Última Saída Para o Brooklyn

Última Saída Para o Brooklyn Hubert Selby Jr.




Resenhas - Última Saída Para o Brooklyn


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Marc 08/02/2024

O caso de Hubert Selby Jr. é parecido com o que acontece com Henry Miller. Por escrever sobre a marginalidade e com um estilo bastante atípico, muitos confundem seu objeto com uma espécie de apologia daquela vida e passam a tirar as conclusões mais estapafúrdias possíveis, como a de que são autores críticos ao sistema capitalista e ao modo de vida americano. A verdade, no entanto, é que ambos têm uma visão muito mais complexa da existência e não estão interessados em regimes políticos ou econômicos. Aliás, apenas leitores medíocres tendem a reduzir tudo à mera política, buscando sinais de semelhança com sua ideologia, seja ela qual for, para somente a partir daí concordar com o autor. Mas antes de entrar no comentário específico sobre o livro, precisamos entender as razões que fazem a vida marginal ser tão mencionada e festejada entre intelectuais e artistas.

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Tudo começa com a proposição de que o proletariado seria o responsável pela revolução, segundo Marx. Por décadas, o movimento marxista investiu tempo, dinheiro e neurônios para tentar viabilizar essa possibilidade. Mas a história traiu os crédulos marxistas na Primeira Guerra Mundial. Nada do que Marx previra aconteceu. Ao invés de o proletariado romper as barreiras da nação, cultura, língua e religião, descobrindo a luta em comum contra o capital, tivemos a maior guerra que a humanidade já havia visto. A solidariedade que deveria se formar dentro da classe, independentemente do país e da língua, simplesmente não aconteceu. E, para piorar, poucos anos depois, a dose foi repetida e novamente o marxismo não tinha aparato teórico capaz de lidar com a realidade concreta. Exatamente nesse ponto entra a Escola de Frankfurt. Seria útil comentar a solução que cada autor buscou, mas para a leitura deste livro, precisamos citar apenas Herbert Marcuse.

Como o proletariado havia escolhido caminhos bem diferentes da previsão marxiana, e as condições materiais depois da Segunda Guerra melhoraram sensivelmente mostrando que ideologicamente ele não se interessava por revoluções, era preciso encontrar novos protagonistas nesse cenário. Foi, então, que Marcuse olhou primeiro para os artistas, que não poderiam nem ser chamados de uma classe e não tinham interesse ideológico algum definido. Mas, logo em seguida, ele descobriu uma “classe” que era essencialmente destrutiva, que poderia ser usada para fazer a revolução e ainda apresentaria a vantagem de não cobrar as promessas que os líderes haviam feito durante o processo. O lumpen proletariado, os descamisados, miseráveis, bandidos, drogados, bêbados, prostitutas e toda a variedade de figuras marginalizadas se tornou a estrela da revolução. As vantagens eram evidentes, além da já citada, como o fato de serem pessoas sem objetivos definidos, que estão num nível de deterioração moral, física e psicológica (sem contar o espiritual) tão absurdo que podem ser manipuladas facilmente através de pequenas recompensas imediatas, como um sanduíche de mortadela, pequenos valores, drogas ou qualquer outra promessa que vá corresponder à ânsia de buscar satisfação imediata que caracteriza essas pessoas.

O lumpen proletariado é composto por pessoas que se desumanizaram, que não sonham, não esperam absolutamente nada da vida, não fazem planos; elas esperam apenas encontrar a próxima garrafa, o outro parceiro sexual, o otário que será espancado e roubado, mais um pouco de drogas e assim por diante. É por essa razão que vemos a glamourização da vida marginal a partir dos anos 1940 e 1950. Se tratava de mostrar que aquela vida não era tão ruim, de amenizar a ojeriza que a classe média sentia por essas pessoas, torna-las menos ameaçadoras para que pudessem ser incluídas no jogo político, saindo de sua invisibilidade nos subúrbios e acessando os centros das cidades, gritando e protestando por mudanças. Embora isso tenha sido chamado de “realidade” todas as vezes que aparecia na TV, literatura ou músicas, nada foi mais falso do que essa inclusão forçada de uma população cuja vida não tem sentido, não tem amanhã, na busca por mudanças sociais que não as atingiriam e não mudariam em nada sua vida. O livro de Hubert Selby está inserido nessa discussão, mas de um modo diferente do que costumam se referir a ele comumente.

