Vanessa Boedermann 05/03/2018Araruama | Blog Corredora LiteráriaO autor Ian Fraser fundou o canal Teclado Disléxico onde trata de assuntos relacionados a cinema, TV e literatura, escreveu e produziu a peça A Máquina que Dobra o Nada, vencedor do prêmio Braskem de teatro, seu primeiro romance foi o Sangue é Agreste, vencedor do prêmio Jovem Autor Inédito pelo Selo João Ubaldo Ribeiro, é o primeiro capítulo da trilogia Os Livros do Sertão. Araruama foi um livro lançado através do financiamento coletivo do Catarse, e que ultrapassou a meta inicial estipulada devido ao tremendo sucesso.
Eu sempre falo das capas e a desse livro não seria diferente, é linda! Parece uma pintura em tela, as ilustrações internas também não ficam atrás e completam nossa imersão no mundo indígena!
O livro é um banho de mitologia indígena, fauna, flora e folclore, acompanhamos o crescimento e treinamento de cinco crianças de tribos diferentes, as quais também possuem Deuses e culturas diferentes, Apoema, Obiru, Batarra Cotuba e Kaluanã são os personagens principais. Esqueça o "clichê" e deixe seus preconceitos com "folclore" e "literatura nacional" de lado, porque aqui você será completamente surpreendido!
Ao iniciar a leitura fiquei um pouco perdida devido a quantidade de tribos (são sete), personagens e nomes indígenas da armas, Deuses e rituais, mas aos pouquinhos fui pegando o ritmo, para ajudar o leitor o livro possui um glossário e um mapa os quais eu consultei durante toda a leitura.
De primeiro impacto fiquei bem chocada ao conhecer a cultura desse povo, ao nascer as crianças passam pelo ritual aman paba, as Majé, curandeiras que são capazes de enxergar a linha que costura o tempo dizem quantos motirõ as crianças irão viver, de acordo com seu motirõ cada criança terá seu papel estabelecido na tribo dentro de uma hierarquia. As crianças com aman paba baixo são destratadas, são seres insignificantes, como se fossem um peso, há diálogos muito duros entre os pais e essas crianças que me deixaram muito triste mesmo.
Bem no início do livro uma alcateia de guará ataca os Mitanguarini (aprendizes na tribo) e que cena visceral e agonizante, o autor a descreveu muito bem, me senti ali, escondida na árvore mais próxima, sem poder interferir em nada diante da situação. Fiquei perplexa!
Os personagens são cativantes e foram muito bem trabalhados em sua personalidade e história individual, me apeguei aos protagonistas e aos coadjuvantes.
Há muitos nomes de animais e plantas que no decorrer da leitura eu pesquisei imagens no site de busca, isso sem duvida alguma me ajudou muito mais a me ambientar na história. Quantos pássaros lindos temos em nosso país!
O autor foi muito original na criação dessa mitologia e linguagem própria, valorizou nossa cultura, foi rico em detalhes e descrições, com certeza mexeu muito com minha imaginação com seus seres fantásticos.
Com certeza indico a leitura desse livro a vocês, um livro nacional indispensável em sua estante, aguardo ansiosamente pelo próximo livro "O Livro das Raízes".
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