Eric 22/04/2020
Bizarro e muito pertinente
Com certeza essa é uma das melhores histórias de terror e ficção científica que já li. Além de possuir uma aventura fantástica bem bizarra que nos diverte com os mistérios e curiosidades que se passam nessa ilha, ela também faz uma dura crítica à exploração humana, religião, ética, ciência e nos deixa com um enorme questionamento: O que são humanos?
A história é um relato, quase um diário de expedição, de um náufrago chamado Pendrick que é resgatado por um misterioso navio transportando animais que o leva para uma terra desconhecida. Lá, ele acaba descobrindo que essa ilha está nos domínios do polêmico Dr. Moreau, cientista conhecido por fazer experimentos bizarros de vivissecção. Logo, Pendrick sente que algo muito estranho está acontecendo ali. Entre gritos numa sala trancada e a descoberta de seres bizarros parecidos com uma mistura de humanos e animais, o protagonista percebe o perigo em que se encontra e tem que arrumar algum jeito de escapar daquele horrível lugar.
Quando essa obra foi publicada, o mundo vivia a fase do Imperialismo ( se é que deixou de viver ainda essa fase), onde grandes potências da época exploraram terras da Ásia e África. Em seu texto, HG Wells faz uma metáfora sobre poder e violência que as nações exercem sobre os países pobres. Simbolizando o poderio máximo dentro da ilha, o Dr. Moreau educava suas criações tirando o direito delas exercerem seu lado primitivo e instintivo, ou seja, eles tinham que deixam de serem animais por inteiro, beber água com a língua e andar de quatro por exemplo, são sinais de animalização e retrocesso de sua pesquisa, desrespeitar essas ordens trazias sérias consequências como tortura e morte. Além disso, o cientista exerce um grande papel divino para esse Povo, Moreau é idolatrado pelo seus seres e também temem bastante sua ira, o que simboliza o domínio da religião como forma de manipulação e civilização de massas. Além disso, o autor também faz críticas até onde vai os limites da ciência e o poder que homem tem de transformar aquilo que já vem moldado pela sua natureza e que brincar de ser Deus traz trágicas consequências e no final a gente acaba sendo o que somos.
O desfecho dessa bizarra história é aquele belo soco na boca do estômago e a gente fica pensando, pensando, pensando por horas ou talvez dias. Posso dizer que estou numa tremenda ressaca literária e tentando absorver o impacto tão belo e realista que a princípio a história não passava apenas de mais uma história de terror.