O autor viveu entre essas pessoas e soube compreender seu modo de vida. Mas o livro traz um tipo de ironia com as esperanças depositadas pelos intelectuais que chega a ser cruel. Não somente — ele parece nos mostrar página após página — eles não farão a tão esperada revolução, como um movimento político ancorado nessas pessoas tende a ser o completo caos e não vai permitir que os planos revolucionários prossigam. É como se o poder destrutivo do lumpesinato pudesse ser direcionado contra o capitalismo e a democracia, mas que depois, esse movimento vai prosseguir por inércia, corroendo e contaminando toda a sociedade, rebaixando cada vez mais seu nível intelectual e moral, seu nível psicológico e espiritual, até que se torne impossível obter qualquer apoio na sociedade para manter o regime.

A crueza de pessoas como Georgette, o travesti que passa páginas e mais páginas tentando transar com o sujeito por quem está apaixonado. Nesse capítulo são consumidas toneladas de drogas, o sexo é banalizado e todos os personagens possuem algum tipo de desvio moral e de auto entendimento. A citação bíblica no começo do capítulo (“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” Gênesis 1:27) funciona para mostrar que aquelas pessoas estão alheias a uma sabedoria mais antiga e profunda, que vivem de modo a buscar apenas a satisfação de seus desejos imediatos e que dentro do tipo de vida que elas tem, o sentido das Escrituras é totalmente alterado — ou inexistente, mesmo. Em determinado momento, há uma leitura de Edgar Alan Poe e o clima do lugar muda, todos se calam, param de se drogar, de tentar fazer sexo desesperadamente. Mas o tom de solenidade com que todos acolhem a leitura do poema mostra que não estão realmente compreendendo e que qualquer coisa adquire um tom de sacralidade nessas circunstâncias. É praticamente uma performance em que Georgette procura estabelecer um paralelo entre si e o corvo do poema, algo incompreendido pela maioria das pessoas, mas que poderia conter em sua vida alternativa um tipo de verdade antiga e esquecida, uma verdadeira sabedoria sobre o amor. No entanto, como tudo o mais com essas pessoas, o momento dura pouco e logo a banalidade dos desejos volta a dominar e todos voltam a se entregar com um certo desleixo e tédio, de quem não sabe, no entanto, o que mais poderia fazer além disso.

E, ironicamente, a única verdade a que essas pessoas tem acesso aparece no fim do capítulo, uma resposta à única indagação que Georgette foi capaz de formular. Não vou mencionar, porque é de virar o estômago, mas é uma amostra exata de quão rasas podem ser as preocupações dessas pessoas e como elas não podem ser a base política de nenhuma sociedade.

O livro segue dessa forma, sempre mostrando como essas pessoas não tem nada de moral em suas vidas, não tem ideais e vivem apenas do imediato. De certa forma, me lembrou o projeto filosófico nietzscheano, que pretendia extirpar a consciência moral (o que o filósofo entendia como adoecimento da humanidade provocado pelo cristianismo, Sócrates e Platão) e colocar em seu lugar um tipo de existência que buscasse apenas a afirmação dos desejos. A propósito, deixando escapar uma crítica, Bauman afirma que Nietzsche nada mais fez do que antecipar os valores da modernidade em algumas décadas e que estamos comprovando o quanto eles não levam a lugar algum... Seja como for, a vida que Hubert Selby está descrevendo é o tipo que provavelmente mais se aproxima do que o filósofo alemão pensou, porque essas pessoas não projetam e não se permitem postergar seus desejos em nome de qualquer futuro. E, curiosamente, é o mundo do mais forte, afinal, porque onde somente os desejos e impulsos imperam, não existe qualquer tipo de regra que defenda os mais fracos: aqueles que podem mais, sempre terminam impondo sua vontade sobre os mais fracos.

