O Véu Pintado

O Véu Pintado W. Somerset Maugham




Resenhas - O Véu Pintado


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Ana Paula 15/08/2021

A cólera e o imperialismo
Este romance de Maugham possui uma premissa simples, embora não simplista, que conduz a um enredo batido, mas não de todo previsível. A problemática do adultério, ou melhor, da mulher adúltera, serve como dilema moral inicial para um despertar, que, ao contrário da adaptação cinematográfica de 2006, não é para a paixão. Trata-se do despertar para o interior, para dentro de si mesmo. Despertar inevitável quando o indivíduo percebe-se apenas uma gota no rio da via: “(...) duas gotas que para si próprias possuíam tanta individualidade, mas para quem as olhasse, eram apenas uma parte indistinta da água.” Tal redenção moral é catalisada pelo sofrimento palpável ao seu redor que uma epidemia provoca, neste caso a epidemia de cólera.

Há vários pontos a se considerar na leitura desta obra. O primeiro deles, é reconhecer que se trata de um livro com uma visão ocidental sobre o oriente e isso se reflete na maneira como o oriente, especificamente a China, é mostrada. Além disso, é uma obra do ponto de vista de um inglês, tanto autor (embora francês, foi morar na Inglaterra quando criança) quanto protagonistas. Soma-se a isso o momento histórico retratado, o imperialismo britânico em algumas regiões da China, e tem-se uma ideia do tipo de estereótipo a ser aqui encontrado (a doença é do colonizado, que é em si mesmo doente e sujo, enquanto o colonizador é a ele em tudo superior, a ponto de poder ser o herói).

Meu maior interesse nesta obra foi entrar em contato com uma literatura que abordasse uma epidemia. Neste sentido, e escrevo esta resenha em 2021 quando estamos vivendo a pandemia de coronavírus, achei muito interessante algumas reflexões da protagonista, Kitty. Porém, confesso, gostaria que o livro intercalasse alguns capítulos com a visão de Walter, médico bacteriologista, o que não acontece.

“Era incrível que a natureza (o azul do céu era puro como o coração de uma criança) continuasse tão indiferente enquanto os homens se contorciam em agonia e, apavorados, esperavam a morte.”

A epidemia de cólera produz um cenário aterrorizante, as pessoas morrem rapidamente e em grande quantidade. É uma doença que provoca uma morte que choca: há deterioração do corpo aliado a um sofrimento intenso. Os recursos médicos são escassos, há muita pobreza, muito sofrimento e uma solidão assustadora. Solidão geográfica, pois o vilarejo em questão é bastante isolado e longe de tudo. Solidão social, pois quase nada é feito por aquelas pessoas, que mal são tratadas como seres humanos. Solidão cultural, o preconceito e a discriminação se fazem tanto de forma direta (olhar de nojo e repulsa, por exemplo), como de forma indireta, estruturalmente pela hierarquia estabelecida. Há, por fim, a solidão da morte, não velada, não enlutada, da morte que se torna lugar comum e, por isso, sobram poucos vivos para chorar os mortos.

“Acostumara-se de tal modo àquela enfermidade que vir a contraí-la já não lhe parecia possível. Oh, como fora tola! Tinha certeza que ia morrer. Estava aterrorizada.”
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Andressa.Severo 17/01/2024

Sobre o desenvolvimento pessoal da protagonista
Acredito que antes mesmo de ser um livro sobre casamento é sobre o desenvolvimento da Kitty.
De início ela é uma personagem desagradável e mimada que poucos se torna mais responsável pelo que sente e de como se comporta.
No entanto, ao meu ver, a Kitty não evoluiu tanto assim e um acontecimento específico ocorrido quase no fim da trama me deixou desagradada com o livro. Esse acontecimento não ocorre na adaptação cinematográfica.
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Lia Trajano 19/10/2020

O livro prende, li em dois dias. A história é bem dinâmica. Sobre a personagem, ela mostrou ser realmente fútil, leviana e ainda egoísta, mesmo sabendo que nunca valorizou o pai insiste em impor sua presença à ele quando deveria deixá-lo em paz e viver a própria vida, parece que não aprendeu nada mesmo depois de tudo que passou.
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Nyco 24/09/2019

"Tao. Alguns de nós procuram o caminho no ópio, outros, em Deus; alguns no uísque e outros no amor. Tudo é o mesmo caminho e não leva a parte alguma".
Catalina.ZumarAn 02/02/2022minha estante
Hahahahahahaha. Disse tudo, Nyco!




