A elite do atraso

A elite do atraso Jessé Souza




Resenhas - A Elite do Atraso


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Mauro 12/10/2018

O crepúsculo das "vacas sagradas" e do Brasil...
O ponto mais interessante da obra é a contestação das teorias sociais que fundamentam até o momento a visão sobre o Brasil. Ao tentar refutar autores como Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freyte, Florestan Fernandes e Raymundo Faoro, Jesse Souza nos propicia o encontro com uma alternativa de compreensão desse país em crise. A Lava jato só vem para ilustrar uma concepção, segundo o autor, errada e fabricada sobre as dinâmicas sociais que estão vigentes no Brasil há séculos. O desabafo que encerra a obra apesar de um tanto exagerado na tinta, por atribuir unicamente a velhas dinâmicas de poder da geopolítica global e a desserviços prestados ao país por grandes organizações internas a crise vigente, presta-se a abrir os olhos sobre toda a literatura produzida sobre esse país e também à construção de um conhecimento mais refinado sobre a história brasileira sem partir de obras consagradas verdades sobre nossas identidades.
É interessante notar que depois da geração de intelectuais que emergiu com o crescimento econômico da Republica Velha e da Era Vargas, notada pelas obras de nomes como os criticados em Elite do Atraso, alem de outros como Celso Furtado por exemplo, só agora começam a aparecer novamente pensadores sobre o Brasil, tais como Mangabeira Unger, Viveiro de Castro, Jessé de Souza, Jorge Caldeira...
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David 08/10/2018

Infelizmente as leis não são iguais.
Em A Elite do atraso Jessé Souza nos mostra como a mídia é parcial e o jogo político e de interesses prevalecem em detrimento dos menos preparados para as artimanhas do poder.
O pior é a nossa classe média viajar nesse engodo e acreditar nos salvadores da pátria que vira e mexe aparecem apoiados pelos interesses do mercado e dos 1% milionários privilegiados do nosso país.
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Luis 26/09/2018

Sai corrupção, entra escravidão
Este livro faz uma análise crítica de como a sociedade brasileira interpreta a si mesma, e retoma tanto os autores clássicos desse tema quanto a conjuntura atual (2017). Sua grande tese consiste em afirmar que a escravidão é o núcleo formador da sociedade brasileira, e sua estrutura permanece inalterada.

O autor propõe uma nova interpretação das classes sociais, baseada não só na quantidade de dinheiro, mas também na mentalidade, deixando claro que nossos pensamentos e sentimentos não estão descolados do ambiente social e cultural.
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thiagosimoes 21/09/2018

Com boa argumentação, mas não convence
O sociólogo Jessé Souza sabe expor muito bem suas ideias, pra isso faz todo um apanhado de um contexto histórico geral do Brasil para firmar suas posições. O problema ao meu ver está na maneira como ele constrói o problema da pobreza no Brasil, jogando a tal famosa falácia da "dívida histórica". Outro problema que pude perceber está na construção digna de teoria da conspiração que ele faz das elites, da mídia e da classe média contra o projeto do PT, apaziguado imensamente a corrupção e o emparelhamento feito por eles, que causou a quebra do país. De fato a Lava Jato não abrangeu a maneira como deveria deixando de levar a justiça também a membros de outros partidos como o presidente Michel Temer. De qualquer maneira fazer a afirmação heróica em dizer que o PT foi o maior responsável por tirar os pobres da miséria é balela, e quem é pobre sabe disso. A farra feita com o dinheiro público levou a queda da então presidente Dilma Rousseff, e colocou o país em uma crise econômica sem precedentes. Quanto a culpa dos ricos e seu dinheiro, fica valendo a máxima que o liberalismo clássico sempre preveu: se você taxar os ricos eles simplesmente pegam o dinheiro e os empregos e saem do país. Aí fica o desemprego e a pobreza, como é a Venezuela hoje em dia e que o autor nem sequer citou. O liberalismo não é perfeito e muito menos o comunismo é, mas se colocarmos na balança da história podemos chegar a conclusões sobre isso. Quanto finalmente a Lava Jato, ilegitimar a ação da Polícia Federal é dar voz SIM aos corruptos e suas manobras, como a tentativa de Dilma Roussef de colocar desesperadamente o ex presidente Lula como ministro para que ganhasse foro privilegiado e não fosse investigado. Enfim, um livro que vale a pena ser lido pela qualidade dos argumentos, mas vale a ponderação e o bom senso para separar a realidade das alucinações criadas pelo Partido dos Trabalhadores e seus seguidores.
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Ingrid 18/09/2018

Um livro necessário para entender a sociedade e a situação política atual brasileira, principalmente o crescimento da classe média protofascista. Eu, inclusive, desconstruí certos ideais que levava como verdade absoluta (o homem cordial e o jeitinho brasileiro, demonização de governos populistas).
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Bruno 16/09/2018

Excelente
Uma descrição absurdamente clara do porque da nossa atual situação política, economia e social, feito com empirismo e sempre referenciado. Leitura imediata obrigatória.
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Samantha @degraudeletras 27/08/2018

SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017.
A elite do atraso, do Dr. Jessé Souza, foi escrito em 2017 para mostrar o cenário político brasileiro que sofreu um golpe em 2016 travestido de Impeachment. No ano seguinte de sua publicação, foi usado como inspiração para o desfile carnavalesco da escola de samba Tuiuti, que ficou em segundo lugar em 2018.

Iniciando com um apanhado histórico da construção social brasileira, Jessé Souza nos apresenta como a escravidão contribuiu para a criação de classes burguesas que se acham merecedoras de crédito, mas que na realidade vivem de se aproveitar das casses mais baixas.