Há outro aspecto que deve ser discutido em relação ao livro. É a linguagem. O autor fez o possível para reproduzir a maneira como essas pessoas pensam e se comunicam; o estilo de escrita sempre é mencionado e muitos elogiam essa agilidade de retirar travessões, aspas, pular da fala de um personagem para o outro, etc. Tudo isso para tentar se aproximar o máximo possível do que ele vivenciou e dar um quadro exato. E acredito que essa provavelmente é a melhor maneira de tornar palpável ao leitor a experiência de ter que lidar com situações conflituosas e barulhentas como as que ele está descrevendo. No entanto, o ponto mais importante em relação à linguagem é mesmo sobre o que ela significa e como está conectada com o modo de vida dessas pessoas.

Embora a lingüística teime em buscar nesses grupos a origem da linguagem, ou seja, onde são criadas as expressões e significados, nada pode estar mais distante da verdade. A linguagem dessas pessoas é uma degeneração da linguagem formal. E por linguagem formal, não precisamos entender a língua culta, mas a unidade básica do pensamento, que é a indicação de um objeto, a ordem, a obediência dessa ordem e o anúncio de seu cumprimento. É o que nos ensina Rosenstock-Huessy. Esse é o princípio da linguagem porque mostra como podemos apontar o exterior (apontar um objeto próximo é o princípio elementar da relação com o mundo); como lidamos com as pessoas (dar ou receber uma ordem é, por sua vez, o primeiro elemento de reconhecimento do outro); cumprir uma ordem significa nossa capacidade de projetar uma relação além de nossos desejos e anunciar o seu cumprimento fecha o circuito, mostrando que, de alguma forma, temos consciência de nosso papel social, da existência do outro, do mundo e do ordenamento. Agora, como isso fica em pessoas cujo único objetivo é dobrar o mundo e forçá-lo a realizar seus desejos mais imediatos? A linguagem dessas pessoas não apenas será incapaz de realizar esse circuito básico, como vai expressar uma pobreza de significados e sentimentos aterradora.

Pois é isso que a linguagem desses grupos nos mostra: incapacidade de raciocinar a longo prazo, pobreza de significados e expressões (a despeito do colorido que tende a apresentar, o que esconde sua pobreza), um universo existencial muito pequeno e confusão de sentimentos. Veja a sufocante história de Harry, o pelego do sindicato, que não suporta sua vida, mas não consegue meios de se livrar de seus problemas, pois lhe falta não apenas capacidade de enxergar a situação com clareza, como imaginação para buscar soluções. Então, dia após dia, ele se senta em uma mesa, carimba carteiras de trabalho e bebe muita cerveja, até ficar bêbado. Esses são seus dias durante a greve, mas ele pensa que tem uma importância tão grande que nada aconteceria sem sua participação. O que chama a atenção é que qualquer um temeria por seu futuro, ficaria temeroso em desafiar os poderosos, olharia para seu filho e pensaria em seu futuro, mas Harry não consegue nada disso e ainda fica fascinado quando um travesti se insinua para ele, o que o faz começar a freqüentar os bares onde eles ficam à noite. Perceba, nem se trata de um mergulho no inferno. Tudo se passa sempre no mesmo nível, não há mergulhos, pois onde não há consciência moral, tampouco consciência espiritual, não há nada a se perder. Por isso, tanto faz, efetivamente falando, se o sujeito injeta drogas, comete crimes, violências ou se entrega à devassidão, tudo tem o mesmo peso, e muda apenas o gosto do freguês, mas todas tem o mesmo efeito: correspondem à necessidade de prazer.

A linguagem desses grupos sofre dos quatro tipos de doenças que Rosenstock-Huessy explica. Essas pessoas não se interessam por aquilo que outros tenham a dizer; não encontram quem lhes diga o que fazer, ou seja, lhes direcione na vida; sua linguagem não passa de uma gritaria inarticulada, onde o novo está sempre submetido aos desejos, sem relação com o passado; paradoxalmente, ao mesmo tempo, não deseja, alterar suas vidas, se mantendo num tipo de “tradição” como se já soubessem tudo que a vida tem a ensinar e rejeitassem qualquer novidade. Apenas para registro, segundo Rosenstock-Huessy, a cada uma dessas doenças da linguagem corresponde uma situação social grave: à primeira, corresponde a guerra, à segunda a crise (econômica), depois a revolução e, por fim, a tirania degenerada, que procura destruir o futuro.

