O crocodilo

O crocodilo Fiódor Dostoiévski




Resenhas - O Crocodilo


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Juno 17/06/2020

O crocodilo, para mim, é um conto fantástico! O absurdo sendo absorvido como algo corriqueiro lembra muito temáticas como a metamorfose, de Kafka, e os contos de Murilo Rubião tb. É uma pena que o conto nunca fora terminado.
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Amélia Galvão 25/05/2020

São dois textos escritos na década de 1860, a mesma da publicação de "Crime e castigo" (1866). "O Crocodilo" (1865) é uma novela inacabada permeada de aspectos fantásticos e cômicos e é uma sátira genial sobre o capitalismo. "Notas de inverno sobre impressões de verão" (1863) é um relato de viagem que transborda ironias e críticas à alta sociedade russa e à burguesia europeia, principalmente a francesa.

Eu amei a novela "O crocodilo"! Seu estilo cômico e fantástico foi inspirado nos textos de Nikolai Gógol e Dostoiévski disse, inclusive, que queria imitar a novela "O nariz" e fazer algo apenas para rir. Mas, estamos falando de Dostô, então é lógico que esse texto não provoca apenas risadas, mas várias reflexões também.

A leitura do crocodilo pode ser feita em várias camadas. Pode ser apenas um texto divertido ou podemos mergulhar mais a fundo e ver as metáforas e os símbolos empregados pelo autor. Ambas as leituras são prazerosas, mas confesso achar muito mais interessante e divertida essa última. Para a conseguirmos fazer é necessário um pouco de conhecimento sobre a Rússia nesse período e também sobre o que Dostoiévski pensava.

Aviso que a novela não foi finalizada e que isso não diminui nem um pouco a sua qualidade, apenas nos deixa com o sentimento de quero mais. A história é sobre Ivan Matviéitch, um pequeno funcionário público russo, o qual, antes da sua viagem para a Europa, decide visitar uma exposição de animais estrangeiros onde há um crocodilo. O problema se inicia quando esse réptil o engole.

Sem a pretensão de fazer uma análise detalhada, quero mencionar alguns aspectos. Alerto que nada está no texto por acaso, as descrições, as palavras, tudo é escolhido a dedo por Dostoiévski, como, por exemplo, o fato de Ivan pretender viajar à Europa, da exposição ser de animais estrangeiros e de ser propriedade de um alemão. Ao meu ver o crocodilo é uma representação do capitalismo europeu engolindo a Rússia. Inclusive, uma personagem do livro, colega de Ivan, afirma que ele "só tratava de 'progresso' e de umas certas ideias, e eis aonde conduziu o progresso", ou seja, Ivan era um ferrenho defensor das ideias ocidentalistas, acreditando que a Europa ocidental seria o modelo de progresso a ser seguido, mas ele acaba engolido por aquilo que ele defendia.

Na história é explicado que a palavra crocodilo vem da raiz francesa croquer, a qual significa comer ou devorar e é descrita como característica fundamental do réptil o engolir gente, que as suas entranhas deveriam incessantemente engolir e se encher de tudo o que esteja à mão. Para mim, Dostoiévski está aqui enfatizando a voracidade, a selvageria do modelo burguês europeu, o qual engole tudo que está ao seu alcance.

Também há muitas ironias e críticas à burocracia russa, bem como àqueles que pensam ser tudo melhor na Europa ocidental. Algumas personagens apresentam ideias desumanas e colocam o "princípio econômico" acima de tudo, pregando a exploração e o sacrifício do homem russo pelos estrangeiros. Inclusive, uma chega ao cúmulo de caracterizar Ivan como alguém vil por ter "se deixado" engolir pelo crocodilo e lhe causar sofrimento, ou seja, há uma clara inversão de papéis.

É uma novela, infelizmente, ainda bastante atual, a qual critica não só o pensamento ocidentalista e a burguesia europeia, mas principalmente a desumanidade das pessoas, o descaso delas em relação ao próximo e a não valorização do indivíduo, o qual é visto apenas como uma ferramenta descartável.

Já "Notas de Inverno sobre impressões de verão" é um texto muito próximo a um ensaio e em que a falta de algum conhecimento sobre a Rússia e sobre Dostô pode dificultar a percepção das ironias e diminuir a graça e a compreensão do texto. Trata-se de um relato de viagem, no qual ele comenta suas percepções da França, Inglaterra e Alemanha e as relaciona com aspectos da sociedade russa.

Eu também amei essa leitura e sua ironia e acidez me lembraram Machado, já as descrições da sujeira e miséria das cidades me lembraram o Dickens. Nesse relato, Dostoiévski se utiliza da viagem para criticar principalmente os ocidentalistas russos e a burguesia francesa e inglesa. Os ocidentalistas viam a Europa ocidental como o exemplo de progresso a ser seguido e desejavam importar vários comportamentos, teorias e modelos, fossem no ramo das artes, da ciência, filosofia, economia ou outras áreas.

