Nossa Senhora do Nilo

Nossa Senhora do Nilo Scholastique Mukasonga




Resenhas - Nossa Senhora do Nilo


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Paulo Silas 10/04/2020

Nas montanhas da bacia do Nilo há uma escola com rigorosos métodos voltada para a educação exclusiva de meninas. Situado em Ruanda, o Liceu Nossa Senhora do Nilo busca formar a elite feminina do país, tendo como proposta educar aquelas que serão grandes mulheres de acordo com o que a cultura local entende e determina por alta sociedade feminina. É nessa espécie de colégio interno, onde as meninas permanecem todos os dias, podendo visitar os seus familiares nos finais de semana, que o enredo de "Nossa Senhora do Nilo" se desenrola, trazendo à cena muito mais das situações que ocorrem no âmbito de suas dependências envolvendo alunas, familiares. professores, freiras e o padre responsável pelo local, uma vez que é também exposto todo um conflito político existente no ambiente geral em que se passa a história.

Religiosos belgas e professores franceses são os responsáveis pela educação no Liceu Nossa Senhora do Nilo. Sendo considerado um local de renome, privilegiadas são as alunas que obtém acesso à educação do Liceu, ensejando assim grande expectativa nas famílias que buscam que suas filhas ali estudem e contentamento efusivo quando da seleção daquelas que irão representar a elite feminina da sociedade ruandesa. Essa garantia, essa possibilidade mais ampla é conferida e garantida em grande e maior parte ao hutus, sendo reservada uma cota mínima para as estudantes tutsis, ensejando assim numa prática segregacionista que é reflexo do contexto e cenário político em que se situava a Ruanda no período em que se passa a história. É pelo vivenciar intramuros do Liceu (mas não apenas) que o fervilhar do conflito político prévio ao genocídio ruandês é sentido e interpretado pelas alunas e funcionários em geral, tendo-se assim uma narrativa particular de um todo através de um recorte próprio.

Scholastique Mukasonga fornece um relato próprio, particularizado, específico, sobre um período em que fervilhava algo que logo estouraria na forma de um genocídio que recebeu atenção internacional. Pelos olhos incautos das alunas é possível perceber o embate conflituoso existente entre hutus e tutsis. Pelo contato do padre e das freiras com o mundo externo para além do Liceu se tem resquícios do grande problema que estava prestes a explodir da pior maneira possível. Pelo vivenciar momentâneo dos que se situam no Liceu para com os vilarejos próximos e casa dos familiares se nota que há algo no ar. Enfim, pelos olhos de Immaculée, Veronica, irmã Gertrude, Virginia, Modesta, Sr. Decker, padre Herménégilde e tantas outras personagens, a autora resgata um conflito sociopolítico ocorrido na Ruanda e narra através de um excelente romance. A história atrai e obtém êxito ao estabelecer páginas que fluem durante a leitura enquanto evidencia questões para além da trama ali contada. Um ótimo livro.

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Joao.Ricardo 23/04/2020

Ótimo livro, escrito com muita maestria.
"Nossa Senhora do Nilo" é sincero. Nos imerge aos interiores de uma escola ruandesa que tem como finalidade institucional preparar suas alunas para serem a elite feminina do país.
Violência, professores europeus, igreja católica, segregação, tensões entre grupos, moralidade permeiam a obra. E revelam também a atmosfera de Ruanda que precedeu o terrível massacre que houve no país.
Eu nunca havia lido narrativas literárias sobre Ruanda, tampouco autores ruandeses. Realmente, Scholastique Mukasonga foi precisa na obra. Ela é uma sumidade literária, ganhadora de muitos prêmios, referência de escritora, atualmente não vive em Ruanda e foi uma das sobreviventes do massacre ocorrido no país.
O ritmo da narrativa me fez querer digerir cada micro-detalhe que revela um sistema intrincado que sustenta um emaranhado de relações complexas. Repare que são micro que revelam um complexo macro.
É por isso que acredito que Mukasonga primorosamente restringiu sua narrativa em uma pequena escola nos interiores de Ruanda, em que as filhas da elite ruandesa se formam mulheres de elite. A composição desse grupo de alunas, como são tratadas, como elas se relacionam, o que lhes é ensinado é muito interessante para compreender a ideologia vigente na época e, pasmem, não diferencia do que temos hoje: saberes eurocentrados com uma pitada de religiosidade para formar a elite parca de um país.
O que mais me sobressai, e essa que é uma das belezas da literatura, é que a narrativa reflete muito do que estamos vivenciando hoje em nosso país. É preterido e conivente um discurso de ódio em que é importante eliminar e humilhar o outro pelo simples fato de ele ser outro. No caso do livro as forças responsáveis por gerir a escola, governo, igreja, ONU, Bélgica e França, coadunam ativa ou passivamente com a situação.
Outro aspecto importante é a denúncia sobre a violência sexual dos padres da igreja católica, que diante da agonia dos outros aspetos fica até secundária. Mas, é sempre importante salientar que dentro da igreja católica as denúncias de violência sexual são várias.
"Nossa Senhora do Nilo" é para fortes leitoras e leitores e fundamental para quem pretende votar em J. Bols. (acharam que fossem escapar dessa?). Pois, é capaz de acender uma chama na consciência de cada um que mostre que o próximo não precisa ser exterminado somente pelo fato de ser outro. E, em uma esfera de consciência muito mais apurada é capaz de lembrar o eleitor da base cristã de J. Bols. "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Marcos 12:31).
Infelizmente, a maioria de seus eleitores não se preocupa com literatura, tampouco com a literatura de um país marginalizado, e sequer conseguem relacionar literatura e política. Uma pena.
Boas leituras.
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Janaina 15/06/2020