Pode parecer que é ir longe demais tentar analisar o lumpen por esse ponto de vista, mas é a linguagem deles o que mais provoca deleite nas ciências humanas comprometidas com a revolução. Elas analisam esses grupos como criadores de um novo tipo de sociabilidade, desprovida dos entraves morais burgueses e que é visível através de sua linguagem. No entanto, esse mundo é restrito demais e nada de novo aparece ali, não como algo articulado e capaz de inovar o mundo. Na verdade, do ponto de vista da linguagem, uma sociedade saudável nem procura a inovação inarticulada, nem procura sufocar o novo; há um equilíbrio e dentro dessa situação, claro, não haverá o fechamento para a linguagem do outro (guerra) e nem o desvio de propósito da vida (crise). Por isso, essa classe de pessoas tem, de fato, a capacidade revolucionária dentro de si, mas é no mau sentido, como algo que visa apenas a destruição e o hedonismo. Nada de construtivo — pois uma sociedade precisa de trabalho para, no mínimo, produzir comida — vai sair dali. Mas isso ainda não é o pior.

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E. Michael Jones explica que toda a política moderna está equipada para lidar com apenas um aspecto do ser humano. Esse aspecto é o sexo. Não é preciso se dedicar a mais nada, formular teorias e criar uma ciência para outros aspectos porque esse é capaz de mobilizar toda a energia e modificar comportamentos e vidas. Aquele que consegue manipular a sexualidade do outro tem completo domínio sobre ele. Tantas teorias da psicologia, da filosofia e ciências humanas que não fazem mais do que procurar estabelecer os meandros do comportamento a partir da sexualidade e que foram usadas pelos poderosos para controlar e conseguir o que desejavam da população.

Todo o século passado é uma tentativa desesperada das elites de conseguir controlar as massas e a sexualidade é a ferramenta mais efetiva que elas encontraram. A pessoa que vive imersa na busca do prazer não consegue pensar em muito mais coisas e se volta docilmente para qualquer promessa que lhe façam — seja essa promessa explícita ou não. As modificações provocadas pelo uso comercial da sexualidade, a pornografia, a criação de métodos contraceptivos (que contém um elemento de eugenia tão escancarado que assusta que ninguém fale sobre isso), filmes, revistas, programas de TV, enfim, toda uma “cultura” da liberação sexual que visa apenas fazer com que as pessoas se convençam de que é impossível não se entregar, que essa é nossa verdadeira natureza, que não podemos fugir. E quanto mais as pessoas se entregavam, quanto mais as mudanças se aceleravam, mais o domínio político se estabelecia. Será que podemos ignorar que logo a seguir aos totalitarismos do começo do século passado surgiu uma indústria cultural que investiu sobre a liberação feminina através de métodos contraceptivos, que criou a pornografia e inverteu valores para que a promiscuidade deixasse de ser um pecado (lembre-se a religião perdeu sua força pelo menos desde um século e meio antes) e um erro para se tornar um valor positivo?

As pessoas que o livro mostra, o lumpesinato, se tornaram uma espécie de meta de vida. Quantos filmes não mostram o “sujeito livre”, que não liga para as obrigações, tem relacionamentos curtos em cada lugar que passa e que não faz nada mais do que “viver a vida”? Liberdade, eles dizem. Pois esse padrão de herói é muito parecido com os sujeitos que Hubert Selby Jr. descreve no livro, com a diferença de que ele não se importa em mostrar o quanto esse estilo de vida pode ser violento, monótono, uma vida desperdiçada, para resumir. Mas esse aspecto desse tipo de vida não costuma entrar na propaganda. O ideal que o lumpen encarna é o da vida sem freios morais ou religiosos, da entrega ao prazer, da falta de compromisso, da promiscuidade, da estreiteza de pensamento, falta de cultura e imaginário fraco, enfim, tudo que possa contestar, desestabilizar ou mesmo destruir os valores morais.