Dostoiésvki faz várias críticas a veneração cega que muitos russos tinham pelos europeus, principalmente pelos franceses e da necessidade de andar com rédeas alheias. Ele critica a valorização dos ideais burgueses, os quais prezavam, entre outros, por um comportamento de aparências, pela exploração dos menos favorecidos e pela submissão da mulher. Ele compara Petersburgo com Paris e Londres, justamente por sua criação se basear nos moldes das metrópoles europeias. Era para ela representar a modernização e o progresso da Rússia. No entanto, o que se enxerga em todas elas são miséria, sujeira e sofrimento. São pessoas passando fome, prostituindo-se e sendo exploradas enquanto a única coisa que importa é o acúmulo de capitais e bens.

Ele critica também a falsa moralidade, o falso pudor e o falso cristão. Critica os nobres russos que se dizem tão avançados por se vestirem como burgueses e seguirem esses pensamentos, mas que continuam a tratar com crueldade seus criados, utilizar-se das mesmas maneiras patriarcais com suas famílias e tratar com tirania suas mulheres. Que espécie de progresso é esse? Dostoiévski nos mostra que a alta sociedade russa acusava seu povo de barbárie, ridicularizava a cultura local e adorava cegamente a civilização europeia, no entanto o que ela fez ao tentar os imitar foi apenas trocar alguns preconceitos e baixezas por outros ainda maiores.

Há reflexões sobre o socialismo, o comunismo, a burguesia, a autocracia, o cristianismo, o papel da mulher e natureza do ser humano. Ele acreditava que o problema da sociedade estaria ligado à natureza do homem, à estruturação da sociedade na razão ao invés do sentimento. Para ele o homem ocidental teria uma natureza individualista, a qual o impede de uma fraternidade autêntica. Seria preciso que "se tenda instintivamente à fraternidade, à comunhão, à concórdia [...]", em síntese: é preciso amar.

Enfim, é uma leitura densa, divertida, reflexiva e essencial para aqueles que desejam conhecer mais o autor. Recomendo muito, mas não como uma porta de entrada. Acredito que seja melhor começar com o "Crime e Castigo" por ser uma obra mais palatável da sua fase madura.
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Iara 22/06/2011

"Notas de inverno sobre impressões de verão" é muito bom, adorei a descrição dos franceses sob o ponto de vista russo!
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Edna 05/05/2020

Bizarro e satírico
"O Crocodilo" ? Uma novela com gênero fantástico satírica que ficou inacabado. A idéia de escrita surge das leituras de Gogol como O Nariz que inspira Dostô que desafia a crítica que o tinha como um escritor sorumbático na época.

Um Crocodilo que exposto em uma galeria por um empresário alemão em uma dessas apresentações engole o funcionário público Russo,
que se acomoda no estômago do Crocodilo e se comunica com a esposa e com o amigo e surpreendentemente se sente à vontade no interior do animal, e diz que agora sim, pode trabalhar e ser útil, o que nos faz refletir que o que Ele queria era o fama, os falsos valores, queria ser notado, o que consegue, vira matéria dos jornais e dos rádios corredores. E ninguém se preocupa com a situação dele, veem logo uma vantagem e um novo investimento para melhorar a economia. esposa que já se sente viúva no dia seguinte ao ocorrido, é muito bizarro embora a crítica esteja presente
"Notas de Inverno Sobre Impressões de Verão" ? É um ensaio que relata uma viagem no verão de 1862 que Dostoievski fez pela Europa, passando pela Alemanha, França, Canal da Mancha, Itália, Suíça e Inglaterra e Rússia e em alguns pontos vai estar na volta também, uma viagenzinha básicas de mais de dois meses pela Europa e Ocidente no século XIX.

Ele narra os detalhes dos cenários, e ao aprofundar a leitura você percebe uma avidez que Ele observa sim mas principalmente os costumes das pessoas dos Russos que insistem em imitar os Europeus, e aborda bastante o Francês de Paris que Ele acentua qualquer francês pobre ou rico tem um aspecto nobre, faz crítica dos casamentos por interesse e da falsa nobreza. Muita história embutida.

É isso! Gostaram?

#Bagagemliteraria
#Bookstagram
#Dostoievski
#Dostô
#Ocrocodilo
#Notasdeinversosobreimpressoesdeverao
#Fiqueemcasa
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May - @may.book.s 30/03/2020

Inusitado
Uma bela de uma crítica à sociedade e à política russa... irônico, sarcástico. Muito bom e rápido de ler...
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Carol | @carolreads 10/10/2019

O crocodilo e Notas de Inverso sobre Impressões de Verão
Continuo me divertindo com o projeto.

No primeiro conto deste livro Dostô nos apresenta uma história um tanto fantástica: Ivan Matviéitch, um funcionário público, é engolido vivo por um crocodilo. Ao contrário do que pensamos, ele continua vivo e demonstra muita satisfação por estar preso dentro desse monstro.

