Gabrieli Gudniak 02/07/2018"Para mostrar como a vida nos faz sentir, não a aparência que ela tem."Constantemente atormentada pelas agressões do ex-namorado, Marina, uma jornalista curitibana, vê sua vida virar de cabeça para baixa ao ajudar Kim Joo So, um coreano que apareceu no aeroporto sem saber uma única palavra em português.
A história tem muitos pontos altos e baixos, eu não tinha muita noção de qual era a premissa ou qual a recepção que teve do público quando comecei, mas resolvi deixar minhas expectativas baixas, então posso dizer com segurança que fui positivamente surpresa com o livro e com as decisões ousadas e originais da autora.
Entretanto, acho que os maiores problemas do livro estão nos dois personagens principais, Marina e So. Eles parecem interessante à primeira vista, mas, conforme vamos passando tempo com os dois, vemos que eles não tem muitas outras facetas. Marina é forte e inteligente, So é dedicado e determinado. Isso faz o primeiro ato do livro ser a melhor parte dele, já que ainda não conhecemos os personagens tão bem e as situações são divertidíssimas, principalmente para quem está acostumado com doramas coreanos. A interação dos dois é ótima, mas se torna repetitiva com o passar das páginas.
O primeiro ato do livro é facilmente a melhor parte, como já disse, ele é ágil, está sempre nos mostrando novos desdobramentos, tem uma energia contagiante e é divertido. A escrita da Gaby é ótima e ela tem total domínio e consciência dos clichês que emprega na trama, apesar de, devo dizer, acho que é fácil que pessoas que não tenham costume de assistir a dramas coreanos não gostem e revirem os olhos. O problema está em gastarmos mais da metade do livro, que não é longo, no primeiro ato. O segundo e o terceiro ficam claramente desfalcados e se misturam um ao outro, dando uma sensação de estranhamento ao leitor, como se ele houvesse se perdido no meio da história.
"- Se você tira um peixe da água, ele se debate um pouco, o que faz você acreditar, por um instante, que ele pode sobreviver na areia. Você torce, vendo ele lutar para se manter vivo, mas a verdade é que ele precisa da água para respirar. E morre tentando."
A reviravolta na metade do livro, apesar de não ter me pego de surpresa (porque, vamos combinar, o So estava sendo bom demais para ser real), foi ousada e me agradou, mas acho que a autora não soube conduzir a história a partir deste ponto. Não temos tempo suficiente com os novos personagens introduzidos, Lee Tan e Ji-Hye, para nos importamos com eles. Apesar de terem interações hilárias e verdadeiras, ainda não os conhecemos o suficiente para sentir algo por eles. O passado dos dois também foi um ponto negativo, a autora quis manter o mistério por tempo demais quando isso não era necessário e estava prejudicando a trama, não passamos nem cem páginas com eles e na maior parte do tempo, estamos tentando entender sobre o que eles estão falando.
Mesmo com esses problemas e suas doses de clichê, Lee Tan e Ji-Hye são personagens muito mais interessantes, Ji-Hye foi uma surpresa agradável e minha personagem favorita. Lee Tan e seus problemas eram muito mais reais, mesmo que não muito bem trabalhados. Creio que se a história dos dois houvesse sido contada de uma vez e de forma clara, a trama teria muito a ganhar.
"- Como é que esse cara saiu de dentro de uma história? Alguém tentou descobrir isso?
- Sim, achei tudo sobre o assunto no Google."
Um outro ponto é a história dos pais da Marina e de sua irmã gêmea, não adicionou nada ao enredo, não foi trabalhado. Passa a sensação que a autora colocou lá e esqueceu, mesmo que a Marina fosse uma personagem de uma novela, se não fosse para usar aquele trecho da história, então talvez ele devesse apenas ter sido cortado.
Talvez o livro ficasse melhor se cada ato tivesse o desenvolvimento necessário, eu gostaria de ter me aprofundado mais na história dos personagens, umas 150 páginas a mais seriam perfeitas, principalmente para explicar as várias perguntas que ficam no final.
E, com seus pontos positivos e negativos, a história da Gaby me divertiu muito.
Pule, Kim Joo So é uma história ágil, pouco convencional, com reviravoltas ousadas e uma ótima escrita, mesmo se perdendo durante seu caminho e deixe várias pontas soltas.