A mulher de pés descalços

A mulher de pés descalços Scholastique Mukasonga




Resenhas - A mulher de pés descalços


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Bookster Pedro Pacifico 26/02/2020

A mulher de pés descalços, de Scholastique Mukasonga – Nota 8,5/10
Sobrevivente da guerra civil que assolou a Ruanda no começo da década de 90, Mukasonga escreveu alguns livros para relatar as atrocidades e sofrimentos que vivenciou. Em “A mulher de pés descalços”, a autora faz uma homenagem à sua mãe, Stefania, uma das vítimas do massacre do povo Tutsi. No entanto, apesar de tratar da violência sofrida pela etnia minoritária do país (em comparação com os Hutus, que correspondiam a mais de 90% da população), Mukasonga se concentra em reconstruir a figura de sua mãe a partir de suas memórias de infância relacionadas com as tradições do seu povo. Para isso, a autora transita entre temas como a figura da mulher nas relações familiares dos ruandeses, até detalhes culturais como moradia, alimentação e casamento.

A maior parte da narrativa se passa em Nyamata, uma cidade no sudeste da Ruanda, para onde a sua e outras famílias Tutsis foram deportadas na década de 60. O leitor aprende sobre a história do país e de seu povo por meio de uma escrita sensível e impactante.
Ao longo do livro também é possível identificar os impactos que a colonização trouxe para a vida dos ruandeses. Embora seja nítida a imposição dos costumes pelos colonizadores, uma parte das tradições consegue sobreviver e se adaptar à nova ideia de civilização. De fato, ao mesmo tempo que Stefania acreditava e conhecia “as plantas de bom augúrio”, não deixava de ir às missas católicas todos os domingos.

Ao se propor a refazer a memória de sua mãe, Mukasonga na verdade conseguiu refazer a memória de todo um povo e de milhares de mães da Ruanda, vítimas de um massacre assustador e que deixou suas marcas permanentes na história.

“Mãezinha, eu não estava lá para cobrir o seu corpo, e tenho apenas palavras – palavras de uma língua que você não entendia – para realizar aquilo que você me pediu. E estou sozinha com minhas pobres palavras e com minhas frases, na página do caderno, tecendo e retecendo a mortalha do seu corpo ausente.”

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Janaina Edwiges 12/12/2020

"Estou sozinha com minhas pobres palavras"
A mãe de Scholastique sempre dizia às filhas: “quando eu morrer, quando vocês perceberem que eu morri, cubram o meu corpo. Ninguém deve ver meu corpo, não se pode deixar ver o corpo de uma mãe”. Scholastique não pôde cobrir o corpo de sua mãe morta, assassinada durante o genocídio em Ruanda, lhe restou apenas palavras para homenageá-la e também a todas as mulheres, através deste emocionante romance, A mulher de pés descalços.

Este é um livro dolorido, mas ao mesmo tempo muito belo e delicado. Vamos conhecer sobre o dia a dia da família no exílio, especialmente as lembranças que a autora tem de sua corajosa mãe, Stefania. A história é extremamente rica, com muito enfoque nas mulheres. Nos mostra a cultura dos tutsis, os ritos de casamento, os alimentos, as plantas medicinais utilizadas e várias outras tradições herdadas dos ancestrais, que permeavam o ambiente familiar.

A mulher de pés descalços é o segundo livro da trilogia sobre o genocídio de Ruanda. O primeiro é Baratas e o último Nossa Senhora do Nilo. São leituras extremamente necessárias, que tocam o nosso coração.
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Layla.Ribeiro 14/05/2022

Desafio literário 2022- Autoria Africana
Antes de ler o livro é preciso saber que em Ruanda existe um problema de conflito étnico, problema esse que vem ao longo da história do país, especificamente em 1994, onde houve um dos maiores genocídios do mundo, na qual o grupo hutus exterminou cerca de um milhão de pessoas da etnia tutsi, seja idosos, crianças, bebês e mulheres grávidas, sem exceções. A autora deste livro foi por sorte, a única sobrevivente de sua família, ela traz neste livro memórias de sua infância e principalmente da sua mãe, uma mulher muito importante para a comunidade em que viviam. Diferente do outro livro que li ?Baratas? da mesma autora, este livro é mais ?leve?, focado em apresentar ao leitor as tradições das pessoas ruandesas: as habitações, o sincretismo religioso, a alimentação, a vida das mulheres, o calendário baseado na colheita do Sorgo, a intervenção branca dos belgas na sua cultura e também assuntos pesados, como a segregação étnica, a perseguição dos militares, estupros e a incerteza do amanhã. Terminei a leitura com um pesar profundo e reflexivo por saber que a maioria dos personagens citados foram exterminados, apesar de uma leitura densa, eu recomendo a vocês que conheçam a história desse povo.
Eric Luiz 14/05/2022minha estante
A guerra civil de Ruanda é um doa capítulos mais tristes da história da humanidade.