Apesar do conto ser curtinho e terminar abruptamente, o autor conseguiu passar sua mensagem. Critica, de forma leve e engraçada, o capitalismo e aqueles russos que querem - a todo o custo - pertencer a Europa.

Gostei muito do primeiro conto, mas não posso dizer o mesmo sobre notas de inverno sobre impressões de verão. Dostô escreveu o texto após visitar alguns países europeus e, enquanto no conto anterior as críticas à cultura europeia foram feitas de forma sútil, aqui o texto ficou confuso e arrastado.

Agora só faltam dois livros para concluir o #dostôesselindo de 2019. Vocês estão acompanhando o projeto? O que acharam de O Crocodilo e Notas de Inverno?

site: https://www.instagram.com/carolreads
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z..... 24/11/2018

Edição Literatura Mundial em Quadrinhos (Escala Educacional, 2011)
A HQ surpreendeu positivamente! Está muito interessante e provocativa, numa estética simples e bem arranjada para diferentes leitores, em aprendizagens com revelações, descobertas ou reflexões sobre os sistemas financeiros.

O conto inspirador é do século XIX, em que Dostoievski poderia ser considerado pessimista diante do crescimento do capitalismo, mas de forma pragmática foi surrealmente coerente ao sistema que se implantava, também instigante à corrupção e meios desapegados de ética, capaz de arranjos imorais e grotescos pelos objetivos. A história, por mais esquisita e ridícula que pareça, de um jeito autêntico e irônico reflete a atualidade. Fala de lucro, propriedade privada e coletiva, desvio de caráter, ideais imorais. Enfim, uma leitura satisfatória.

A arte é simples, lembrando caricaturas em estética antiga, muito ajustada a proposta almejada por Dostoievski. Simplicidade cativante numa leitura prazerosa. Pena que o autor não finalizou...

Imaginava o crocodilo como o grande vilão, mas é só mais uma das vítimas do que a ambição humana é capaz de atropelar estupidamente.

Gostei bastante do quadrinho!
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Samuel.Manzini 04/09/2018

Por quê, Dostoiévski?
Só lamento "O Crocodilo" não ter sido finalizado, eu estava gostando muito.
Aliás, comecei a ler sem saber que era um conto inacabado. Foi um potencial desperdiçado!

Um pensamento que me veio à cabeça: será que Franz Kafka leu "O Crocodilo" antes de se tornar escritor?

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Adriana1161 29/08/2018

Intenso
Esse livro mostra, na primeira parte, um Dostoiévski muito fantástico, até demais rsrs. Ele escreve um texto no estilo do "Nariz" de Gógol. E na segunda parte, um Dostoiévski crítico, filósofo e político.
É uma sátira.
São duas histórias que na verdade querem mostrar a luta pra manter a cultura russa, mesmo almejando o progresso europeu. São reflexões sobre o Capitalismo e o Socialismo. E é incrível, como ele fala o que quer dizer, sem dizer!
Enxurrada de impressões, ideias e pensamentos.
É impressionante, como Dostoiévski tinha um pensamento tão atual, incrível mesmo!
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Lucas 19/12/2015

Um ataque ao vazio de sentido do Ocidente
As "Notas..." são impressionantes. No mesmo tom exaltado daquelas outras notas - do Subsolo - e também de um outro passageiro russo de trem - "Sonata a Kreutzer" de Tolstói - mergulha-se numa maldição contra o suposto prazer de viajar. Além do tom francamente ranzinza, impressiona a condenação moral do autor-narrador contra Paris e seus habitantes - dos prazeres fáceis, rotina indolente, diletantismo fútil, hedonismo, adultério, exibicionismo, narcisismo, afetação intelectual - de um profundo vazio de sentido, que se estende ao Ocidente de um modo geral, já que Londres e algumas cidades alemãs também entram no pacote de impiedosas críticas. É difícil deixar de notar o paralelo entre esta crítica russa, com sua fé ortodoxa e sua moral semi-oriental, e a crítica atual dos radicais islâmicos que atacam Paris e o Ocidente. No mesmo paralelo, cabe observar o destaque que Dostoiévski dá ao opressivo estado de vigilância sobre o fluxo de migrantes e viajantes em Paris.
O fato é que o vazio de sentido que acomete o Ocidente - tema do recente "Submissão" de Houellebecq - já incomodava e indignava radicais morais como o autor-narrador russo destas Notas. E não sem razão.
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Luca Coelho 07/03/2013

Não é o melhor livro do Dostoiévski, mas me impressionei com a capacidade cômica que eu realmente não achava que ele tinha!!!!
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Inlectus 16/02/2011

Bom livro.
Aqueles tipos de contos dúbios e belos, que divertem e fazem pensar, leitura agradável.
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