Aqui o autor apresenta sua proposta em que a sociedade é dividida não por valores de renda, mas pela construção sociocultural, havendo, assim, a classe alta (que faz lobby político visando o crescimento de seu patrimônio), a classe média (que se acha pura e merecedora de tudo o que há de bom, crê que um dia fará parte na classe alta), a classe trabalhadora (a que sofre com as reformas feitas recentemente na legislação trabalhista, bem como para conseguir pagar os impostos ganhando tão pouco) e os excluídos (pessoas que de alguma forma são marginalizados da sociedade, em geral a classe média e alta tem dificuldade de enxerga-los como serem humanos). A partir daí ele destrincha as relações que acontecem entre cada uma dessas classes.

“Os excluídos, majoritariamente negro e mestiço, é estigmatizado como perigoso e inferior e perseguido não mais pelo capitão do mato, mas, sim, pelas viaturas de polícia com licença para matar pobre e preto. Obviamente, não é a polícia a fonte da violência, mas a classe média e ala que apoiam esse tipo de política pública informal para higienizar as cidades e calar o medo do oprimido e do excluído que construiu com as próprias mãos.” P. 83

Na escrita de Jessé não há meio termo, ele expõe o que se passa na atualidade brasileira de maneira crua e direta, sem metáforas e sem delicadezas. Se você faz parte da classe trabalhadora, muito provavelmente seus filhos precisarão trabalhar enquanto fazem a faculdade para conseguir se manter, diferente dos filhos da classe média que possuem renda suficiente para comprar tempo livre para os filhos. E dessa desigualdade surgem jovens de classe média que acham que todos possuem a mesma chance que ele de vencer na vida, como seria justo aplicar a meritocracia numa sociedade tão desigual?

“A suposta superioridade moral da classe média dá a sua clientela tudo aquilo que ela mais deseja: o sentimento de representarem o melhor da sociedade. Não é só a classe que merece o que tem por esforço próprio, conforto que a falsa ideia da meritocracia propicia; mas, também, a classe que tem algo que ninguém tem, nem os ricos, que é a certeza de sua perfeição moral” P. 133

Se você faz parte da classe trabalhadora, amará esse livro, pois mostra claramente tudo aquilo que observamos na mídia, nas redes sociais e nas relações pessoais, ideias de superioridade que muitas vezes irritam e entristece. Seja no discurso do candidato político que prega a morte aos moradores do morro ou nas atitudes da classe média de fechar os olhos ao próximo e achar que alguém é pobre porque é preguiçoso.

“[…] os privilegiados não querem apenas exercer o privilégio, mas querem também que esse mesmo privilégio seja percebido como merecido e como um direito. “ P. 147

Uma parcela da população brasileira, que considera a manobra política de 2016 um Golpe, se envergonha da atuação da classe média para alimentar todo esse teatro que só quer a prisão de políticos corruptos se eles forem de partidos X, Y ou Z, pois se for de partidos W, M ou D fecham os olhos como se não estivesse acontecendo nada. É a seletividade no discurso de “não à corrupção” que corrompe a sua fala. Essas pessoas gostarão bastante de se deleitar em A elite do atraso.

É notório que esse livro foi editado às pressas, pois em diversos momentos há a repetição de ideias e até mesmo de frases inteiras, o que me deixou um pouco chateada durante a leitura, pois foram gastos espaços que poderiam ter sido dedicados a mais discursão. Entendo que devido ao tema era necessária uma publicação rápida, mas faltou cuidado editorial aqui, em Leya.

A crítica social exposta em A elite do atraso é real, mesmo que os comentários sejam tendenciosos para o pensamento esquerdista, ela demonstra a vergonha que vivemos hoje com toda a discriminação incutida nos detalhes do cotidiano. Vale a leitura para abrir os olhos e refletir sobre a sociedade brasileira atual.

site: https://degraudeletras.wordpress.com
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Darlan 25/08/2018

