Tamirez | @resenhandosonhos 30/07/2018A Magia do InvernoEssa série de histórias independentes da autora Tahereh Mafi começou com Além da Magia, nos apresentando Ferenwood e Furthermore com Alice e Oliver. Aqui, vamos a um lugar um pouco mais sombrio e gelado conhecer Laylee, uma protagonista que tem muito a nos ensinar.
Acho que vale mencionar que mesmo sendo livros independentes, alguns personagens e desfechos se cruzam. Portanto, é possível ler A Magia do Inverno sem ter lido Além da Magia, mas muito do desfecho desse primeiro livro fica revelado ao fazer essa leitura. Assim, mesmo com a questão da independência, se a série lhe interessa, recomendo que faça a leitura seguindo a ordem, pra que possa aproveitar ao máximo.
E eu certamente curti muito mais esse livro do que o primeiro. A personalidade de Alice me incomodou bastante durante a leitura de Além da Magia, no contexto que nos foi apresentado. Aqui, temos uma personagem que é muito boltada para o seu âmago e que tem bastante dificuldade de aceitar a ajuda dos outros ou qualquer tipo de apoio. Isso, porém, é apenas um reflexo da forma injusta como a sociedade em que ela está inserida a trata.
Laylee é responsável por “despachar” os mortos. É um trabalho importante, que exige cuidado, dedicação e estômago. E, portanto, deveria ser recompensado de maneira proporcional. Porém, as pessoas pararam de dar atenção a tarefa dos mordeshoor e a recompensá-los pelo serviço. Com o afastamento do pai e a morte da mãe, a garota ainda muito jovem se viu sozinha com a missão e perdida em sua própria solidão. E esse é, em grande parte, o tema desse livro.
“No fim, o tempo e a compaixão são os presentes mais valiosos para uma pessoa que está sofrendo.”
Atrás do enfeites mágicos e das diferenças de mundo, o que Tahereh Mafi trabalha aqui de forma mais forte é o quanto a solidão pode fazer mal e de como é difícil, quanto mais afundado você estar nela, passar a enxergar que existem pessoas que podem sim te ajudar e dividir o fardo que você carrega. Mas, saber que você também pode ser essa pessoa que ajuda, que estender a mão a alguém que precisa é uma tarefa que vem cheia de recompensas e coisas positivas, se feita pelos motivos corretos.
Diferente de Farenwood, Whichwood não é cheia de cor e alegria, assim como o trabalho de Laylee não é algo feliz e incrível. Por si só, lidar com os mortos já é algo triste, em um cenário menos acalentador isso vai contribuindo para que a pessoa vá se sentindo deprimida, e com as perdas passe a ver pouca ou nenhuma motivação em ir em frente.
“Porque uma coisa é contemplar os mortos, mas segurar a morte nos braços é outra bem diferente.”
A escrita da autora, mesmo trabalhando um tema mais pesado, se mantém leve e conduz o leitor com bastante fluidez através das páginas. A leitura é bastante dinâmica e rápida, e essa edição da Universo dos Livros está bem bonita por dentro, assim como a primeira. Sobre a capa, confesso que já fui bem avessa à ela, mas já fiz minha paz. Acho que a editora optou por conceder a cada livro uma ilustradora diferente e isso, obviamente, impacta sobre a semelhança, já que cada artista tem o seu traço e as suas peculiaridades.
E, quanto ao retorno de alguns dos personagens que vimos em Além da Magia, é possível ver um amadurecimento e, ao mesmo tempo, a manutenção de algumas coisas bem específicas em cada personalidade. Um dos personagens em si, eu achei um pouco mais apático do que no primeiro livro, mas nada que impactasse. Também não encontrei aqui nenhuma grande referência que suprimisse a história como enxerguei no volume anterior, o que torna a história mais original. Teremos também alguns arcos sutis que envolvem interesses românticos entre alguns personagens e até gostei da inserção por parte da autora. Acho que serve como parte do propósito central da trama e isso sempre é bom.
Uma coisa peculiar que encontrei aqui, foi um personagem que é super fofo e mesmo assim conseguiu me causar bastante desconforto. Ele tem um dom bem específico, que envolve criar aranhas em baixo de sua pele e, consequentemente, manter uma relação bem próxima com elas. Eu sou bastante aracnofóbica, então somente imaginar a situação já foi suficiente para que eu começasse a me coçar ao imaginar aranhas andando sob a minha pele. Entretanto, é uma pessoinha muito querida e que super bate de frente com o teor de seus “dons”.
Levando tudo isso em consideração, me conectei muito mais com essa história e gostei bem mais da companhia ranzinza de Laylee do que da espoleta de Alice, mesmo compreendendo que a mensagem de aceitação que é passada no primeiro livro é tão importante quanto a trabalhada aqui. A Magia do Inverno é um livro mais sombrio, mas que não perde o seu encanto em meio a isso. Pra quem não começou a série, acho que vale super a pena e, para quem já leu o primeiro, o próximo passo oferece uma trama diferente e com mais magia a dissipar.
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