Ana Júlia Coelho 13/07/2023Desde criança Jim Jones era capaz de influenciar pessoas, mas sempre mostrou um comportamento meio estranho. Pelo seu triste histórico familiar, conhecidos e vizinhos relevavam seu jeito errático de ser. Foi ainda bem jovem que Jones começou a ensaiar discursos e viu que poderia criar um culto e arrastar multidões quando crescesse.
Acompanhamos os passos que levaram à criação do Templo Popular e como foi penoso conseguir conquistar tantos seguidores. A intenção era mostrar ao mundo que é possível viver de forma socialista, com todas as pessoas sendo tratadas de forma igualitária, compartilhando tudo com todos. Mas, sabendo que esse tipo de discurso teria dificuldade em atrair ouvintes, ele optou por inserir uma coisa ou outra sobre fé. Em alguns momentos o número de seguidores caía, em outros subia bastante, até que o Templo Popular se tornou tão icônico que era difícil administrar a quantidade de gente que queria ouvir Jones.
De início parecia que o cara tinha boa intenção; ele realmente conseguiu impactar a vida de vários seguidores, pregando muito contra o racismo e conseguindo com que líderes políticos de alguns lugares implementassem políticas antissegregacionistas. Mas acho que o sucesso subiu à cabeça e ele passou a criar teorias da conspiração a ponto de se enfiar no meio da mata fechada na Guiana e criar sua própria cidade: Jonestown. Em Jonestown as coisas se sustentaram mal e porcamente por 4 anos, até que teve um fim trágico com o suicídio coletivo de mais de 900 pessoas.
Eu já tinha ficado chocada ao ler sobre Charles Manson, mas Jeff Guinn conseguiu me impactar mais ainda com os relatos dessa história. Esse tipo de livro serve muito para mostrar como as pessoas não têm senso crítico, acreditam em tudo que um indivíduo cheio de convicções diz. O jeito que Jones enrolava os seguidores era ridículo, e mesmo assim impressionava milhares de pessoas, tanto que cheguei a questionar a sanidade mental desse povo. Curas milagrosas, previsões que não se concretizavam (porque seguiam o que ele dizia, então as pessoas se salvavam), um absurdo maior que o outro.
E o tanto de riqueza que ele acumulou, sempre fingindo que o Templo precisava de cada vez mais doações. Ele se apropriou de bens, salários e aposentadorias, e a maioria das pessoas lhe entregava de bom grado. Entregavam, inclusive, os próprios filhos para serem criados coletivamente pelos fiéis em Jonestown. Mesmo um ou outro seguidor acordando para a realidade e percebendo os absurdos pregados por Jones, foi difícil derrubar essa figura tão popular entre os seus. Esse livro gera revolta. Revolta pela cara de pau de um homem enrolar tantas pessoas, e revolta por tanta gente não perceber que tinha alguma coisa estranha acontecendo.
Por se tratar de uma biografia, em alguns momentos a leitura se torna maçante e arrastada, e a edição da Darkside raramente contribui para que a leitura flua, já que as letras são sempre muito miúdas. Acho que um jeito de melhorar isso seria inserir as figuras e as referências ao longo do texto todo, ao invés de separar fisicamente no final do livro.
Para mais resenhas, me siga no instagram @livrodebolsa