Henrique Fendrich 28/01/2022
O livro conta a rotina de um liceu para moças na Ruanda, em meio às efervescências do conflito entre os grupos hutu e tutsi no país. Trata-se de um pedaço da África já cristianizado por europeus (no caso da Ruanda, alemães e depois belgas), mas nota-se que nem por isso havia uma integração verdadeira da população do país às tradições ali implantadas pelos brancos. O liceu com nome religioso não era empecilho para que as moças buscassem outros tipos de sabedoria, inclusive as que seriam rotuladas de pagãs pela religião dominante. Não havia mesmo muito motivo para acreditar no tipo de cristianismo ali praticado, a julgar pelo padre que conduzia as celebrações no liceu, um velho hipócrita e tarado pelas meninas.
Não há exatamente um trama única no livro, mas vários capítulos com pequenas histórias envolvendo diferentes moças e episódios no liceu. Entre as que me chamaram mais a atenção está a de uma visita ao liceu da rainha da Bélgica e a da tentativa de uma das garotas em trocar o nariz da estátua da Virgem, porque ela tinha um nariz de tutsi, algo inadmissível para os hutus...
Confesso que, de maneira geral, o livro não me empolgou muito, mas ele teve o mérito de me chamar a atenção para questão dos tutsis e dos hutus na Ruanda e no Burundi, a ponto, inclusive, de me fazer pesquisar em fontes externas ao livro. Acho que um dos méritos dos livros é justamente quando isso acontece, ou seja, quando o assunto não se encerra com ele.
Já no final do livro, há esse trecho bastante significativo:
"Ruanda é o país da Morte. Você se lembra de uma história do catecismo? Durante o dia, Deus percorria o mundo, mas, todas as noites, ele voltava para a casa em Ruanda. Um dia, quando Deus estava fora, a Morte veio e tomou o seu lugar. Quando ele voltou, ela bateu a porta na sua cara. E foi assim que instalou o seu reino em nossa pobre Ruanda. Ela tem um projeto e está decidida a levá-lo até o fim. Eu só voltarei pra cá quando o Sol da vida voltar a brilhar sobre a nossa Ruanda".