Resenha - A elite do atraso
A obra de Jessé Souza, “A elite do Atraso, da escravidão à lava jato”, apresenta claramente como objetivo central a formulação de uma contraposição à interpretação dominante do Brasil, baseada principalmente no clássico “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, e sua ampla influência entre os intelectuais brasileiros de todos os espectros políticos.
Segundo o sociólogo, Holanda conseguiu construir uma narrativa totalizadora do Brasil e de sua história que foi fortemente internalizada pelas gerações posteriores, e que acabou por se tornar inquestionável. Contudo, essa narrativa, conforme seu ponto de vista, apresenta algumas falhas conceituais que ele pretende criticar a partir da análise de três eixos temáticos fundamentais, são eles: (a) a experiência da escravidão; (b) a luta de classes por privilégios e a constituição de alianças e preconceitos a partir dela, desde o período colonial; e (c) a elaboração de um diagnóstico acurado do momento atual a partir dos dois eixos anteriores.
Antes de abordar diretamente os eixos temáticos propostos, Jessé Souza coloca um capítulo inicial, “O racismo de nossos intelectuais: o brasileiro como vira-lata”, no qual introduz sua perspectiva sobre a grande influência negativa da obra de Holanda entre os intelectuais brasileiros e discorre de forma clara e convincente sobre a necessidade de uma drástica ruptura epistemológica no campo da sociologia brasileira. Para o autor, a narrativa de Raízes do Brasil se impôs de tal forma como paradigma da sociologia em nosso país, que até mesmo aqueles que tentam criticá-la acabam por reforçá-la como referência fundamental, na medida em que as críticas ocorrem sempre dentro do campo delimitado pela própria obra. Ou seja, “a inovação possível dentro de um mesmo paradigma é sempre superficial e nunca sequer toca o aspecto principal” (p. 15).
Souza nos mostra que a base da interpretação dominante que temos no país é, ainda hoje, em grande parte racista. Para o autor, o paradigma atual, chamado “culturalista” pelas ciências sociais, nada mais é do que uma falsa ruptura com o paradigma anterior, denominado como “racismo científico”. Assim, o culturalismo, nascido da “teoria da modernização” americana (que usa como argumento uma herança cultural do protestantismo individualista para explicar o porquê de algumas sociedades serem ricas e adiantadas e outras pobres e atrasadas), nada mais é do que uma continuação do racismo científico, na medida em que insiste numa separação ontológica entre os seres humanos.
Nessa perspectiva, é interessante apontar que o autor utiliza o termo “racismo” para definir quaisquer “formas de hierarquizar indivíduos, classes e países sempre que o mesmo procedimento e a mesma função de legitimação de uma distinção ontológica entre seres humanos sejam aplicados” (p. 18). Seu argumento é o de que a substituição da diferenciação através da raça para uma diferenciação através do estoque cultural acarreta, nos dias atuais, numa reprodução de preconceitos com base em explicações pretensamente científicas, da mesma forma que ocorria anteriormente nas teorias do racismo científico da cor da pele, dividindo o mundo em pessoas de maior e menor valor.
Com isso, o racismo culturalista passa a ser uma dimensão não refletida e indiscutível, seja na relação entre os povos, seja na relação entre as classes de um mesmo país. Dessa forma, as ideias dominantes passam a atuar quase que na profundidade do subconsciente, perpetuando de forma inquestionável uma hierarquia moral invisível que divide sociedades inteiras em seres superiores e inferiores, na medida em que moldam todas as nossas ações cotidianas e todas as nossas instituições, do Estado à família. Souza destaca ainda que “o grande problema dessas hierarquias que se tornam invisíveis e pré-reflexivas é sua enorme eficácia para colonizar a mente e o coração também de quem é inferiorizado e oprimido” (p. 22).
Dito isto, ele expõe o início da criação da identidade nacional brasileira, ainda nos anos de 1930, com Gilberto Freyre. Para o autor, Freyre construiu de forma bastante consistente o enredo do Brasil moderno, ainda que prisioneiro do paradigma do racismo científico, e conseguiu, dentro dessa limitação de uma condenação prévia das sociedades ditas periféricas, criar um sentimento de identidade brasileira que se aproximava de um “orgulho nacional”, que tinha como raiz ideias reproduzidas até hoje como a falsa continuidade com Portugal e a emotividade como traço singular da nossa cultura.
Essa versão, no entanto, foi logo criticada por Sérgio Buarque de Holanda, que opera duas transformações essenciais para a emergência de um culturalismo racista no Brasil, são elas: (a) a mutação do brasileiro para o homem cordial; e (b) o alongamento dessa noção de cordialidade para o Estado brasileiro, numa noção de Estado patrimonialista.
Essas transformações jogam por terra as poucas críticas que Freyre fazia no sentido de enfrentar o determinismo do racismo científico. Essa se tornou uma visão hegemônica da identidade do brasileiro e é fundamental para a legitimação do liberalismo conservador, tornando os verdadeiros conflitos invisíveis.
Essa é a origem da ideologia do “vira-lata” brasileiro de Holanda, nunca antes realmente contestada, uma vez que se trata de uma ideologia universalista, que a princípio, nos apresenta respostas a todas as perguntas que se possa fazer sobre o Brasil.
Após essa breve revisão sobre o surgimento do paradigma sociológico brasileiro, Souza passa à análise dos três eixos centrais da obra, a começar pelo tema da escravidão, no capítulo intitulado “A escravidão é nosso berço”. Nele, o autor afirma ser necessário reconstruir uma narrativa alternativa que possa desconstruir o culturalismo racista conservador, de forma que possamos reconstruir a sociedade brasileira de modo novo e crítico, ou seja, uma nova forma de se pensar o Brasil.
Assim, ele inicia sua critica dando ênfase na importância da escravidão na construção da nossa sociedade e demonstrando a fragilidade da interpretação dominante que sinaliza para uma continuidade em relação à sociedade portuguesa. Seu argumento é de que os seres humanos são socialmente construídos por influência das instituições, e todas as nossas (família, economia, política e justiça) foram baseadas na escravidão.
