Vagner46 02/07/2015Desbravando O Último ReinoAlgumas palavras para definir esse livro? Vingança, traição, paredes de escudos. É isso o que você encontrará na narrativa e, tenho certeza, fará você se apaixonar por essa série. Comprei a coleção das Crônicas Saxônicas só de ler a sinopse e olhar para as capas, que são extremamente bonitas e possuem um cenário de guerra "sedutor". Deixando as enrolações de lado, mãos à obra.
Uhtred é um garoto saxão nascido na Nortúmbria, ao norte da Inglaterra como conhecemos hoje, e aos 10 anos acaba ficando órfão devido a um ataque dos dinamarqueses à região perto de sua terra natal, Bebbanburg. O que muda totalmente o destino de Uhtred é o fato dele ser capturado nesse ataque e começar a ser criado como um próprio dinamarquês pelo earl Ragnar, um chefe muito carismático e também excelente guerreiro, que desde pequeno lhe ensina a arte da batalha.
O livro,na sua maior parte, nos mostra a história do ponto de vista de Uhtred em meio aos invasores dinamarqueses, pois é com eles que Uhtred cresce e percebe a sua veneração pela guerra desde o momento em que põem os pés no mundo. Mesmo gostando do modo de vida dinamarquês e da sua cultura, Uhtred jamais esquece de Bebbanburg, pois é para lá que seu coração aponta, é lá que está a fortaleza da sua família e que pertence a ele agora, apesar de estar fora de alcance.
"Tinha aprendido a esconder minha alma, ou talvez estivesse confuso. Nortumbriano ou dinamarquês? O que eu era? O que queria ser?"
A partir de então a narrativa, sempre em primeira pessoa, por sinal, começa a retratar a conquista dos dinamarqueses, que com sua fúria e coragem chegaram ao litoral norte da Inglaterra e a partir dali expandiram o seu domínio pelo território inglês. Mas o que significa "O Último Reino", Vagner? O último reino refere-se a Wessex, única província inglesa que não foi conquistada pelos invasores, mesmo após Nortúmbria, Mércia e Ânglia Oriental caírem e ficarem sob domínio dos dinamarqueses. Uhtred aprende a lutar ao lado de Ragnar e seus guerreiros, que o consideram um aliado importante e o protegem de todos os perigos que podem atrapalhar a sua caminhada.
"- Um líder lidera – disse Ragnar – e não se pode pedir que os homens arrisquem a vida se não estivermos dispostos a arriscá-la também."
O grande destaque dessa série não poderia ser outro: paredes de escudos. É incrível a quantidade de detalhes que o autor coloca em meio às cenas de guerra que você vai acabar a leitura simplesmente achando que já sabe matar todo mundo e está pronto para uma batalha de verdade.
Bernard Cornwell é um dos poucos autores que consegue transformar uma briga de rua em uma batalha épica entre dois exércitos. Você se sentirá lá no meio, baixando o escudo para não receber um golpe nos tornozelos enquanto levanta aquela espada para enfiá-la nas tripas do seu oponente.
"O júbilo! O júbilo da espada. Eu estava dançando de júbilo, a alegria fervilhando dentro de mim, o júbilo da batalha do qual Ragnar falava com tanta freqüência, o júbilo do guerreiro. Se um homem não o conheceu não é homem. Aquela não era uma batalha, não era uma carnificina propriamente dita, apenas uma matança de ladrões, mas foi minha primeira luta e os deuses tinham se movido dentro de mim, tinham dado velocidade ao meu braço e força ao escudo, e quando terminou, e quando dancei no sangue dos mortos, soube que eu era bom. Soube que eu era mais do que bom. Naquele momento poderia ter conquistado o mundo e meu único lamento era porque meu amigo não pôde ver, mas achei que ele poderia estar me olhando do Valhalla. Levantei Bafo de Serpente para as nuvens e gritei o nome dele. Já vi outros jovens saírem da primeira luta com o mesmo júbilo e os enterrei depois da batalha seguinte. Os jovens são idiotas, e eu era jovem. Mas era bom.
Algumas mulheres também entram e saem da vida de Uhtred conforme ele cresce e suas necessidades (fisiológicas) mudam. Sugiro que vocês prestem bastante atenção nessas personagens femininas, pois elas serão imprescindíveis para entendermos o que o futuro reserva para Uhtred.
Ah, não posso esquecer de comentar sobre o destino. Sim, sobre ele mesmo, o rumo que nossa vida irá levar. Sobre as três fiandeiras que regem a vida de Uhtred e insistem em colocá-lo na trama mais profunda possível, fazendo-o passar por muitas dificuldades e sempre se perguntar se está fazendo a coisa certa. Porque o destino, como já dizia Merlin nas Crônicas de Artur, é inexorável.
"O destino é tudo. E agora, olhando para trás, vejo o padrão da jornada de minha vida. Começou em Bebbanburg e me levou ao sul, sempre para o sul, até que cheguei ao litoral mais distante da Inglaterra e não podia ir mais longe continuando a ouvir minha língua. Essa foi minha jornada de infância. Como adulto fui para o outro lado, sempre para o norte, levando espada, lança e machado para limpar o caminho de volta até onde comecei. Destino."
Sinceramente, me faltam palavras bonitas e verdadeiras o suficiente para descrever todo o amor que eu sinto por essa série. Apenas leia, e depois passe aqui para dizer se valeu a pena ou não.
Os livros das Crônicas Saxônicas fazem parte de uma história épica e que deve ser lida por todos os amantes de guerra! A caminhada do guerreiro saxão Uhtred o levará a traições e mentiras, ódio e vingança, e você não pode ficar de fora. Não vejo a hora de ler o segundo!
Pontos fortes: ação. Sangue. Guerra. Batalhas e mais batalhas. Paredes de escudos. Narrativa envolvente e um personagem tão foda que não há como não gostar.
Pontos fracos: para mim não é problema, mas acredito que a alta quantidade de personagens e seus herdeiros/antepassados possa confundir alguns leitores iniciantes no gênero.
Se eu recomendo? COM CERTEZA!
site:
http://desbravandolivros.blogspot.com.br/2012/08/resenha-o-ultimo-reino-bernard-cornwell.html