spoiler visualizarDIRCE 01/05/2023
Para o livro 5 estrelas. Para Aline Bei a Via Láctea toda.
Fico receosa de ler livros que fazem muito bum. Penso que se tratam de livros destinados a serem best sellers e sem o menor conteúdo. No que se refere a Aline Bei, estava redondamente enganada: desconhecia o quanto ela teve que batalhar para ter o seu livro “ O Peso do Pássaro morto” conhecido pelos leitores (as). Mas mesmo desconhecendo essa sua batalha na semana do consumidor ( acho que era essa a semana) comprei os 2 livros dessa menina de uma talento inimaginável.
Li primeiro “A pequena coreografia do adeus “ porque a capa chamou a minha atenção, e após a leitura desse livro , li “ O peso do pássaro morto, porém, optei fazer o meu comentário pela sequência em que foram editados.
Logo de início, achei que a escrita da Aline lembrava muito “ O mesmo mar” do Amós Oz, entretanto, o que eles tem em comum é somente a prosa poética escrita em versos. Nunca tinha visto um livro com a diagramação que essa obra apresenta: Aline consegue impor sentimentos, sensações em uma página em branco, em um travessão, nos espaços entre uma frase e outra, às vezes nem se segue uma frase, há somente uma palavra solta como se ela flutuasse, mas com o poder de mil palavras.
Como já é um livro muito conhecido , pretendo ser breve no meu comentário. " O Peso do pássaro morto" traz à tona memórias de uma infância, (dos 8 anos) onde uma grande amiga da narradora perde a vida vitimada por um cão feroz. A dor dessa perda se entrelaça com a dor de um trauma na adolescência, e esse trauma a segue como um fantasma de carne e osso que a torna insensível ao amor e a impossibilita de dispensar cuidados a quem quer que fosse.
E narradora segue sua vida como uma sonambula, sem sonhos, sem esperanças carregando na memória a dor da perda e do trauma.
Até que certo dia , enquanto abastecia seu carro, surge um cão enorme que tinha nos olhos as chagas do abandono (conforme a fala da narradora) , e ela acaba acolhendo o cão e dá a ele o nome de Vento.
Durante anos, Vento passa a ser o fiel companheiro da narradora e ,é ele , o cão que desperta nela a necessidade de cuidar e de se sentir cuidada . Parecia haver uma espécie de simbiose entre a narradora e o cão.
Até que certo dia, aos 52 anos, de certa forma, apaziguada com a vida, a morte que está por todo o lado, poderosa, impiedosa, que insiste em brincar com o destino, acaba levando o Vento . E , sim: às vezes os mortos são mais poderosos que a morte.
Finalizo dizendo que todas as personagens possuem um nome , menos a narradora. Talvez porque a Aline quis retratar muitas mulheres abusadas que veem seus sonhos destroçados e seguem a vida sem esperança alguma.
Dou 5 estrelas para o livro e a Via Láctea toda para a jovem escritora Aline Bei.