Se tem uma coisa...
... que eu apreciei em 100% dos livros escritos por africanas que li na vida é a maneira que elas têm de contar uma história. Não importa se ruandesas, nigerianas, somalis, marroquinas, etc, elas jamais me decepcionaram.
"Nossa Senhora do Nilo" não foi exceção. Usando o internato de moças como pano de fundo, a autora ensina mto sobre a cultura e os valores do país, mostra os estragos do colonialismo e o horror do genocídio tutsi. Me deixou instigada a pesquisar mais sobre esse terrível momento histórico.
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carol 07/08/2020

Bom, mas faltou algo a mais
É um livro interessante porque contém muitos aspectos culturais que por si só chamam atenção. Mas a leitura não foi bem o que eu esperava. Confesso que tinha criado uma grande expectativa, o que se deveu em parte às sinopses disponibilizadas da obra (ou talvez a minha má interpretação delas). Mas o livro demorou para engrenar para mim. Os capítulos são pequenas histórias do dia a dia das estudantes do liceu, histórias que nem sempre são tão emocionantes ou instigantes. Minha leitura oscilou bastante entre momentos de muita atenção e capítulos que eu relutei para continuar. Não consegui me envolver pelos personagens e terminei com a sensação de que faltou algo e de que eu gostaria de ter tido mais sentimentos durante a leitura.

Toda a emoção fica para os dois capítulos finais e é possível terminar o livro com uma sensação de que a leitura valeu a pena. É um livro bom, mas imagino que não seja o melhor da autora.
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elainegomes 20/05/2021

Direto de Ruanda, com um texto muito fluido, forte e por vezes poético, nos apresenta o choque cultural, muito comum em colonizações, que normalmente aniquila todo um histórico cultural existente, impondo a própria cultura.

É marcante e triste ver a catolização de toda uma comunidade, a demonização de tradições ancestrais.

A história se passa basicamente dentro do colégio Liceu Nossa Senhora do Nilo, que prepara meninas para representar Ruanda à futura elite. E como um microcosmo do próprio país nos mostra as dores da segregação, do não pertencimento, da perda de identidade, intolerância.


Mas confesso que eu esperava mais do livro, queria saber mais sobre as tradições da cultura ruandesa, suas crenças seus mistérios, mas foi o seu final (sem fim) diferente de aberto, que me deixou um pouco frustrada. Ainda assim é uma leitura que vale a pena.
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Ve Domingues 25/10/2020

Livro provoca reflexões sobre a origem da intolerância. A autora mostra o clima tenso que levou ao genocídio em Ruanda, tudo sob o ponto de vista de diversas adolescentes. Leitura necessária.
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Amanda 28/10/2020

5 estrelas
O que mais me impressionou na leitura desse livro foi o tom que a autora conseguiu passar, inocente, aquele olhar verdadeiro, curioso e puro, de descoberta (e em muitos momentos me senti assim, descobrindo esses novos costumes, tradições e lendas e hábitos, de uma pequena mas significativa parte de uma África que muito pouco se conhece). Assim, é como se realmente víssemos a história através do olhar de uma menina, mas, ao mesmo tempo, aos olhos menos inocentes, é possível enxergar profunda camada de crítica politica, religiosa e social.

Precisamos destacar a importância de ler mais livros como este, de termos a história da África contada pelo povo africano, nos possibilitando um entendimento de seus costumes, lendas, hábitos e tradições que são, muitas vezes, tão diferentes dos nossos e tão desconhecidos.

