spoiler visualizarMárcia 20/03/2023
Coisas futuras...
O livro traz a história de dois irmãos gêmeos, Pedro e Paulo, que brigam desde o ventre da sua mãe. Santos e Natividade, os pais dos gêmeos, são pessoas da alta sociedade, ele um banqueiro que no decorrer do romance recebe o título imperial de Barão de Santos. Em busca das predições sobre o futuro dos filhos, Natividade vai ao encontro da cabocla Bárbara, uma adivinha com bastante referências, a qual apenas lhe diz que haverá grandes coisas futuras, as quais são bastante esperadas durante a narrativa. Os gêmeos crescem, tornam-se doutores (um médico e outro advogado), mas com várias divergências entre si, desde os ideais políticos, Paulo era Republicano e Pedro Monarquista, até mesmo a paixão pela mesma mulher.
Entre idas e vindas, o romance, que está ambientado no contexto da Proclamação da República brasileira, nos apresenta uma alegoria político-social-religiosa, em que, o narrador, que também é personagem, o Conselheiro Aires, nos mostra a inquietude pelo desejo de mudanças, através dos personagens e suas indecisões. Flora não consegue se decidir por um dos irmãos; Pedro e Paulo não conseguem se unir, mesmo diante das promessas feitas no leito de morte da mãe e da amada.
Esaú e Jacó, enquanto personagens, não aparecem na narrativa, mas são símbolos essenciais para a compreensão da narrativa, visto que eles foram irmãos gêmeos que brigaram muito, mesmo sendo os filhos da promessa de Isaque e Rebeca no contexto bíblico.
Assim, ao esperar as “coisas futuras”, ou seja, o tempo, Machado de Assis deixa claro que, “[…] o tempo é um tecido invisível em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de invisível é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro.” (p. 84) e a ação de esperar que algo aconteça com o decorrer do tempo, nem sempre acontece, pois, a mudança, muitas vezes, se dá pelas atitudes e essas não foram tomadas para que houvesse um outro desfecho do livro, tanto no plano ficcional, quanto no histórico.