arthurzito 16/05/2022minha estante
Depois lerei esse




Gabriela3420 11/07/2020

A mulher de pés descalços
Scholastique Mukasonga escreveu este livro como uma forma de homenagear e dar um "enterro" digno a sua mãe, Stefania, vítima do genocídio da etnia Tutsi ocorrido em Ruanda, em 1994. Ao rememorar a sua infância em Nyamata, uma região erma do país, onde o povo Tutsi foi obrigado a se exilar desde a década de 60, a autora conduz o leitor pelos costumes e tradições ruandesas, conta o cotidiano de sua mãe, uma senhora muito conhecida na comunidade por ser casamenteira, seus hábitos alimentares e de moradia e descreve de forma poética e por vezes impactante a história de luta de um povo que tenta resistir as pressões dos colonizadores belgas e do acirramento das questões étnicas do país.
Ao mesmo tempo que é um mergulho na rica cultura de Ruanda a narrativa também é um retrato do que foi umas das piores guerras civis do século XX. É um precioso livro sobre as memórias de antes do genocídio, o qual a autora foi uma das poucas sobreviventes da família porque já tinha conseguido fugir para a França. Scholastique deu voz não só a suas perdas e dores no genocídio, mas se tornou uma porta-voz da diáspora negra e do povo Tutsi.
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Leio, logo existo 01/05/2021

Emocionante
O livro "A mulher de pés descalços " foi escrito por Scholastique Mukasonga para homenagear a mãe que foi uma das vítimas do genocídio étnico em Ruanda, durante a década de 1990.

Enquanto a autora narra a rotina da família durante o período  que viveram em um campo de refugiados, Mukasonga nos apresenta a cultura ruandesa.

Ela escolhe a própria mãe, Stefania, para segurar nossas mãos e nos levar aos encantos e tristezas dessa terra marcada pela violência, mas também pelo amor materno e pela solidariedade.

Para mim,  a leitura ganha mais potência quando o leitor conhece o contexto de sua escrita. Li o livro duas vezes e em ambas as leituras foi difícil controlar a emoção.

Livro super recomendado?
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Flavinha 04/04/2023

Um livro recheado de memórias e afetos. Retrata a importância das mulheres na manutenção da família, da transmissão de costumes ancestrais, da cultura alimentar e das histórias contadas em rodas de família e amigos. A importância da comunidade e solidariedade ao enfrentar os problemas. E também da chegada do novo, a civilização. Nos instiga a querer conhecer cada vez mais sobre Ruanda.
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Leticia 22/08/2020

A mulher de pés descalços, livro de não ficção, retrata o conflito entre Tutsi e Hutus em Ruanda. Scholastique escreve esse livro em homenagem a sua mãe e as milhares de vítimas do genocídio.
A autora proporciona um resgate cultural dos Tutsi, descrevendo os rituais, tradições e costumes, que mesmo sendo atravessados pelo cristianismo, conseguiram manter suas identidades. Scholastique oferece não somente o resgate de uma memória familiar, mas de todo um povo.

"Mãezinha, eu não estava lá para cobrir o seu corpo, e tenho apenas palavras - palavras de uma língua que você não entendia - para realizar aquilo que você me pediu. E estou sozinha com minhas pobres palavras e com minhas frases, na página do caderno, tecendo e retecendo a mortalha do seu corpo ausente."
Anderson 22/08/2020minha estante
Nossa, já vou procurar, deu muita vontade de ler


Leticia 22/08/2020minha estante
Eu gostei bastante, é um relato visceral. A autora possue uma trilogia testemunhal do conflito: A mulher de pés descalços, Nossa senhora do Nilo e Baratas. Só li o primeiro, mas estou muito interessada nos outros :)


Anderson 22/08/2020minha estante
Muito bom, espero gostar tanto quanto você


kellen.ssb 23/08/2020minha estante
Eu gostei da "Mulher de Pés Descalços", mas gostei ainda mais de "Baratas" (autobiografia).


