Soliguetti 10/10/2018Queda drásticaQuem leu "Além da Magia" certamente enxergou uma saga cheia de potencial. Personagens carismáticos, enredo com potencial de ser mais explorado em eventuais continuações e uma escrita irônica e engraçada. Tudo isso se perdeu no segundo livro da série, "A Magia do Inverno".
Curiosamente, ao invés voltar a trabalhar nos personagens principais, Alice e Oliver, a escritora Tahereh Mafi resolveu introduzir uma nova personagem principal, Laylee. Isso até poderia ser encarado como algo bom, isso se a nova integrante não fosse extremamente chata e apática. Laylee leva muito tempo pra levantar um mínimo de empatia no leitor, e quando isso acontece já é tarde demais - a personagem já se tornou um estorvo.
Além de o foco ter mudado de personagem, também mudou no enredo. Praticamente nada do mundo de Ferenwood é retomado, e isso após ser deixada uma série de possibilidades no fim de "Além da Magia". A cerimônia da Entrega é rapidamente descrita, como se fosse algo de pouca importância, quando na verdade tem um peso enorme para Alice e sua construção. Ao invés de Ferenwood e Furthermore, somos levados ao mundo de Whichwood que, diferentemente dos dois primeiros, é sem graça.
Nada acontece em Whichwood que cative o leitor. A única diferença é que aqui há uma mordershoor, responsável por lavar os mortos e encaminhá-los para o mundo de Otherwhere, onde eles descansam em paz. Uma série de novas regras nesse mundo é criada por Mafi, que não servem para nada além de facilitar o enredo. As coisas se desenvolvem de maneira fácil demais, o que cria a percepção de uma história forçada.
A única coisa boa que restou de "Além da Magia" foi a narrativa da autora, mas com restrições. Mafi continua dialogando com o leitor em passagens divertidíssimas, mas elas parecem estar em quantidade muito menor com relação ao primeiro volume da série. A maior parte do livro ainda é descrevendo a rotina modorrenta de Laylee, ou tentando explicar novas regras no mundo de Whichwood de maneira que não pareçam tão forçadas - mas não dá muito certo.
Parece evidente que Tahereh Mafi não pretende retomar todas as coisas boas que criou em seu primeiro livro, já que apenas o mínimo foi reaproveitado em "A Magia do Inverno". O segundo volume sofre uma queda muito brusca na qualidade, colocando em dúvida se ainda veremos algo do fascinante mundo de Ferenwood e Furthermore mais adiante.