Assim, a partir de uma releitura da obra de Gilberto Freyre, o autor expõe a influência da família patriarcal do Brasil Colônia na formação da nossa sociedade, dando destaque, inclusive, para a existência de um modelo de escravidão familiar e sexual de influência moura e muçulmana. Dessa forma, “sendo uma espécie de instituição total no Brasil, a forma peculiar da escravidão traria consigo a semente da forma social que se desenvolveria mais tarde” (p. 44). Nesse contexto, o caráter autárquico do domínio senhorial, condicionado pela ausência de instituições acima do senhor territorial imediato, não propicia a constituição de freios sociais ou individuais, o que faz com que o elemento familístico seja seu componente principal, calcado na coerção pela violência e culminando em valores de um “sadomasoquismo social”. Para o autor, “foi sádica a relação do homem português com as mulheres índias e negras. Era sádica a relação do senhor com suas próprias mulheres brancas, as bonecas para reprodução e sexo unilateral de que nos fala Freyre. Era sádica, finalmente, a relação do senhor com os próprios filhos, os seres que mais sofriam e apanhavam depois dos escravos” (p. 53).
Esse sadismo transformado em mandonismo, expressa o senhor de terras como um hiperindivíduo dentro dessa sociedade patriarcal, e contraria a percepção patrimonialista de Holanda de que a elite vampiresca brasileira estava instalada no Estado. Ou seja, desde o Brasil Colônia, os mandatários do Estado são os proprietários rurais, num primeiro momento, e depois (com a chegada de algumas instituições capitalistas: o mercado competitivo e o Estado burocrático centralizado) os proprietários urbanos.
Com a passagem do patriarcalismo rural para o urbano e a ascendência de uma cultura citadina no Brasil, os valores “universais” europeus e as ideias burguesas se contrapõem aos valores antieuropeus do interior. Contudo, houve sempre uma percepção de que o processo de modernização brasileiro foi, de maneira geral, marcadamente epidérmico. Esse tipo de interpretação é uma das bases do racismo culturalista de Sérgio Buarque de Holanda, que o classifica como uma simples adoção de comportamentos exteriores, de forma superficial e inautêntica. Esse ponto de vista ignora o surgimento, nesse período, de novos valores e novos padrões de comportamento, mesmo que de forma segmentada e seletiva (excluindo as camadas mais pobres e origem da divisão social moderna brasileira), no qual os antigos senhores começam a perder parte de sua autoridade para os portadores desses valores europeus, pessoas “refinadas” da alta sociedade burguesa citadina. É a passagem do sistema “Casa Grande e Senzala” para o sistema “Sobrados e Mocambos”, que acarreta em uma transição dos poderes político, econômico e cultural, do campo para a cidade. Esse processo trás consigo condições ainda piores para negros libertos e a população pobre de maneira geral, aumentando a segregação social. Os negros passam a ser vistos como uma ameaça nas cidades, o que provoca um processo de aprofundamento da sua marginalização dentro da sociedade brasileira.
Todas essas transformações acabam por desvalorizar as duas posições extremas do espectro social, ou seja, o escravo e o senhor de terras. Isso acarreta na emergência de um elemento intermediário. Indivíduos de status intermediário, muitas vezes mulatos e mestiços, e quase sempre assumindo funções de agregados nas famílias, começam a ganhar mais destaque na sociedade, dando início a oportunidades de mobilidade social, impensáveis no modelo social anterior. Esses mulatos começam a galgar posições de certo privilégio em relação aos negros, mas que não eram boas o suficiente para os brancos. Essa é a semente do surgimento da classe média brasileira, cujo principal privilégio será a concentração do capital cultural.
“Desse modo, o processo de incorporação do mestiço à nova sociedade foi paralelo ao processo de proletarização e demonização do negro. Tanto o escravo quanto o pária dos mocambos nas cidades era o elemento em relação ao qual todos queriam se distinguir” (p. 66).
Essa é também a origem do ódio ao pobre no Brasil, na medida em que os agregados ou “mulatos bacharéis” (na expressão de Freyre) tinham que usar roupas impecáveis para poder se distinguir da “ralé”. Trata-se de um sistema que transforma os biologicamente mulatos em sociologicamente brancos, e que, ao permitir que eles assumam posições sociais que nas sociedades escravocratas são privilégio dos brancos, cria uma situação de superexploração do negro de todas as formas imagináveis. Assim, além de provocar a separação entre mulatos e negros, acaba por tornar aqueles ainda mais servis aos brancos (uma vez que, disputando, em alguns casos, posições com os brancos, surge o “sorriso fácil” e a “cordialidade” do mulato brasileiro). Além disso, é nesse contexto que a vestimenta toma a enorme importância que vemos no Brasil de hoje, já que desde essa época ela passa a servir como elemento de uma diferenciação social, que antes sequer precisava de externalização. Assim, “a própria ênfase na distinção do traje ou a violência das humilhações públicas contra os mestiços que usavam casaca ou luva já demonstram, como uma consequência mesma do acirramento das contradições a partir da competição com indivíduos brancos antes seguros de sua posição(...)” (p. 67).
Todo esse processo de embranquecimento dos mulatos só foi alterado com a chegada dos imigrantes europeus no fim do século XIX, ou seja, quando os mulatos passam a não ser mais necessários para ocupar essa posição intermediária.
Esta, segundo o autor, é a gênese do pacto antipopular que hoje vivenciamos entre a elite e a classe média, um pacto que racionaliza e naturaliza a desigualdade social, da forma como a percebemos atualmente.
No capítulo seguinte, “As classes sociais do Brasil moderno”, o autor foca no processo de construção das classes sociais que temos hoje em nosso país. É relevante destacar o entendimento complexo de “classe social” para Jessé Souza, que vai muito além de um entendimento economicista (presente não só na literatura liberal, mas também na marxista), mas sim como um fenômeno sociocultural, com origem na socialização familiar primária. Segundo esse entendimento, as classes sociais são definidas principalmente pelos seus conflitos por recursos escassos de ordem não apenas econômica, mas também cultural.
