Levi.Rodrigues 24/10/2020
John Ajvide não está atrás de mim.
Há anos, quando comprei esse livro, fiz com intenção absurdamente egoísta.
Havia lido a sinopse sobre um acampamento de trailers. Eis que a primeira coisa que pensei foi: ferrou, escrevi um romance inteiro sobre pessoas que moram em trailers, viajam pelo Brasil e são perseguidas por um assassino monstruoso—espécie de história slash para quem passou dos quarenta, porque, a despeito do que os mais jovens possam achar, a vida continua e pode ser aventureira para quem se aproxima cada vez mais dos 40 km rodados, como este que vos fala.
Precisava saber se minha história, ainda não publicada, e sabe lá Deus quando será publicada, plagiava algo que eu ignorara. Demorei a ler Estou atrás de você porque minha esposa o leu primeiro e disse que não. “Nada a ver com sua história, relaxa”. Pacifiquei minhas rugas e guardei o livro para ler quando me desse na telha. E deu na telha agora, em 2020.
John Ajvide é um bom escritor e jamais tinha lido nada dele, embora tenha visto o filme sueco, Deixa ela entrar, e seu remake norte-americano. Estou atrás de você tem algo que adoro encontrar em histórias, descompromisso de explicar os mistérios mais cabeludos. Na minha humilde opinião, existe um tipo de gênero de mistério que é diferente dos livros de investigação policial. É aquele que não revela tudo, deixa alguma coisa permanecer velada. Esse é o tipo que confia plenamente na imaginação do leitor. Sempre digo que o leitor é mais que apenas capaz, ele é mais sagaz e, em determinadas circunstâncias, mais habilitado a compreender elementos que nem o próprio escritor foi capaz de refletir. Portanto esse tipo de mistério é uma parceria entre escritores e leitores. E se eu estiver errado sobre isso, significa que estive errado em cada uma das histórias que escrevi. Ou seja, fiz uma cagada enorme.
Apesar de ser uma história motivadora e de permanecer comigo por um bom tempo, não consigo pensar em ler o livro de novo. Se você viu outras resenhas, tenho feito um bom número delas por aqui, vai perceber que em quase todas digo que reli, vou reler, devo reler, quero reler um livro. É um prazer inexplicável e quase maior do que ler um livro pela primeira vez.
Embora tenha tido uma experiência total e agradável, às vezes indigesta no bom sentido, e às vezes pesada, também no bom sentido da leitura, não prevejo a vontade de ler de novo. Não sei explicar minhas razões. Talvez você consiga e, se conseguir, diga por aqui.
Uma explicação razoável seria a de que o livro me falou o que tinha para falar e eu não preciso revisitá-lo. É tudo em que consigo pensar. Mas não ache nem por um segundo que isso significa que você não deveria ler a história, não é isso que pretendo.
Espero ler mais do John Ajvide no futuro. Parece um universo curioso.
O mais importante para mim: Estou atrás de você não é igual ao meu livro. Significa que o Ajvide não virá trás de mim.
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