Valéria Cristina 12/04/2024
Uma história pungente
Uma narrativa pungente. Para mim, essa é a melhor definição de O Peso do Pássaro Morto. Acredito que todas as que lerem essa história, em algum momento, há de se identificar com a protagonista.
Percorrendo a vida de uma mulher dos oito aos 52 anos, a história vai amadurecendo junto com a narradora. Percebemos a alteração da linguagem com a passagem do tempo. A menina de 8 anos não se comunica como a mulher de 52. Com isso, vamos nos encontrando no texto em diversas fases de nossa vida.
Usando uma estrutura narrativa inusitada, o romance dá corpo a um relato poderoso e feminino. Fala-nos de perdas insuperáveis, presente nas entrelinhas de todo o texto; de dificuldades de adaptação, da culpa que acompanha a mulher ao longo da vida e da necessidade eterna de se justificar, do destino atropelando os sonhos...
A violência contra o corpo feminino, o julgamento implacável da mulher por suas escolhas, por seus atos; a maternidade não planejada, a insegurança em relação aos filhos, os erros em relação a eles, tudo isso é apresentado neste livro conciso e implacável que nos fisga a atenção desde a primeira linha.
Vemos a protagonista em uma vida não querida, mas imposta pelas circunstâncias, pelos caminhos inescrutáveis da existência e isso nos toca profundamente.
Aline Bei nasceu em São Paulo, em 1987. É formada em letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em artes cênicas pelo teatro-escola Célia Helena. Seu romance de estreia, O peso do pássaro morto (2017), foi vencedor do prêmio São Paulo de Literatura e do prêmio Toca, além de finalista do Prêmio Rio de Literatura.