Leticia 23/08/2020minha estante
Kellen, eu quero muito ler Baratas, espero gostar também :)




Toni 25/09/2018

Terminei a leitura com uma lágrima descendo e o dedo no site da Amazon para comprar meu próximo livro da autora, o Nossa Senhora do Nilo (segunda parte da trilogia sobre o genocídio de Ruanda que se completa agora com o lançamento do terceiro volume, Baratas). Livros como A mulher de pés descalços me fazem lembrar uma bobagem que às vezes a gente esquece: como a literatura é imprescindível. Onde mais encontrar os ritos que acompanham a colheita do sorgo em Ruanda? Onde mais descobrir como as mães de família constroem seus inzu? Onde mais conhecer a dor de quem fez tudo o que estava a seu alcance para salvar os filhos da morte certa?
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Neste breve relato, Mukasonga elabora um lugar de memória não apenas para sua mãe, assassinada pelos hutus durante o genocídio de 1994, mas para toda a cultura de resistência e sobrevivência de uma comunidade de ruandeses exilados dentro da própria terra.
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Apesar da ameaça sempre presente do extermínio, os eventos que levaram ao massacre de 800 mil tutsis em apenas quatro meses não integram esse relato, focado mais nas histórias de vida de Stefania, mãe da autora e símbolo da força e do valor da mulher ruandesa. Mas no momento em que este livro-mortalha escrito para uma mãe se torna aos nossos olhos a história de todas as mães ruandesas, a autora nos arrebata com o reconhecimento de seu fracasso. Como é possível, afinal, fazer de um livro pano grande o suficiente para cobrir todos os mortos, todos-todos?
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Apenas leiam.
Rosana 25/09/2018minha estante
Excelente resenha, parabéns!


Raquel.Wandelli 25/03/2019minha estante
Difícil encontrar um resenha que traga uma experiência particular de leitura e consiga inscrevê-la numa ordem universal. É isso: Mukasonga nos leva da mãe ao povo, do indivíduo ao universal.
Excelente comentário


Ygor Gouvêa 12/01/2021minha estante
Muito bom seu comentário. N sei porque aqui lançaram o Baratas por último, ele foi o primeiro lançado lá fora, em 2006, e é uma excelente porta de entrada pra tudo que ela escreveu depois. N que tenha necessidade de seguir uma ordem, já q podemos chamar a trilogia de informal.




Day! 13/05/2021

Adorei a história, achei que iria ter mais sobre a guerra , mas adorei poder conhecer como era a vida da pessoas antes . Livro bem triste .
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Roseane 10/01/2021

