Lethycia Dias 07/07/2021Muito bom, porém arrastadoDepois de um longo tempo relendo O Continente, o primeiro volume de O Tempo e O Vento, peguei sua continuação com curiosidade. Eu queria saber como encararia esse "reencontro" com Dr. Rodrigo Cambará, o grande protagonista dessa parte da história, e como seria rever a relação dele com o retrato ao qual o título se refere.
A história deste volume se estende por um período de aproximadamente cinco anos, desde 1910 até o início da Primeira Guerra Mundial, com Rodrigo voltando a Santa Fé após se formar da faculdade, fazendo incursões na vida política da cidade e começando a trabalhar como médico. Rodrigo, entretanto, é cheio de contradições. Embora se diga defensor da democracia, pratica atos autoritários em nome da própria vontade; embora pense que ser mulherengo prejudica sua reputação como médico, não consegue ficar longe das mulheres; embora queira reduzir a miséria da periferia da cidade, tem horror às pessoas pobres; e, quando uma tragédia acontece ou uma pessoa querida morre, toma o protagonismo da situação, se emocionando mais com discursos que faz a respeito do acontecido do que com a perda em si.
Todas essas facetas de Rodrigo são muito bem construídas, se mostrando em inúmeros momentos ao longo da história. Mas se eu simpatizava com ele no início, fui passando a me irritar cada vez mais com seus pensamentos e atitudes. À medida que o tempo passa, Rodrigo se mostra cada vez mais vaidoso, egocêntrico, mesquinho e mimado. O rapaz bonito e ingênuo do Retrato se torna um homem bem diferente do que a aparência sugere, o que é um paralelo interessantíssimo de se fazer com "O Retrato de Dorian Gray", que li ano passado.
Embora a história deste segundo volume seja bem interessante no início, vai se tornando muito arrastada a partir de certo ponto, com uma imensa repetição de encontros e jantares com amigos no Sobrado, em que ouvimos as mais entediantes conversas sobre política - por mais que sejam importantes para a narrativa no sentido de mostrar as diferentes forças ideológicas que conviviam no país naquela época e que estão presentes no microcosmo da pequena cidade de Santa Fé. Quando cheguei ao fim do livro, eu torcia para que essas reuniões fossem substituídas por mais uma guerra em que todos os amigos de Rodrigo morressem.
Reler este segundo volume foi mais desafiador do que reler o primeiro, e foi até com certo alívio que me deparei com o breve ponto de vista de Floriano, filho mais velho de Rodrigo, já adulto, iniciando o tom do terceiro volume. De forma geral, foi uma leitura boa, porém bastante cansativa.
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