O livro aborta também de uma forma muito forte os direitos (ou a falta deles) da mulher e, se você não é fã de spoilers pode parar por aqui! Kkkkkkk Como clímax, os dois últimos capítulos tratam efetivamente da guerra civil que eclodiu entre tutsis e hutus e, para mim, a visão da autora, de certeza de sobrevivência e esperança num futuro melhor para Ruanda fecham a trama de uma forma encantadora, sem destoar da visão gera do livro, nos fazendo partilhar dessa esperança e terminar a leitura desejando que Virgínia tenha alcançado seu desejo.
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anacmontijo 18/12/2020

Meu primeiro contato com Scholastique Mukasonga e com literatura ruandesa, e pensei que gostaria mais da leitura. A escrita de Scholastique é primorosa, porém senti o livro meio "arrastado", os primeiros capítulos não me cativaram, como também as personagens não o fizeram. É uma leitura interessante no que diz respeito aos conflitos entre hutus e tutsis - onde a autora traz uma abordagem que demonstra bem as origens da intolerância -, as tradições da cultura ruandesa, e os efeitos do colonialismo e do machismo na vida das alunas do liceu.
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fev 13/01/2021

#BingoLitNegra #LeiaNegros

Eu esperava um pouco mais desse livro. Mas ainda assim acredito que é bom livro. Nossa Senhora do Nilo narra a história de meninas ruandesas em um internato para meninas que farão parte do futuro político do país. O internato é a representação do grande país. A história que acontece em Nossa Senhora do Nilo e ao redor dele é uma parte menor do que acontecia longe dele.

O debate e a luta política, o colonialismo, a cultura ruandesa, o preconceito étnico-racial, a dominação católica está tudo ali. Diferente dos outros livros da autora que são de memórias essa é uma ficção que apresenta uma Ruanda antes do maior massacre. Então não vemos tantos relatos sanguinários e violentos, mas um desenvolvimento das alunas e do clima de tensão que chegaria a este momento extremo de violência.

A leitura entretém, mas para mim ficou faltando algo. Você consegue identificar cada personagem porque há características marcantes, mas senti que precisava de mais profundidade. O livro não tem uma sequência. A autora vai narrando fatos importantes e mostrando algumas conexões. Talvez esses espaços vazios foram o que faltaram para mim.

Os outros livros de Mukasonga são mais marcantes. Provavelmente por terem relatos e lembranças muito mais pesadas. Ainda assim indico este livro.
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Lariza 02/02/2021

Em alguns momentos senti sono..
Mas também senti raiva de alguns personages, senti alegria, senti nojo em outros momentos.

O livro não tem nenhum personagem principal, o que me fez (principalmente no começo) voltar várias vezes para lembrar a história de cada nome que aparecia.

A história é contada através dos olhos de crianças, dando um ar bem leve.. mesmo diante brutalidades. (Maaas.. reforço que teve momentos bem difíceis de digerir).
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isabelfilardo 27/03/2021

Ruanda e suas dores
Há poesia, há fato na escrita de Scholastique. É minha segunda experiência com a escritora, a primeira foi A Mulher de Pés Descalços. Ela fala de coisas tão pesadas de um jeito tão despretensioso! Demorei para engrenar na leitura, mas numa segunda tentativa fluiu muito e me emocionou. Ruanda me encanta e me convida a conhecê-la.
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Dani Pontes 08/05/2021

Violência em ebulição
O livro mostra as vidas de várias meninas num colégio colégio para elas algum tempo antes do genocídio de Ruanda
Além da rotina da escola e uns dramas de algumas delas a autora retrata mto claramente o crescendo da violência em ebulição no país, dos hutus X tutsis.
Apesar do tempo tão pesado e violento a escrita é leve e gostosa e não dá vontade de largar o livro!!
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Claudio 11/05/2021

Muitas histórias, muitos personagens, pouca liga
O livro traz muitos personagens mas nenhum envolve completamente e as histórias são ligadas por um pano de fundo apenas, diferente da minha expectativa, de ter um romance fluido.
A parte positiva é pela demonstração de uma Ruanda em guerra civil e os aspectos culturais e sociais desse período.
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Fabi.Filippo 16/05/2021

Nossa , gostei bastante do livro. Nessa narrativa pungente, Scholastique até me deixou na dúvida se aquelas páginas poderiam ser algo pelo qual passou e sentiu na pele.
Sabemos que ela é uma tutsi sobrevivente do massacre. Autoficção talvez .
A leitura me instigou a saber mais sobre o genocídio ruandês que culminou em 94, ano em que cerca de 800.000 tutsi foram dizimados em 100 dias.
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