Mari 21/03/2021
"Artur provavelmente não foi rei, pode não ter vivido, mas apesar de todos os eforços dos historiadores em negar sua existência, para milhões de pessoas em todo o mundo ele ainda é aquilo que um copista no século XIV chamou de Arturus Rex Quondam, Rexque Futurus: Artur, Nosso Rei Antigo e Futuro".
A leitura da trilogia me tomou por volta de 15 dias, prazeirosamente passados na companhia de Artur e Derfel, Nimue e Merlin, Guinevere e Ceinwyn, entre torcida e indignação no decorrer do enredo, e sobretudo, admiração pela escrita de Bernard Cornwell. Historiador e imaginativo, Cornwell lança as bases de seu romance sobre os fragmentos históricos disponíveis acerca do perído por volta do ano 500, e tenta ligar pontas incertas com o melhor tecido da imaginação. Ao final, ainda que fique bem claro que muito pouco possa corresponder ao que realmente aconteceu, ao menos os sonhos de um povo parecem agradecer, muito bem alimentados pela fantasia de um apaixonado pelo passado.
Um dos aspectos mais interessantes da trilogia é o conflito entre as crenças pagãs e o cristianismo, que acabam se tornando personagens fundamentais de toda a trama política. Outra questionamento - não tão explorado, mas muitas vezes sugerido - diz respeito à "bondade" ou "maldade" do ser humano. A trajetória de cada personagem, seus infortúnios, tudo entra na composição, de forma a ser dolorido reconhecer, num dado momento, que aquele por quem torcemos num determinado momento, vai ser o mesmo que desejamos que pereça.
Especificamente sobre Excalibur, encerra na medida certa as aventuras dos heróis (e vilões) que acompanhamos desde praticamente a infância. Sobra tensão, confesso que galopei pela leitura de certos trechos, no afã de saber o que iria acontecer, no que ia dar determinada empreitada, a quem a sorte iria abençoar. O defecho veio bem acertado, sem a extravagância de um final feliz inverossímel, bastante coerente com a saga dos personagens.
Mais do que recomendada a leitura! Encerro com mais um trechinho do livro (que rende muitas partes sublinhadas):
"Quando um homem promete alguma coisa para sempre, está jogando com a verdade. Nada é para sempre, garoto, nada."