spoiler visualizarThais Lima 04/01/2018
Primeira decepção de 2018
Quando "Pule, Kim Joo So" foi anunciado, minha empolgação para tê-lo em mãos logo foi imensa. Passei algum tempo namorando o livro sempre que ia na livraria, cheirava as páginas quando os vendedores não estavam vendo, lia os quotes de doramas que iniciavam cada capítulo... Enfim, eu estava verdadeiramente ansiosa para ter minha edição em mãos e poder começar a ler essa história. Esse livro é o sonho de qualquer dorameira brasileira, que é ver um romance entre uma brasileira e um boy magia coreano. Confesso que era essa minha empolgação com o livro, ver a Marina representando e vivendo tudo o que a gente sonha.
Mas o livro não conseguiu atingir minhas expectativas. Nem mesmo chegou perto do que eu esperava.
Pule, Kim Joo So é a história de Marina e So. Ela, uma brasileira de Curitiba que vive uma luta diária contra seu ex-namorado que aterroriza a sua vida, aparecendo e invadindo sua casa para agredi-la. Marina aprendeu a lidar com essas agressões a sua própria maneira, lutando sozinha ou apanhando até que ele canse de bater, já que o rapaz é um ex-policial e ela não pode contar com a ajuda da polícia para se defender.
So é um coreano que vive em Seul, preso a uma jaula invisível e a cordas de marionete que precisa desesperadamente se soltar. Após ver uma amiga saltar no rio quando ele finalmente conseguiu dizer a ela que não a amava, So ouve uma voz em sua cabeça que o manda pular também. Quando isso acontece, ele acorda misteriosamente em outro lugar. É aí que a história de So e Marina se cruzam, quando ela o encontra assustado e ferido no banheiro do aeroporto, sendo procurado pelos seguranças.
Marina consegue tirar So de lá sem ser visto, e o leva para sua casa. Os dois começam uma amizade através de gestos e mímicas, já que não sabem falar a mesma língua, e a amizade dos dois acaba evoluindo para o amor.
Eu estava gostando muito do clima da história e do romance dos dois, até o plot twist absurdo que acontece na metade do livro. Confesso que quando a bomba sobre o So ser um personagem me deixou meio desnorteada e isso me deixou bastante incomodada, até eu lembrar que na primeira página já havia uma dica disso, então passei a me acostumar com a ideia e até mesmo a gostar desse plot. É muito original e, pra quem escreve como eu, foi bastante reflexivo. O quanto um personagem tem vontade própria? O quanto a carga emocional de um escritor afeta um personagem? Será que o autor controla absolutamente tudo o que escreve, ou os personagens os controlam?
Mas infelizmente o livro daí pra frente começou a desandar de uma maneira que me entristeceu muito. Em duzentas páginas, a Gaby quis fazer milhares de plot twists, sem nenhum deles receber um embasamento ou explicação, apenas aconteciam e... OK, o leitor não merece nenhuma explicação. Esse livro conseguiu ser mais confuso que o filme Donnie Darko (exagerei agora, mas é bem por aí). Faltou espaço para tantas reviravoltas, o desenvolvimento da história e dos personagens foi extremamente superficial. A história fica incoerente, as coisas acontecem rápido demais, não transmite emoção alguma.
A personagem Marina, mesmo sendo a protagonista, foi a personagem mais aleatória do livro inteiro. Após o salvamento de So, Marina não faz nada a não ser servir como interesse romântico de So e de Tan, o roteirista da história de So. As cenas dela passam a ser completamente aleatórias, sem sentido e descartáveis. Basicamente, acho que a autora não sabia o que fazer com a Marina, mas precisava de uma brasileira na história para agradar as fãs brasileiras e fazerem elas se sentirem representadas. Pessoalmente, eu acho que o livro poderia ter sido muito mais aprofundado se ele fosse somente com o So e o Tan. A Marina é uma personagem totalmente descartável, se as cenas em que ela aparece teriam sido substituídas por explicações, eu presumo que a história se enriqueceria mais. Ou no caso, poderia ter tido mais páginas também, já que 200 páginas foi muito pouco pra tudo que Brandalise quis fazer nessa história. Mesmo quando se descobre que a Marina é personagem de uma novela das 8, fica por isso mesmo. Mesmo com isso, ela continua sendo totalmente aleatória.