Nesse contexto, a abolição formal da escravidão no Brasil acabou por criar, segundo o autor, uma classe que ele denomina de forma provocativa, para denunciar seu abandono, de “ralé brasileira”, ou seja, uma ralé de novos escravos como continuação da escravidão no Brasil moderno. Sob essa perspectiva, a existência dessa classe singulariza e explica a situação social, política e econômica do Brasil como nenhuma outra questão.
Jessé Souza parte então de uma análise do sociólogo Florestan Fernandes, em sua obra “A integração do negro na sociedade de classes”, na qual o quadro geral da sociedade de classes depois da escravidão se apresenta numa clara segmentação (no topo as famílias proprietárias rurais de cafeicultores; abaixo os imigrantes europeus e os segmentos semi-instruídos de origem nacional; abaixo desses, a plebe nacional, composta por brancos que vinham do campo para as cidades, em busca de melhores condições de vida; e por último, os negros recém-libertos e outros mulatos e mestiços miseráveis, para quem a nova configuração social era apenas uma nova forma de degradação). Ou seja, para Souza, os novos estratos desenhados por Fernandes marcam a modernização seletiva e desigual brasileira desde então. Nesse processo de modernização, é exigido dos negros que se tornem trabalhadores orgulhosos de seu trabalho, o mesmo trabalho que foi fonte primordial do seu sofrimento nos últimos 300 anos. O negro é jogado num cenário de competição com o imigrante italiano, acostumado com o modelo capitalista competitivo, e para quem o trabalho sempre havia sido motivo de orgulho e auto-estima. Souza destaca ainda o início de uma “matrifocalidade” das famílias negras a partir desse processo, já que as imigrantes estrangeiras não tinham familiaridade com os serviços domésticos. Com isso, as mulheres negras passam a simbolizar uma referência econômica e social de estabilidade para suas famílias.
Esse processo de difícil adaptação dos negros ao trabalho livre cria conflitos dentro da própria classe, uma vez que aqueles que não desejavam se “europeizar” eram vistos como um problema, criando um enorme medo nos centros urbanos de uma “rebelião negra”. Ou seja, além de dificultar a solidariedade dentro da própria classe, na medida em que cria uma divisão entre o pobre trabalhador e o pobre delinquente, cria-se um permanente estado de medo das outras classes em relação aos negros. Esse fator legitima a repressão e a humilhação dos setores mais pobres da sociedade desde aquele período até os dias de hoje.
Contudo, Jessé Souza aponta que, apesar da análise acurada da sociedade, Florestan Fernandes ainda estava preso ao paragidma da teoria da modernização. Assim, Fernandes aponta em sua obra que o negro não conseguiu se ajustar às novas condições da sociedade por que o processo de modernização da sociedade brasileira não foi profundo o suficiente. Ou seja, ele apresenta a crença de que o mercado competitivo por si só poderia ser inclusivo e emancipador. Jessé Souza nos mostra que, ao contrário, ele tende a adaptar a marginalização de alguns e torná-la produtiva e funcional aos estratos superiores, como podemos ver no caso atual da exploração da ralé brasileira pela classe média que, para poupar tempo de tarefas indesejadas e transformar esse tempo em atividades mais produtivas e bem remuneradas, compra a preço vil o tempo e a força de trabalho da ralé.
Dessa forma, “ao contrário da ordem escravocrata, onde os lugares são visíveis e decididos pelo fenótipo e pelo status de origem do modo mais claro possível, a produção da desigualdade na nova ordem é opaca e não transparente aos indivíduos que atuam nela” (p. 81). Nesse contexto, é importante destacar que mesmo que existam minorias de todas as cores, não há como separar o preconceito de classe do preconceito de raça. Se nos dias atuais a ralé brasileira (composta por pessoas de todas as cores) é perseguida e estigmatizada, isso é uma forma de continuação da escravidão e seus padrões de ataque contra populações indefesas, ou seja, “nossos excluídos herdaram, sem solução de continuidade, todo o ódio e o desprezo covarde pelos mais frágeis e com menos capacidade de se defender” (p. 83). Assim, torna-se notável que o primeiro “sintoma” do pertencimento à essa ralé brasileira, é a pele negra.
É importante ainda destacar que sua abordagem aponta para uma forte tendência de invisibilização dos conflitos de classe no Brasil moderno como herança de um Brasil escravocrata. Não apenas a negação do conceito de classe social (com a utilização de noções meramente economicistas para distinção das classes), mas também a utilização de discursos legitimadores dos privilégios de classe (definindo-os como algo inato dessas classes), são alguns dos principais mecanismos para essa naturalização da segregação. O resultado desse processo é a negação de todos os outros fatores importantes nas formas modernas de produzir injustiças e desigualdade (sintetizado no falso discurso da meritocracia).
Assim, ao ignorar a influência do comportamento diferencial das classes e da socialização familiar primária na formação dos indivíduos, temos como resultado uma uniformização do comportamento da classe média em todas as outras classes na luta pelo acesso aos capitais (capital econômico, capital cultural e capital social). O ponto de partida de cada classe (e os privilégios produzidos pelo monopólio de cada um desses capitais) é ignorado nessa competição, o que acaba por legitimar o discurso da meritocracia. A classe média compra não apenas o tempo livre dos seus filhos, mas lhe oferece condições para uma “condução racional da vida” que não existem nas classes mais pobres (os estímulos à leitura e ao pensamento prospectivo são alguns deles). Nesse contexto, “o pobre e excluído, ao concluir a escola como um analfabeto funcional, como tantos entre nós, se sente culpado pelo próprio fracasso e tão burro e preguiçosos como os privilegiados, que receberam tudo ‘de mão beijada’ desde o breço, costumam percebê-lo. O círculo da dominação se fecha quando a própria vítima do preconceito e do abandono social se culpa por seu destino, que foi preparado secularmente por seus algozes.” (p. 101).
