Padu Ribeiro 03/11/2023
“Market Garden” é uma HQ nacional do quadrinista Bruno Seeling, lançada na CCXP de 2017 e publicada pela Editora Mino, que reúne duas estórias curtas sobre um grupo de amigos em momentos diferentes da adolescência.
Na primeira delas, 'Blitzkrieg', quatro amigos cansados de sofrer bullying decidem declarar guerra contra o valentão sem noção da escola. A estratégia? Blitzkrieg, uma tática militar usada com sucesso na Segunda Guerra Mundial que consiste numa espécie de guerra-relâmpago em que se unem forças em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que os inimigos tenham tempo de organizar uma defesa. Dois anos depois do Blitzkrieg, temos a segunda estória: “Market Garden”. Novamente, o grupo de amigos recorre ao uso de uma tática militar para alcançar seus objetivos. O objetivo dessa vez é simples: arrumar cervejas e transportá-las até uma festa, escondidos dos pais. Tudo isso na véspera de um simulado para o vestibular.
As histórias sutilmente perpassam os dilemas típicos da adolescência: aceitação, bullying, escola, tensão pelo vestibular, garotas, amizade, pressão dos pais, futuro profissional, etc. Do grupo de cinco, apenas três têm personalidades marcantes, mais trabalhadas. Mas é o suficiente. É divertido acompanhar as desventuras mirabolantes desse quarteto/quinteto, e fiquei na vontade de mais estórias, pois me transportaram para o ensino médio, e me fizeram sentir saudade desse tempo. Acho que o formato apresentado funcionaria muito bem como uma série regular de histórias curtas.
Os desenhos do Bruno Seelig combinam muito bem com a proposta da HQ, com um traço desproporcional, mais grosso, bem marcado nos contornos, mas, ao mesmo tempo, limpo. Vi na internet alguém dizendo que remete ao desleixo dessa geração anos 90, bem engraçado e simples de ler, e que o fato de ser todo impresso em azul lembra os cadernos de escola dessa época que eram preenchidos de letras e desenhos mal feitos por jovens sonhadores. Além disso, os cenários são cheios de referência ao mundo nerd e à época e nos ajudam a entender melhor o gosto desses garotos. Além da estilização dos personagens que já mostra muito da habilidade do artista para construir “tipos” que darão o tom da sua história, a narrativa visual do Seelig é bem dinâmica, com ângulos ousados e bastante movimentação.
No fim, são 2 histórias bem curtinhas que ficam entre o clichê e uma representação divertida que vai te trazer nostalgia dos tempos de escola. É uma HQ bem feita, bem desenhada, divertida e de leitura rápida, que vai te pegar pela empatia. Boa indicação para quem gosta de qualquer aventura infantil daquelas típicas do autor Stephen King, como “Conta Comigo”, e para passar o tempo, se conseguir por um preço.