As explicações dos motivos para So precisar de Marina não me convenceram. Na verdade, achei tudo bem confuso. A Marina não faz diferença na história, mesmo porque o So já queria se libertar e viver sua história de acordo com as suas vontades antes mesmo de conhecer a Marina! A Marina só teve relevância no começo na história, da metade pra frente era mais como se ela não existisse. Ou melhor, só existia para que o Tan e o So amassem a mesma mulher. Chato.
Agora a parte que eu achei IMPERDOÁVEL nesse livro, e ninguém vai me convencer do contrário. As "gravações mágicas". Como assim as gravações mágicas? Pois é, foi esse o nome que eu dei pro dorama do So e a novela da Marina. Há dois motivos para eu ter achado ridículo a maneira WTF que os episódios surgiam:
1 - Quando o Tan diz para a Marina quem o So é, Marina pergunta se So é um ator. Tan responde que não, que o ator que interpretava So no dorama era outro, e mostra a foto de um rapaz PARECIDO com o So. Parecido, não um clone! Ou seja, outra pessoa interpretava os roteiros que o Tan escrevia, o So não era nada mais que uma pessoa que vivia na imaginação do roteirista;
2 - O processo de criação e o de gravação é totalmente diferente. O autor cria a história, os atores leem, memorizam o que devem fazer e encenam o que foi lido diante de uma câmera. É assim que acontece. O roteiro de fato se combina com a gravação, mas são dois processos diferentes.
Pois bem. Dado esses dois motivos, foi simplesmente ridículo como os episódios surgiam no computador da empresa prontos e confusos, com as mudanças as atitudes de So e Marina. O processo criativo do Tan foi bloqueado, eu via o desaparecimento do So mais como um bloqueio criativo, mas não consegui aceitar que isso modificasse as gravações também. Não fazia sentido. Que roteiro os atores estavam lendo? Quem estava dirigindo? Como a empresa permitia?
Mas acho que a Gaby esqueceu que tinha dado um ator ao So e começou a avacalhar com o próprio livro inventado essa ideia de que o So verdadeiro, além de viver na mente do Tan, se projetava nos episódios que iam para a televisão. A mesma coisa aconteceu com a novela da Marina, quando misteriosamente um coreano apareceu bagunçando o episódio deles. Mas nossa! Como que isso aconteceu? Mas não tem todo um processo de gravação com ATORES que leem os roteiros e atuam o estão lendo? A fuga do personagem poderia acarretar bagunças na cabeça e no roteiro do Tan, mas nas gravações não faz sentido. Principalmente pelo que a própria Gaby disse ao dar um ator ao So!
No final aparece no computador um episódio pornô do So e da Marina gemendo pelados na cama. Ai, minha paciência...
Sem contar as mil pontas soltas que a história deixou. O que aconteceu com a Eun Sang? Com o namorado da Marina? E por que o So precisou dar um jeito de se libertar das amarras do seu destino em relação ao seu dorama, mas não a Marina com a sua novela? Quem é o clone italiano que surgiu na porta do Tan?
Enfim. Esse livro foi uma verdadeira decepção pra mim. Eu não estava com expectativas muito altas, eu esperava por um romance açucarado. Mas nunca esperei por uma verdadeira bagunça. Eu fiquei sem entender muita coisa. A Gaby tinha uma ideia boa nas mãos, mas acabou com tudo por falta de desenvolvimento e planejamento. É confuso, é corrido, é bagunçado. Eu como dorameira estou profundamente chateada por não ter gostado desse livro. Eu queria ter gostado, queria mesmo, mas não deu.
Apesar disso a escrita da Gaby é fluída e até mesmo muito poética, então dei as três estrelas porque achei que valeu a pena pela escrita dela, que me ajudou a aprender um pouco e desenvolver a minha própria, e pelo ponto reflexivo de relação com autor e personagem. Foram ótimos pontos da história. Fora isso, acho que nada se salva.
Desejo sucesso a Gaby Brandalise, de verdade, e espero por mais livros dela, acredito no potencial dela como escritora. Mas espero que ela reconheça os erros que cometeu em Pule, Kim Joo So e tome mais cuidado em suas próximas obras.