A mulher dos pés descalços
Livro escrito para Stefania, a mãe de Scholastique Mukasonga. Uma mãe que tinha uma ambição: ter seus filhos vivos. Scholastique Mukasonga é uma escritora Tutsi sobrevivente do massacre de Ruanda o qual exterminou a sua família em 1994.
Ruanda é um país que fica no centro da África. Ficou conhecido devido ao genocídio. Composto por três etnias principais Twa, Hutus e Tutsis. Os Hutus eram maior número e eram agricultores e os Tutsis eram ligados a agropecuária e com isso maior poder econômico. Colonizada inicialmente pela Alemanha, o controle passa os Belgas. Os Belgas incentivaram rivalidades entre as duas etnias usando o argumento da hierarquia de raça. Alegavam que os Tutsis eram superiores porque tinham traços mais próximos do Europeu. A largura do nariz era um dos elementos usados para justificar a superioridade dada aos Tutsis, pois era de uma estrutura mais fina. Os Belgas ofereceram escolarização aos Tutsis através das missões católicas e chegaram a escravizar os Hutus. Algo que não existia foi implementado: a obrigatoriedade nomenclatura da etnia nos documentos oficiais.
Rivalidades políticas e econômicas entre as etnias foram alimentadas. Após queda de um avião em 1994, onde estava o presidente que iria assinar um tratado de paz, foi o estopim para o massacre. Há quem diga que o massacre ja estava planejado antes do acidente. Milícias foram formadas, vizinho matava vizinho e os militares tentavam exterminar os Tutsis. Norte Americanos, Franceses e Belgas, cúmplices reais do massacre deram as costas para a situação.
A autora escreveu uma trilogia sobre o genocídio e esse livro é o que resgata a memória de seus ancestrais, os costumes e as tradições do seu povo.
Expulsos de suas terras, sua mãe Stefania, as três filhas mulheres, os dois filhos homens e o marido foram viver em uma área de refugiados e tiveram que adaptar as suas tradições. Stefania tinha certeza da morte precoce e sua vida mudou completamente. Passou seus últimos meses de vida criando estratégias para manter os filhos vivos. Para si mesma só tinha um desejo: que seu corpo fosse coberto por um pano em caso de sua morte.
A autora é a única sobrevivente da família pois não estava lá no dia do massacre e não pode cobrir o corpo de sua mãe com pano e decidiu cobrir o corpo com palavras. Em memória da sua mãe livro foi escrito.
Stefania temia o adiantar da morte de seus filhos pela violência a qual a sua comunidade estava sendo submetida sistematicamente. Sem a presentesão de fazer falsa simetria, a cada 23 minutos morre um jovem negro no Brasil, as nossas mães pretas também vivem a angústia de uma possível morte precoce dos filhos.
A estratégia colonial para adiantar a morte foi parecida da que foi usada com os negros no Brasil. Ao fim da escravidão negra brasileira, impediram que os ex escravizados/libertos e seus descendentes tivesse acesso a terra, educação, trabalho livre remunerado ou qualquer assistência/reparação/indenização. Esperava-se que os negros morressem de alcoolismo e fome. Em Ruanda a etnia Hutus removeu os Tutsis para uma área remota para que fossem dizimados por doenças como a do sono, para que morressem de fome, além das repressões militares que resultavam em mortes violentas. E como no Brasil, apesar dos pesares, os tutsis sobreviveram. O que os colonizadores subestimam é que o processo civilizatório africano é pautado na solidariedade e comunidade.
Os militares lembravam aos Tutsis que eles não eram mais humanos, e foram apelidados de "barata". Suas vidas eram descartáveis. Invadiam as casas, saqueavam, aterrorizavam os moradores, quebravam objetos. Uma das lembranças relatadas pela autora, foi um dia em que a família havia terminado o jantar e estavam sentados em suas esteiras ouvindo um irmão ler um livro e pai rezar o rosário. De forma inesperada três soldados entram na casa, pisaram na comida, bateram em alguns membros da família, destruíram a mobília e em sequência foram para as casas vizinhas fazer o mesmo. Me faz lembrar dos relatos dos moradores de favela do Rio de Janeiro e as operações policiais. Com o álibi de que estão procurando drogas, invadem as casas, quebram o podem, agridem quem estiver à vista e matam a esmo.
O projeto de vida de Stefania era salvar seus filhos. Cavava os buracos nas tocas de tamanduá para que as filhas menores se escondessem, ensaiava as rotas de fuga, estocava a tão escassa comida. Sempre aperfeiçoava os planos de sobrevivência. O exílio para outro país, ela e o marido não cogitavam, era como se eles tivessem decididos morrer em Ruanda.
O alimento não era só pra nutrir o corpo, era um gesto de amor das mães. Ter filhos era motivo de muito orgulho e realização se transformou em temor. Havia uma vizinha mãe de 7 filhos, que deveria ser a mulher mais realizada do mundo. Mas seus meninos poderiam ser mortos ou convocados para a milícia a qualquer momento e essa mãe estava mergulhada em tristeza profunda. As mães de meninas viviam sob o pesadelo do risco do estupro coletivo o que é uma pratica em situações de guerra.