Mas não se busca a miséria. Quem pensa que reduzir as pessoas à miséria as torna suscetíveis a certas ideologias políticas, ignora que as revoltas contra a fome e os desmandos aconteciam ainda antes do capitalismo. Uma barriga com fome vai atacar o primeiro sinal de autoridade que aparecer, tenha ele a coloração política que tiver. Por isso, talvez, alguns dos líderes de hoje realmente se empenhem em tentar levar comida a todos os lares. Isso enquanto também se dedicam à educação (importante dizer que os estudantes fazem parte do lumpen, segundo Marcuse, porque não tem participação efetiva na cadeia produtiva), que condiciona mentes e correm para a aprovação de leis que restringem a liberdade religiosa, tudo em nome da liberalização e do avanço. O lumpen, pode ser, portanto, uma classe de pessoas que talvez até tenha condições mínimas de existência e não precise se preocupar nesse sentido; mas o que não pode faltar é que sejam pessoas sem moralidade, com pouca capacidade imaginativa, baixa cultura e sem freios morais. Desse ponto de vista — aterrador a meu ver — a maioria da população pode se encaixar, inclusive pessoas muito ricas, mas que se dedicam a todo tipo de baixeza que se possa imaginar. Para usar um termo caro ao marxismo, as pessoas estão presas dentro de um sistema dialético que quanto mais lhes oferece prazeres, promiscuidade, drogas, etc, mais as tem sob controle.

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A visão existencial do autor aparece no confronto entre as citações bíblicas no início de cada capítulo e a terrível crueza com que descreve episódios na vida dessas pessoas. Quem pensa que o livro é uma crítica à religião, não deve saber absolutamente nada sobre a obra posterior do autor. Em outros livros (“Demon”, por exemplo), Selby tenta dar conta da imensa profundidade do abismo que uma alma pode abrigar quando se afasta de Deus e escolhe uma vida limitadamente materialista. Isso aparece aqui, mas de maneira tão sutil (ou pouco desenvolvida), que muitos leitores nem ligam para as epígrafes. No entanto, quando compreendemos o sentido delas em relação ao texto, tudo ganha uma amplitude muito grande.

Imagine o vazio de Tralala, a personagem que termina tragicamente, depois de se afundar num oceano de promiscuidade à procura de parceiros que pudessem lhe pagar quanto ela considerava digno por sua beleza. A garota comete uma seqüência de atrocidades, crimes e perde sua humanidade, imersa em pensamentos a respeito do dinheiro, descuidando de sua aparência, de sua personalidade, de sua saúde mental. Aos poucos, ela assume a aparência daquilo que traz dentro de si, de modo que as pessoas ao redor (todas como ela, no fim das contas, apenas em estágios diferentes de degradação) começam a desprezá-la pelo desleixo. Ela chega a ser considerada inferior pela escória da sociedade... E pode parecer psicologismo, mas esse vazio que ela pensava poder preencher com dinheiro, drogas e bebida era, na verdade, um vazio metafísico, que ela jamais seria capaz de preencher sozinha — muito menos pelos meios que utilizava. Assim, buscando na direção errada, fazendo exatamente o contrário do que deveria, ela alcança o pior destino imaginável.

E a felicidade do autor ao conseguir acompanhar a mentalidade e os pensamentos da personagem, como ela entende o comportamento dos outros, da ansiedade por colocar as mãos logo no dinheiro, a desconfiança em relação a qualquer um e o recomeço do ciclo, o que nos faz questionar sobre o significado que tudo aquilo poderia ter para ela. Nada disso pode ser compreendido se desprezamos as epígrafes de cada capítulo, mostrando que toda a ideologia que associou o lumpesinato a uma nova sociedade estava muito equivocada — ou, quem sabe, tinha muita certeza do que fazia...

denis.caldas 09/02/2024minha estante
Faz tempo, Marc, que eu não marco um livro como "desejado" aqui... Você me instigou, me transformou, me incentivou!


Marc 09/02/2024minha estante
Opa! Agradeço e, no fundo, essa é sempre a minha intenção. Mas se prepare, muitas vezes é de virar o estômago. No entanto, não muito diferente do que 5 minutos de TV brasileira... Sem ironia.


denis.caldas 09/02/2024minha estante
Cara, nada mais me assusta...


Marc 09/02/2024minha estante
Esse livro é bastante pesado. Não li o Réquiem Para um Sonho, mas pelo filme, não deve ser uma leitura fácil. Ele é daqueles autores que trabalham com esse tipo de material, mas não vejo a intenção de chocar, de conseguir leitores pelo modo mais fácil. O que mais me agradou foi um tipo de sinceridade rara, alguém que olha para o sofrimento e não tem pena, mas se solidariza, sem ser condescendente, no entanto. Coisa difícil de se fazer.




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