La Oliphant 30/05/2018
Quando Nas Montanhas do Marrocos chegou nas minhas mãos, eu estava muito animada para começar a leitura. Primeiro, é um romance de época e não tem como eu deixar passar um livro do gênero. Segundo, é um livro nacional com uma proposta interessante, completamente diferente de todos os outros livros que eu já tinha lido: um convite a uma viagem ao Marrocos. Não tem como negar uma leitura assim, tem? E com essa capa de tirar o fôlego, eu comecei a leitura com as expectativas lá em cima, mas apesar da escrita de Bérard não decepcionar, o enredo de Nas Montanhas do Marrocos acabou sendo um pouco demais em vários aspectos.
Antes de tudo, vocês precisam saber que eu não tenho do que reclamar da escrita da autora. Apesar do tom coloquial da narrativa, a escrita da Luisa é muito gostosa e você consegue fazer uma imersão muito legal dentro do enredo. O meu problema começou no desenvolvimento da história que, demora pelo menos 230 páginas para realmente começar. Nos primeiros capítulos, nós ficamos presos a vida da protagonista, perambulando pela Inglaterra, por mais tempo do que o necessário para que pudéssemos conhecer sua personalidade. Eu realmente senti dificuldades para continuar a leitura, mas estava tão animada com o livro que insisti mais um pouco, até que finalmente chegamos ao Marrocos.
O livro tem muitos capítulos que eu considerei irrelevantes para o resultado da história. Como eu disse, temos uma introdução muito longa da protagonista e, durante sua aventura no Marrocos, temos capítulos intermináveis com foco em personagens secundários que eu não achei que acrescentaram tanto assim a proposta do enredo. Essas idas e vindas do enredo prejudicaram um pouco a minha leitura porque me passou a sensação de que a história não estava andando, por mais que eu soubesse que estava avançando. Sabe aquela sensação de “nossa, ainda estou na página 310”, foi mais ou menos isso.
Eu não posso opinar muito bem sobre o contexto histórico do livro, porque o que eu sei da época vitoriana é o que eu pesquisei na internet e assisti em séries, mas eu tenho quase certeza de que Katherine não seria tão bem recebida assim numa terra estranha, como ela foi recebida pelo povo de Fahid. Ela é tão bem tratada e cuidada que eu consegui até mesmo me esquecer de que estava naquela situação na condição de escrava e não de amante, como é colocado no livro. Além disso, tem alguns pontos sobre os costumes que me deixaram muito confusa, principalmente porque as pessoas se referiam a protagonista como “milady”, sendo que naquela situação a nobreza dela nem deveria mais ser importante.
O romance foi um ponto do livro que eu gostei e, ao mesmo tempo, não foi o que eu estava esperando. O relacionamento de Katherine com o Fahid não fez muito sentido para mim. Primeiro, ela queria ir embora e o fato de ela ter se envolvido com o seu “captor” já foi muito estranho, mas fácil de relevar por se tratar de um romance. Logo no segundo momento que tem juntos, Fahid já se demonstra completamente apaixonado por Katherine, mas a relação deles não é muito bem trabalhada já que o tempo que passam juntos ao longo do enredo é curto demais para que seja construído um romance que me convença.
Apesar disso, eu tenho que admitir que a química entre o casal não deixa a desejar. As cenas “quentes” entre os dois são de fazer as areias do Marrocos parecerem mornas, e não podemos reclamar disso, não é mesmo? Eu só não gostei muito do fato de que o Fahid sempre me pareceu muito mais preocupado com o próprio prazer do que o da Katherine. Isso ficou ainda mais forte em uma cena em que ela está dormindo e acorda com o príncipe em cima dela, a acariciando antes mesmo de ela lhe dar consentimento. E eu sei que são coisas da época, mas existe uma coisa chamada “licença poética”, onde esse tipo de contexto pode ser perdoado por não ser utilizado no livro.
Os personagens secundários do livro também deixam muito a desejar. Por mais que eu consiga entender a ideia por trás da trama, todas as artimanhas para separar o Fahid da Katherine não se encaixaram muito bem para mim. Era como se tudo estivesse girando em torno de uma birra de criança ou algo assim. E eu sei que essa coisa de casamentos arranjados por política não era uma coisa exclusiva da cultura árabe, mas ainda assim, tudo me pareceu um tanto exagerado, principalmente a maneira como as coisas desenrolaram. Amira, a noiva prometida de Fahid, tem uma cena tão “wtf”, que eu perdi um pouco do tesão pelo livro, honestamente.
O ponto que realmente me pegou foram os diálogos, que são o ponto de qualquer romance de época que mais me conquista. No caso de Nas Montanhas do Marrocos, eu senti que faltaram diálogos mais profundos, que realmente revelassem os personagens e os deixassem ter uma voz própria. Eu não sei se foi o tom coloquial da narrativa ou a forma como a autora resolveu retratar seus personagens, mas muitos dos diálogos eram complicados, cheios de palavras polidas demais para expressar sentimentos como raiva e frustração. Eu acho que o que era dito e o que queria ser dito não estavam bem alinhados nos diálogos.
Apesar de todas essas questões, eu devo lembrar a vocês que, Nas Montanhas do Marrocos é o primeiro livro de Luisa Bérard e, para uma primeira publicação, eu acho que ela entregou até que bem o enredo. Eu gostei de fugir um pouco da ambientação da Inglaterra e, querendo ou não, o livro foge bastante de todos os clichês dos romances de época que estamos acostumados. Uma pena mesmo ele ser 200 páginas mais longo que o necessário e ter certos pontos que me incomodaram muito enquanto leitora. Ainda assim, caso a autora venha lançar outros romances, eu quero lê-los sem pensar duas vezes para ver o quanto a sua escrita evoluiu.
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