Soldados alemães estupraram belgas ao invadir a Bélgica durante a Primeira Guerra Mundial; turcos estupraram armênias durante o genocídio na Armênia em 1915; japoneses assediaram chinesas durante o “Estupro de Nanking” em 1937-1938, violando indiscriminadamente mulheres e crianças e profanando os seus corpos com baionetas e outros objetos; russos celebraram a derrocada da Alemanha nazista em 1944-1945 com estupros em massa contra milhares de mulheres (alemãs, polonesas, russas, judias); norte-americanos estupraram vietnamitas durante a Guerra do Vietnã nos anos 1960; hutus estupraram mulheres tutsis no decorrer do genocídio de Ruanda, nos anos 1990; muçulmanas foram continuamente violadas em campos especificamente montados para tal propósito (rape camps) na Iugoslávia, também nos anos 1990 (Samanta Moura, 2015)

O livro fala sobre como branco interferiam na cultua Ruandense com as missões católicas. A busca da “civilização” através da igreja. Todos tinham que ser batizados, trocar de nome, não podiam trabalhar aos domingos, roupa, penteados tudo recebia a tentativa de “embranquecer". Os costumes e tradições que ocorriam dentro e casa foram as que sofreram menos influência, assim como moradores de área remota onde os Missionários não tinham construídos uma base.
O cultivo da terra era uma tarefa árdua, mas com vários propósitos. Eram de onde tiravam alimentos, eram onde plantavam ervas medicinais, era o momento em que as mães passavam para os filhos os segredos das tradições. Cultivavam plantas para atrair prosperidade. A autora relata que se surpreendeu ao descobrir que batata-doce, o milho e o feijão eram oriundos das Américas.
Na literatura descrevem as mulheres Tutsi como dona de casa que faziam cestinhos para turistas e manteiga.
Contudo a autora se recorda das mães sempre com uma enxada na mão e os filhos nas costas. Trabalhos de campos intermináveis.
O sorgo tem o seu destaque. Cultivado em uma área exclusiva, o alimento legítimo ruandês. O rei das plantações. Com ritual próprio e grandes festejos na coleta é o grande talismã contra fome, contra calamidades e sinal de fertilidade e abundância. Mukasonga aprendeu o cultivo com a mãe.
Umuganura é o nome da festa pós coleta e da massa do sorgo. Por ser uma festa familiar onde nem os vizinhos participavam, muito foi preservado da influência dos missionários que não tentaram cristianizá-la. Crianças tinham a honra de colher as espigas, mas não podiam ser filhos bastardos, doentes, franzinos ou com problemas físicos. Não podiam usar panelas de metal, mas sim potes de cerâmica. Evitavam utensílios introduzidos pelos brancos. Todos da família deveriam comer, cantar e dançar em honra do sorgo.
Mulheres, homens e crianças, todos tinham funções específicas. tudo era feito em e para a comunidade. De tudo que se produzia com o sorgo, a cerveja era o mais esperado. Hoje substituída pelas marcas Primus e Amstel, a cerveja de sorgo é descrita como bebida de velho. Mas em torno jarros de cerveja de sorgo, laços de familiares se fortaleciam, conflitos eram resolvidos, casamentos negociados, vizinhos confraternizavam.
Com tratamento médico limitado e precário, crianças e idosos acabavam morrendo de diarréia. O tratamento com os saberes tradicionais ajudava. Stefania não era uma curandeira clássica, mas como uma boa mãe, tinha suas recitas. Conseguiu plantar alguma coisa em casa, mas nada comparável ao que era antes da deportação. O alimento de riqueza suprema que sentiam falta era o leite. Tomaram suas terras, assassinaram o gado e os veados, queimaram os estábulos.
Ao nascer as crianças passavam por um ritual e então eram reconhecidas e acolhidas como irmão da comunidade e deveria ser protegido por todos. No final do ritual, as crianças maiores se sentavam no chão e estendiam o braço para receber o bebê em seu colo que era passado de mão e mão. Dessa forma ele era adotado por todo o vilarejo. A autora não recebia bebês em seus braços pois segundo sua mãe era estabanada.
Na missa era ensinados que Deus proibia trabalhar aos domingos e se não obedecessem, ele surgiria por cima de nuvens negras, ardendo de cólera e rodeado de línguas de fogo. Então Domingo de manhã iam pra igreja e as tardes cuidavam da beleza. Catar piolho era um ritual feito nos quintais das casas, encontros apenas com as mulheres. Na maioria das vezes não tinha piolho, mas era o momento em que os dedos maternais percorriam as cabeleiras com afago. O racismo se articulou para transformar esse momento em dor, afirmando que o cabelo crespo era ruim. Pentear os cabelos foi transformado em uma batalha para se adequar a aceitação social. No livro é explicado o amor que é transmitido de mãe para filha no momento dos cuidados dos cabelos.
Amasunzus eram penteados geométricos que significava que a moca estava na idade de casar e buscava um marido. O cristianismo condenava a tradição e proibia o uso de penteado que poderia atrair os meninos. O urugori, um arco que perdia o cabelo das mulheres, era um símbolo de fecundidade, benção para as crianças e para a família. O alisamento do cabelo com ferro quente então se torna padrão, mas o equipamento ne todas tinham e chegavam a passar ferro de roupa no cabelo para se encaixar no padrão.
O estupro coletivo foi uma tecnologia de opressão e era assunto proíbo. As mulheres mudaram a tradição e passaram a acolher a vítima da violência e seus filhos. Não sabiam que status dar a essas mulheres pois não eram mocinhas e nem casadas então as vítimas recebiam o status de viúvas.
Ruanda é o país de Mães-coragem.
As mães de Ruanda são boas, amorosas, alimentam, protegem, aconselham, consolam. São guardiãs da vida.
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Karine.Campos 27/05/2021