Orochi Fábio 13/04/2020

Eis que!...
Destino um tanto abrupto para questões TÃO profundas levantadas pelo autor: mas não é exatamente este o ponto? Coerência & elegância de uma grande narrativa...
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Karen 19/12/2021

Ser egoísta é...
O livro é um deleite até as últimas 20 páginas que encerram o romance.
Sua conclusão deixou uma impressão de morna e meio crua. Ainda assim, VALE A LEITURA.
A descrição das paisagens já vale.
3 personagens principais onde cada um colocou a sua lente de expectativas sobre o outro e vive uma realidade de 'expectativas'. Até que ... a real realidade bate a porta.
"..., mas encanto e nada mais do que encanto acaba sendo cansativo,... é um alívio tratar com um homem que não seja tão encantador, mas um pouco mais sincero.".
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Bia 21/08/2017

Prefiro o filme.
Final não me agradou.
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Dayane.C Silva 04/08/2016

Bonito ...mas prefiro o filme!!!
Adorei a linguagem, adoro livros mais antigos e peguei um livro de edição no ano de 1949 estava bem velhinho. Gostei da escrita e já estou querendo ler outros do autor. Mas achei o filme mais atraente, princialmente no final. Adorei a leitura.
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Luiza.Rufino 22/01/2022

Talvez eu seja um pouco iludida pois pensei que a Kitty iria se resolver com o marido. Eu achei um livro ok porém não gostei do final pois parece que tava na pressa de acabar logo.
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Annie 20/07/2015

Drama muito humano.
“Ela soltou um grito assustado.
– O que foi? – perguntou ele.
Apesar da penumbra em que as persianas corridas mergulhavam o quarto, ele viu o rosto dela subitamente desfigurado pelo terror.
– Alguém tentou abrir a porta.
– Bem, talvez fosse a amah, ou algum dos criados.
– Nunca aparecem aqui a esta hora. Sabem que faço sempre a sesta depois do almoço.
– Quem mais poderia ser?
– O Walter – sussurrou ela com lábios trémulos.
Apontou para os sapatos dele. Ele tentou calçá-los, mas o nervosismo dela roubava-lhe a destreza, pois tanta ansiedade estava a afetá-lo e, além disso, os sapatos estavam do lado mais apertado da cama. Com um breve suspiro de impaciência ela deu-lhe a calçadeira. Em seguida ela própria vestiu um quimono e dirigiu-se descalça para o toucador. Usava o cabelo muito curto e, com um pente, tinha conseguido retocar-lhe a desordem antes de ele acabar de apertar o segundo sapato. Estendeu-lhe o casaco.
– Como é que eu saio?
– É melhor esperar um bocadinho. Vou espreitar para ver se está tudo bem.
– Não pode ser o Walter. Ele só sai do laboratório às cinco.
– Então quem será?” (página 11 - a primeira do romance)"

Em meados de 2009, assisti a um filme chamado "O Despertar de Uma Paixão". Achei bastante denso (apesar de clichê) e decidi procurar mais sobre ele. Descobri que era baseado em um livro - O Véu Pintado. Como os livros geralmente são mais abrangentes que os filmes, comprei... E só tive a oportunidade de finalizar agora.

Antes de falar sobre a história propriamente dita, gostaria de comentar o prefácio do autor, onde ele explica como começou esta história:

"Como já tinha lido o Inferno (com a ajuda de uma tradução, mas procurando conscienciosamente no dicionário as palavras que não sabia), comecei o Purgatório com a Ersilia. Quando chegamos à passagem que atrás transcrevi, ela disse-me que Pia era uma fidalga de Siena cujo marido, suspeitando que ela cometia adultério, mas receando mandá-la matar por causa da família dela, a levou para o seu castelo de Maremma onde acreditava que os vapores venenosos fariam o trabalho; ela, porém, demorava tanto a morrer que ele, impaciente, ordenou que a atirassem da janela. (página 09)"

Nesta altura de sua vida, o autor viajava pela Europa para completar seus estudos em medicina. Quando chegou à Itália, conheceu esta moça, Ersília, que o ensinava o idioma. Leram várias obras; dentre elas, Purgatório, de Dante.