Dessa forma, o autor nos mostra como foi tramada e projetada a continuidade de uma sociedade sem aprendizado moral e sem culpa, através de um pacto antipopular da elite com a classe média, especialmente a partir da década de 1930 (período em que parte dessa classe média começa e demonstrar sua insatisfação com o uso do poder apenas pela elite, com especial destaque ao movimente tenentista e a ascensão de Getúlio Vargas, que inaugura um Estado interventor e reformador como nunca antes a sociedade brasileira havia testemunhado). É nesse contexto do surgimento do Brasil “moderno” que a elite percebe a necessidade de desenvolver novos meios de dominação sobre essa classe média, uma vez que o chicote, utilizado sem percalços contra a ralé, não seria uma opção. É o contexto da criação da grande imprensa, das grandes universidades, do mercado editorial e do desenvolvimento de uma esfera pública burguesa colonizada, elementos através dos quais a elite nacional passará a exercer o controle da sociedade brasileira não apenas economicamente, mas também social e politicamente. Ou seja, “o domínio da elite sobre a classe média é simbólico e pressupões o convencimento. O domínio sobre as classes populares baseia-se, ao contrário, mais na repressão e na violência material” (p. 115).
É interessante destacar que Jessé Souza utiliza a noção de “esfera pública burguesa” do filósofo e sociólogo alemão Jürgen Habermas, ou seja, uma esfera composta de sujeitos privados com opinião própria que assegura a possibilidade da contraposição coletiva a decisões discricionárias do poder público. Essa esfera pública emerge no contexto da passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial, e foca na questão da legitimidade discursiva da política. Assim, ela ser entendida como uma reunião de pessoas privadas no espaço público, debatendo de forma crítica as decisões do aparelho estatal, como nos cafés, salões e clubes sociais que proliferam junto com o crescimento das cidades e fazem parte da constituição de uma nova subjetividade burguesa. É nesse contexto que surge a ideia de soberania popular como única legitimação possível do ato político.
Profissionais liberais, pastores, comerciantes e professores formam a base dessa nova esfera pública. Com isso, temos uma ampliação do público que exige a consideração de seus interesses pelo Estado, que antes podia visar apenas os interesses das elites sem ser realmente incomodado. Contudo, quando as massas menos letradas do proletariado também passam a reivindicar seus interesses na esfera pública, essa se torna um espaço de pressão. Nesse contexto é que surge a noção de populismo como mecanismo de deslegitimação dos interesses populares.
Outra referência relevante utilizada por Souza para explicar esse pacto antipopular da elite com a classe média através de uma esfera pública colonizada pelo dinheiro durante essa passagem do capitalismo comercial para o capitalismo industrial é a noção de “indústria cultural”, de T.W. Adorno. Caracterizada pela aplicação da lógica capitalista de maximização dos lucros à esfera dos bens simbólicos – numa espécie de mercantilização de bens culturais como a informação e o conhecimento – a indústria cultural desvirtua o próprio valor de uso dos bens culturais, que deixam de servir para o desenvolvimento da capacidade reflexiva e passam a servir ao seu oposto, à homogeneização do pensamento, na medida em que precisam abrir mão de qualquer complexidade para que possam ser vendidos em massa.
É nesse período que ocorre a passagem da imprensa de opinião, que servia ao debate público, para a imprensa de negócio, com vistas apenas em sua própria rentabilidade. Em reação a esta transformação da indústria cultural, vários países democráticos passaram por um processo de reformulação da imprensa, com o surgimento do modelo público de imprensa televisiva (que não se confunde com televisão estatal). Infelizmente, no Brasil, prevaleceu o pacto antipopular, e a elite construiu a esfera midiática adequada para atender aos seus próprios interesses, criando um cenário de colonização da opinião pelo dinheiro, que Habermas chama de refeudalização da esfera pública.
Esse aparato midiático é utilizado então para difundir a teoria liberal moralista, contido em duas noções que foram desenvolvidas na Universidade de São Paulo - USP, e que depois ganharam o Brasil: as ideias de patrimonialismo e de populismo. A esfera pública brasileira passa a orbitar sempre em torno desses dois conceitos, que servem agora não apenas para invisibilizar os privilégios da elite, mas também para criar a narrativa da justificação e da autojustificação dos setores médios da sociedade. Ou seja, é a consolidação do pacto desses setores. “Juntas, a demonização da política e do Estado e a estigmatização das classes populares constituem o alfa e o ômega do conservadorismo da sociedade brasileira, cevado midiaticamente todos os dias desde então” (p. 136).
Nesse contexto, o autor demonstra ainda que essa justificação da classe média, que legitima seu modo de vida e sua visão de mundo, ocorre tanto para cima quanto para baixo. Assim, a classe média se justifica para cima com o moralismo (uma vez que sem acesso aos grandes esquemas de corrupção e às negociatas da elite, num misto de inveja e ressentimento, ela pode se enxergar como moralmente perfeita em comparação aos ricos e poderosos), enquanto se justifica para baixo com o populismo (instrumento através do qual pode revestir de caráter científico seu preconceito contra qualquer tentativa de mitigação do sofrimento das classes mais baixas).
É com base nesse argumento que Jessé Souza reforça seu ponto de vista de que o passado que nos domina não é a continuidade com o Portugal pré-moderno, mas sim o passado do escravismo, do qual herdamos o desprezo e o ódio covarde às classes populares. Esse fator acaba por tornar impossível uma sociedade igualitária como a europeia. Segundo o autor, foi precisamente porque a Europa não teve escravidão que Norbet Elias pôde construir o processo civilizatório europeu à partir da ruptura com a escravidão da antiguidade, num processo de homogeneização social que permitiu a construção de um patamar mínimo universalizado para todos. Ou seja, na Europa houve um processo de aprendizado em relação ao sofrimento alheio que transformou mecanismos psicossociais, como culpa e remorso, em gatilho para uma sensibilidade política em relação aos sujeitos mais frágeis. Essa é nossa principal diferença em relação à Europa. Lá não se tem a divisão entre "gente" e "não gente" que temos no Brasil em consequência da desumanização dos escravos. O fato de que a nossa ralé seja sistematicamente explorada, humilhada, assassinada, chacinada e etc., sem que isso cause se quer comoção da opinião pública (e às vezes, pelo contrário, isso seja celebrado como uma higiene social) é o principal sinal de que existe uma classe que é percebida como subgente, e que o fato de que eles levem uma subvida é natural.