"A Ruanda hoje é um país de Mães-coragens"
"Os brancos pretendiam saber melhor do que nós quem éramos e de onde vínhamos."

A mulher de pés descalço retrata uma ferida aberta sobre como os tutsis passaram a viver, ou melhor, sobreviver após o que ficou conhecido como o genocídio dos tutsis.

A autora nos apresenta costumes, histórias, heranças e raízes um povo que luta e sobrevive apesar de situações inimagináveis. Como ela mesmo diz "Eu queria tanto que isso que escrevo nesta página fosse uma trilha que me levasse até a casa de Stefania."

O livro é autobiográfico mostra especificamente um período da infância da autora. Com tudo isso você deve está pensando: é impossível não amar esse livro. Mas infelizmente isso não aconteceu comigo. Os dois primeiros capítulos e o último capítulo do livro são excepcionais, mas os outros sete foi uma difícil jornada para concluir. Apesar disso sempre digo que cada livro é uma jornada individual e aquilo que não me agrada pode agradar muito você.

Leia A Mulher dos Pés Descalços e se possível conheça mais sobre o genocídio que aconteceu em Ruanda em 1994 e ainda é uma grande ferida para todo um povo
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Amanda Bento 12/04/2021

Muito bom e rápido
Aproveitei um tempo atrás quando esse livro estava gratuito na Amazon e peguei para ler. Em menos de um dia terminei, completamente absorta na técnica de escrita da autora e a descrição de Ruanda pelos seus olhos. Uma leitura muito tátil que convida o leitor para a viagem até o continente africano dos anos 60, pela perspectiva feminina.
gabriella.malta 12/04/2021minha estante
Também amei esse livro




Lhyz 07/12/2022

"A Ruanda de hoje é o país das Mães-coragem."
Scholastique Mukasonga homenageou a vida de sua mãe, Stefania, com essas memórias. Esse não é um livro fácil de escrever resenha.

Faz tempo que eu venho pensando na necessidade de ler uma obra fora do eixo EUA-UK que abordasse a vivência negra de uma maneira que mostrasse a sua complexidade. E, nas dores dessa biografia de Mukasonga, encontrei muito mais do que eu acreditava que buscava.

Esse livro parece uma ferida aberta. Tem horas que você se perde nas lembranças doces e outras que você se vê cheio de silêncios perante os massacres, genocídios.

Estou sem palavras. A escrita te domina.
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aline203 12/06/2022

lindo, comovente e sensível
livro super curto mas com tanta informação e tanta beleza! 

nele, a autora, sobrevivente do genocídio de ruanda vai e volta nas lembranças da mãe e da família, antes e depois do genocídio.

da vontade de chorar logo na segunda página - vale muito a pena!
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liliana 02/11/2021

Scholastique teve todo o seu povo e sua família assassinados pelo massacre de Ruanda em 1994, onde mais 800 mil pessoas foram mortas.
Em a mulher de pés descalços, ela fala sobre sua mãe, que assiduamente tentou manter as tradições do seu povo mesmo em exílio.
Foi uma experiência muito bacana descobrir coisas inimagináveis sobre a cultura de Ruanda.
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