"Deb, quando tu sarai tornato al mondo,E riposato della lunga via,Seguito il terzo spirito al secondo,Ricorditi di me, che son la Pia:Siena mi fè; disfecemi Maremma:Salsi colui, che, innanellata priaDisposando m’avea con la sua gemma.
("Peço-te que, quando ao mundo tornares, e da longa jornada repousares, seguido que for o terceiro espírito ao segundo, te recordes de mim, que sou a Pia. Siena me fez, Maremma me desfez: sabe-o aquele que após noivar me desposou com o seu anel.") (Página 7)"

A passagem acima estimula Ersília a contar a história da fidalga Pia (como o próprio autor explica). Isto o inspira a criar Kitty, uma fidalga não tão ilustre quanto a outra, mas também adúltera. Ela se casa com Walter, um bacteriologista inglês que residia em Hong Kong, por falta de opção (estava ficando "velha" e sua irmã, que era feia, estava para se casar com um barão). O esposo era mais do que apaixonado por ela e fazia todas as suas vontades, mas Kitty não se sentia verdadeiramente tocada por ele. Às vezes, ele a causava até repulsa. É neste momento que ela conhece Charlie, um embaixador. Os dois têm um caso intenso, mas Walter descobre a traição e, como vingança, decide aceitar o trabalho de médico no interior da China, onde uma grande epidemia de cólera acontecia.

Ameaçada com o divórcio caso não aceitasse ir com ele (devemos nos lembrar que nessa época uma mulher "desquitada" era uma grande vergonha para si e para a família), Kitty tenta recorrer a Charlie para que se separe de Dorothy, sua esposa; ele, porém, recusa. Sem escolhas e dentro de um casamento infeliz, conhecendo um Walter que não a ama mais, que a repudia e que se enoja de si mesmo por ter confiado nela, Kitty o acompanha em uma missão que mais parece uma roleta russa para ambos.

Confesso que esperava algo romântico e clichê como no filme, mas um pouco mais maduro. Fui, todavia, completamente surpreendida. O Véu Pintado não se trata de uma história de redenção ou de um amor romântico puro. Ao contrário: conta a história de Kitty, uma mulher fútil, quase infantil, que cresce e amadurece frente a provações que a vida lhe impõe e que tem a oportunidade de valorizar mais sua própria existência quando se encontra em um ambiente tão desolado, mas que também volta a cometer erros, que trai seus próprios sentimentos, que dá a volta por cima... Resumindo, uma humana com suas falhas, qualidades e complexidade. Sua história com Walter é apenas um pretexto. Apesar disso, tenho de admitir que Kitty me pareceu muito estúpida, mesmo depois de tudo pelo que passou. Há também algumas personagens mortas, de passagem, que poderiam ter sido melhor exploradas em sua relação com a protagonista.

Também é perceptível o conhecimento cultural do autor. Além do que já foi exposto, o livro possui vários pontos de intertextualidade, mesmo em situações bastante dramáticas e tensas (como durante a morte de alguma personagem), mas sem a presença de digressões, o que o torna bastante diferente de livros como Memórias Póstumas de Brás Cubas ou Viagens na Minha Terra (além de a narração se dar na terceira pessoa do singular, configurando um narrador onisciente).

A capa faz jus ao tema principal da história: Kitty, e tão somente Kitty. Em se tratando de psicologia das cores, o roxo:

"É a cor da prudência, remete a sabedoria, filosofia, sofisticação e contemplação. Tem a ver com o emocional, o espiritual e transmite profundidade e experiência. É utilizado para comunicar melancolia, realeza, dor, sentimentos intensos, religiosidade, magia, sofisticação e suntuosidade."

O que se encaixa perfeitamente com o intuito do livro. A diagramação foi muito bem feitas; as páginas são amareladas e de boa textura, o que não cansa o leitor e evita que o livro seja danificado facilmente.

Nota: 4 estrelas.

site: http://seismilenios.blogspot.com.br/2015/07/resenha-o-veu-pintado-william-somerset.html
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Quel 02/04/2022

Recomendo
A leitura é fluida, os capítulos são bem divididos, não me apeguei a nenhum personagem, mas a história é bem desenvolvida e a personagem principal evolui.
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cid 10/09/2010

"... o véu pintado a que os vivos chamam vida "
S M nos conta no prefácio como teve a idéia do livro. Em sua juventude, passou férias em Veneza e lá aprendeu italiano e a estória de Pia, uma fidalga que o marido suspeitou adúltera e planejou matar.Mas, a estória que escreveu, acredito que fala mais de conhecimento e evolução . Kitty , que era uma jovem fútil e descuidada, percorre um caminho que a leva a se tornar um ser humano que descobre a solidariedade num remoto lugar da China. E olha toda a sua vida com outros olhos. Mais lúcida, ela tenta consertar o que deixou pelo caminho.
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Maria.Jose.Brollo 28/06/2018

Convencional. Uma boa leitura
No início parece mais uma história de amor convencional, mas acaba por surpreender, com reviravoltas até a ultima página
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Só Sobre Livros 24/05/2013

Realismo britânico dos anos 20
Confira resenha no blog http://sosobrelivros.blogspot.com.br/2012/07/realismo-britanico-dos-anos-20-renata.html
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