Acusada de frívola e ninfomaníaca, a jovem é uma personagem polêmica, escolhida sob medida por Dumas para protagonizar a narrativa. Aliás, uma narrativa que também enfoca as disputas religiosas, em especial, "A Noite de São Bartolomeu", ocorrida durante a festa comemorativa desse santo em 24 de agosto de 1570.
Responsável por 30.000 mortes, esse episódio foi um massacre liderado pela maioria católica contra os huguenotes. Planejado pela Família Real, seu intuito era cessar com a onda de violência protestante após a tentativa de assassinato do seu líder, Almirante Gaspar de Coligny, ordenado pela própria Catarina. No entanto, a situação saiu do controle e a carnificina só foi contida meses depois.
Na realidade, a situação vinha se agravando desde a semana anterior, com as bodas de Margot e Henrique de Navarra, chefe da dinastia huguenote. Tendo como objetivo selar a paz religiosa, esse casamento desgostou a todos e acabou anulado após o casal ficar conhecido pela extensa lista de amantes. Curiosamente, Henrique de Navarra acabou sendo coroado rei, iniciou a dinastia dos Bourbon e pacificou a França.
Apesar do romance ser baseado em personagens e fatos reais, o leitor mais atento encontrará alguns aspectos inconsistentes com os registros históricos. Eles podem ser encarados como mera licença artística ou consequência de uma visão deturpada do passado.
Enfim, existe uma adaptação do livro para o cinema, vencedora da "Palma de Ouro" em Cannes, que recomendo. "A Rainha Margot" (2004) apresenta um bom desempenho de Isabele Adjani, todavia, são as cenas de extrema crueldade da "Noite de São Bartolomeu" que roubam atenção. Aliás, foram elas, que me levaram a conhecer a trilogia.