Azaxul 13/07/2019
Expurgo do mundo!
Se você tem certeza de que nasceu para comer, dormir e coitar e ao procurar outras razões para sua existência, tem certeza de que está fugindo de si mesmo, então Cartas no Corredor da Morte será tão reconfortante quanto ler a Bíblia!
Encontrei nesse livro o que nunca encontrei em livro nenhum, ele tem tudo o que eu sempre quis ler em um livro nacional! Cláudia Lemes e Paula Febbe estão de parabéns.
A historia é puro ROCK N ROLL!
Love e Gurniak estão desnudos e desmascarados, vivenciam e exibem a natureza humana orgulhosamente. Através de suas cartas entregam suas aventuras, presepadas e o intimo mais profundo e obscuro.
Gurniak é hilário, suave, fala sibilando com um sorriso frio entre os lábios, ele é charmoso, penetrante e tem jeito de professor. O Johnny diz que ele é ''idealista'', e ele é mesmo, Steve Gurniak acredita que sua irmã seja um raio de sol no planeta e não abre mão do seu plano como solução para os problemas desencadeados pelos sentidos e instintos humanos. Consigo imagina-lo fisicamente parecido com o ator Steve Buscemi ou o diretor John Waters.
Durante a leitura confesso que não imaginei que ali estava um homem de mais de 60 anos.
Ao mesmo tempo em que Gurniak revela ter um plano megalomaníaco e percepção de mundo distorcida, através de suas palavras ele se faz convencer, soa lúcido, vigoroso e confiante de que tudo vai dar certo no final.
Já com o Johnny, como diz a música: ''São tantas emoções''.
Ele é radical, rebelde, impetuoso, emocional, ingênuo, libertino, melindroso, gracioso e nostálgico. É uma pessoa que carrega o seu passado nas costas e sai estrada afora, dizendo foda-se para o Universo.
Apesar da irreverência, ele mantém memórias conflituosas sobre três figuras femininas que impactaram sua vida, são essas sua avó, mãe e uma paixão, então além de ser um bicho solto, ''Born to be Wild'', ele se mostra profundo e sensível.
Fisicamente imagino que ele seja parecido com personagem ''Reggie Ledoux'' da série True Detective, temporada 1.
Johnny Love e Steve Gurniak são crias de um mundo selvagem, muito diferente do mundo seguro e burguês, viveram uma realidade em que qualquer problema poderia ser resolvido com um murro na cara, uma garrafa arremessada na parede ou um tiro na fuça.
O encontro entre os dois sujeitos, é o que chamam de ''encontro explosivo'', talvez até sejam almas gêmeas, um precisa do outro, eles começam a se entender e se ajudar conforme vão conversando pela troca de cartas.
No meio disso tudo, cada um revela um pouco de sua historia de vida, desde situações bizarras vividas na adolescência até os motivos que os colocaram no corredor da morte. Love em suas cartas faz meio que uma sessão desabafo, e Gurniak se aproveita dessa abertura do parceiro e tenta manipular a situação a seu favor.
Ás descrições sobre como eles se relacionavam com suas famílias desestruturadas e experiências determinantes que moldaram suas vidas para sempre (sendo que aí merda estava feita e as feras libertas) são ás partes mais eletrizantes! Tem coisas que são ditas que você lê e pergunta se leu aquilo mesmo, de tão ousado e absurdo.
Ainda que esteja sempre claro, que tudo o que é relatado pelas duas personagens é muito real e sério. Falando nisso, aproveito para dizer que um ponto muito positivo do livro é a honestidade das escritoras com o leitor(a), principalmente para com aqueles que esperam abordagens sobre temas polêmicos que não descaracterizem o real da coisa tentando disfarçar, transformando tudo em uma grande piada, um circo de humor negro, sabe esses livros que não tem freio mas tem rabo preso?
Não é o caso desse livro. Aqui é visceral, escancarado, perigoso e real e por isso mesmo provoca sensações, trás memórias, intriga, espanta, diverte e alimenta a imaginação.
Como ponto negativo, lá pelo final da leitura tem duas situações inesperadas. Eu gostei apenas da primeira reviravolta e revelação, já a segunda achei sem graça, talvez poderia ter parado na primeira, mas de qualquer forma não é algo gratuito e sem sentido.
Novamente digo que as duas escritoras estão de parabéns pelo trabalho, o livro é insano com conteúdo totalmente inusitado, espero que elas continuem por esse caminho, publicando ótimas obras.
Parabéns para a Editora Monomito pela publicação e todo trabalho desenvolvido e o produto final, profissional e de alta qualidade.
A capa é linda, com um bonito amarelo colorindo um dos olhos da ilustração, já o formato do livro é pequeno, perfeito para levar na bolsa e para qualquer lugar. Ás páginas são amareladas facilitando a leitura.
Assim como o livro mais recente que li da autora Cláudia Lemes (Inferno no Ártico), Cartas no Corredor da Morte é um livro curto, bem escrito e divertido, por essas razões considero-o muito indicado para quem perde facilmente o interesse em alguns livros e não termina leituras.
Obs: Fiz várias relações entre o livro e outras coisas, como músicas, então a trilha sonora perfeita seria: Crowbar, The Mentors, Graveyard Rodeo, TAD, e todas as bandas do Confederacy of Scum.