Afinal, o moralismo seletivo de nossas classes do privilégio vem daí e foi cevado para construir a solidariedade entre a elite e a classe média, contra qualquer pretensão das classes populares, sempre com base no patrimonialismo (da corrupção somente no Estado), e do populismo (que torna suspeita qualquer ação política popular no Brasil).
Com tudo isso em mente, fica mais fácil entender os motivos e os meios de dominação da elite do dinheiro no Brasil. Sempre esteve na base do contrato social do Estado de bem-estar a ideia distributiva de que uma estrutura de impostos na qual quem ganha mais paga mais seria a base financeira que possibilitaria uma sociedade igualitária.
Contudo, com a dominância crescente do capitalismo financeiro, todo esse esquema cai por terra. Na medida em que os donos do capital (diferentemente do capitalismo industrial fordista) podem retirar de um país investimentos bilionária com apenas um clique, seu poder de barganha aumenta a tal ponto que os ricos podem se dar ao luxo de quebrar esse pacto democrático.
A partir da consolidação desse novo espírito do capitalismo, especialmente a partir de 1990, essa elite do dinheiro passa a possuir um poder de barganha tão grande que passa a, literalmente, chantagear o Estado. Dessa forma, além de não pagar mais os impostos previstos nesse pacto democrático, ela força uma situação em que o Estado precisa agora financiar suas ações com essa própria elite. Ou seja, o Estado passa a "pedir emprestado" aquilo que a elite se recusa a pagar. Esse empréstimo é dado a juros exorbitantes, no caso do Brasil, estratosféricos, num sistema de concentração de renda que remunera o 1% mais rico pelo próprio dinheiro que eles deveriam pagar em impostos. É um verdadeiro sequestro do orçamento público, que é pago agora em sua maioria pela classe média e pelos pobres, mas que deixa de ser usado em serviços essenciais para pagar de volta aos ricos aquilo que eles deveriam ter pagado com impostos. Os muito ricos passam a ser credores de toda a sociedade, e passam a exigir dela todo tipo de sacrifício (medidas de austeridade fiscal do Estado) por meio de uma dívida pública criada por esse sistema de chantagem.
Essa é a verdadeira corrupção que temos em nosso país, mas que é invisibilizada pelas narrativas criadas pela elite e legitimadas pela classe média. Esse 1% que tudo detém não é mais dono apenas do agronegócio, dos imóveis nas cidades, dos bancos e dos fundos de investimentos. Ele agora é dono do orçamento do Estado.
É esse também o contexto em que o capitalismo financeiro doma o conteúdo revolucionário do expressivismo e transforma as bandeiras da contracultura em estímulo à produção. A criatividade passa a ser definida como soluções ágeis a problemas corporativos, enquanto a sensibilidade passa a ser a habilidade de gerir pessoas. É o período da introdução da lean production no Ocidente, com a contratação de jovens sem passado sindical, sem identidade de classe e sem vínculos de pertencimento de classe. Jovens que já foram educados dentro da narrativa produzida pela elite e que vê na empresa o lugar de produção de sua identidade. O capitalismo só sobrevive se engolir seu inimigo e transformá-lo nos seus próprios termos, ou seja, nos termos da acumulação infinita de capital.
Por fim, neste capítulo o autor apresenta ainda uma introdução a estudos em andamento que pretendem aprofundar seu conceito de classes, especialmente focado nos estrados da classe média. Para ele, essa classe está divida, com base em sua visão de mundo e sua noção de moralidade, em pelo menos quatro estratos básicos, são eles: (a) a classe média protofacista, que representa aproximadamente 30% do total dessa classe; (b) a classe média liberal, com 35%; (c) a classe média expressivista, ou "classe média de Oslo", com 20%; e (d) a classe média crítica, com 15% do total.
É importante mencionar que os dois últimos estratos são aqueles com maior acumulação de capital cultural, o que os difere principalmente não é nenhuma posição política particular, mas uma percepção pela parcela crítica de que o mundo social não é dado, mas sim construído. Ou seja, uma percepção que exige uma relação mais ativa com essa construção, de luta constante contra a corrente dominante.
Já no último capítulo, intitulado "A corrupção real e a corrupção dos tolos", Jessé Souza demonstra como a sociedade brasileira é colonizada por uma mesma interpretação do patrimonialismo como o principal mal de nossa sociedade. Para isso, ele utiliza três exemplos de intervenções públicas de figuras de frações diferentes da classe média que exprimem um pensamento bem similar no tocante a este tema, a saber: (a) o procurador da lava-jato, Deltan Dallagnol, representando a fração protofascista; (b) o ministro Luis Roberto Barroso, representando a “classe média de Oslo” e a classe média liberal; e (c) o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, representando a classe média crítica.
O autor destaca como, infelizmente, a leitura conservadora da sociedade brasileira permeia inclusive o discurso dessa última fração, a parcela crítica, na medida em que ela também reproduz (mesmo que não da mesma forma) o discurso dominante do “jeitinho brasileiro” e do “homem cordial”, reforçando a falsa oposição entre mercado idealizado e Estado corrupto.
Isto permite que o conceito de patrimonialismo possa ocupar o lugar que a noção de escravidão e das lutas de classes deveriam ocupar para explicar os principais problemas sociais brasileiros, acarretando na invisibilização de nossas heranças escravocratas e legitimando o “acordo entre os desiguais”, que é devidamente consumado pela mídia brasileira, através da violência simbólica do controle da produção intelectual e da informação. “A Globo é a mídia por excelência que fez reverberar na população indefesa o pacto antipopular que reconstruímos neste livro” (p.218).
Por fim, Jessé Souza analisa ainda a questão da dívida pública brasileira e os altos juros que, segundo ele, representam os principais motivos para as dificuldades fiscais do país.
Leonardo.H.Lopes 20/12/2020minha estante
Duvido que alguém já parou para ler essa resenha.




Joelcio Ormond 03/07/2018

Visão diferente
Neste livro o autor nos propõe uma visão diferente da formação da sociedade brasileira e suas mazelas.

Para ele, diferentemente da visão de autores consagrados, e que, por isso mesmo têm sua argumentação como sagrada e nunca posta em discussão, a estrutura social do Brasil tem origem na escravidão e não no aludido patrimonialismo, que teria sido herdado de Portugal.

O livro possui muitas propostas boas, como é o caso da contraposição que faz entre o que seria patrimonialismo para Max Weber e como esse conceito nos foi repassado pelos autores dominantes na literatura brasileira, como Sérgio Buarque e Raymundo Faoro.

Porém, há partes em que a argumentação do autor sai do científico passa para uma argumentação de palanque, o que não tira o mérito do livro, sendo mais uma questão de escolha da escrita, o que foi diferente do que esperei encontrar.
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Lucas.Caiko 24/06/2018

Finalmente, uma visão ORIGINAL de esquerda sobre o Brasil.
Logo após assistir ao desfile da G.R.E.S. Paraíso do Tuiuti, descobri que seu enredo crítico, de 2018, havia sido baseado neste livro do Jessé, e, encantado pelo que foi retratado lá, resolvi que estava disposto a ler mais uma interpretação sociológica do Brasil, esperando, como já era de costume para mim, uma justificação patética da estrutura do nosso tecido social. Mas o que eu encontrei na obra do jessé, foi uma desconstrução esmagadoramente brilhante das antigas explicações chulas e parciais que contribuem, ainda hoje, na construção de uma ideologia de vira-latas na mente da nossa população. Desde o primeiro capítulo, o autor explica a necessidade de se romper com antigas crenças sociais - impostas a nós - para que não enxerguemos de fato a estrutura interna da sociedade brasileira. Desse modo, por meio de analogias, exemplificações e exposição de dados, o autor constrói uma argumentação consistente que funciona como um "balde de água gelada" em todos aqueles que estão de acordo com antigos modos de se pensar a sociedade brasileira, como no caso da deplorável obra "Raízes do Brasil" de Sérgio B. de Holanda. A análise das consequências da escravidão no país, a origem, a composição e as causalidades do pacto estabelecido entre a classe média e a elite do atraso, juntamente com a exposição da magnitude do poder de manipulação das grandes mídias, expõem um retrato fido e digno da situação do nosso país hoje, no século XXI. Embora haja uma pequena generalização feita sobre a meritocracia - durante a análise da dinâmica das famílias brasileiras modernas - Jessé Souza foi cirúrgico e revolucionário quando decidiu romper e reconstruir, com muita classe e profissionalismo, uma explicação tão bem fundamentada e construtiva sobre o que, de fato, é o nosso país.
Espero que ele receba o reconhecimento que merece, mas dada a sua ousadia e a situação pela qual estamos passando, acho muito difícil.
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Travassos 29/04/2018

Boas teses para fundamentar uma conclusão panfletária e político-partidária
O livro começa com uma análise interessante sobre a escravidão e o papel que ela desempenhou para as desigualdades sociais brasileiras. Traz também outros conceitos interessantes, como capital econômico, social e cultural. Faz uma análise sucinta da obra de pensadores como Sérgio Buarque de Holanda e Raimundo Faoro. Todavia, a conclusão do livro parece ser um panfleto político-partidário, nada diferente do que lemos no Brasil 247, Carta Capital, Diário do Centro do Mundo, Cafezinho, Tijolaço e publicações do gênero.
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Katia 22/04/2018

O brasil não é para os fracos
Esse livro disseca o que como brasileiros, somos. Em alguns momentos é preciso coragem ao se reconhecer nele. Analisa com base em sólidos argumentos sociológicos, históricos e antropológicos como nos construímos como Nação. Imprescindível para entender o que vivemos hoje!
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Maurício Gomyde 29/03/2018

Vale muito a leitura!
Jessé Souza traz à luz, de forma simples e compreensível para qualquer pessoa, a raiz da imensa desigualdade em que vivemos e aponta o dedo para quem são os reais "donos do poder" no Brasil. No que ele chama de "a corrupção dos tolos", uma reflexão forte para como somos manipulados por esses verdadeiros donos do poder para que seus próprios privilégios sejam perpetuados e nós fiquemos, aqui, aplaudindo-os. Essencial.
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Kari 15/03/2018

O livro que mais me surpreendeu nos últimos 12 meses!
Busquei-o em razão da conjectura nacional e todos os problemas enfrentados pela política brasileira, e não poderia ter buscado melhor fonte.
O sociólogo Jessé Souza traça, na história brasileira, o papel da escravidão, da mídia e da elite do atraso (conceituada logo no primeiro parágrafo do prefácio).
O texto, com narrativa rápida e, por momentos, nos obrigando a retornar para uma melhor compreensão, é magistral ao dialogar com o leitor no melhor estilo machadiano e em transmitir em palavras aquilo que vivenciamos ao longo dos tempos, rebatendo conceitos adotados por grandes sociólogos como Raymundo Faoro, Sérgio Buarque de Holanda e Fernando Henrique Cardoso.
O livro é concluído com um capítulo que serve de sacudidela ao leitor, mostrando e exemplificando a diferença entre a corrupção dos tolos e a corrupção real.
É, portanto, um livro para ser lido por todo o brasileiro como leitura obrigatória para entendermos que a manipulação das ideias existem e não é de hoje.
Boa leitura!
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