Japa 12/03/2024
Muito bom, mesmo.
Pra escrita desse livro, Engels se baseia em um outro livro, de um antropólogo chamado Lewis Morgan. Não o conheço, mas pela leitura desse exemplar do Engels, deu vontade de conhecer.
Esse livro do Engels é da década de 1880, em que a antropologia enquanto ciência pra conhecer o "outro", principalmente do "além-mar", era muito difundida. Mas Engels não se prende nisso e consegue empreender uma leitura sagaz se pensarmos no contexto em que foi escrito e desenvolvido.
Apesar do vício em alguns conceitos que hoje já estão em desuso, como o enviesamento "civilizado/bárbaro", Engels tenta subverter a lógica desses conceitos, explicando que o "progresso" material implica em "regressos", a depender da classe à qual estamos falando.
O autor consegue fazer uma ligação muito boa entre o surgimento do Estado, o surgimento das sociedades da mercadoria, do desenvolvimento das sociedades e do surgimento da monogamia a partir de um ponto de viata econômico e materialista. Achei muito pertinente.
Confesso que nos primeiros capítulos eu fiquei um pouco desencantado e até perdido: as constantes referências de Engels às sociedades romana e celta não me faziam tanto sentido. Mas ao longo do caminhar do livro, a pertinência desses apontamentos fizeram sentido e consegui entender a linha de raciocínio do autor.
É, no fim das contas, um clássico da antropologia muito pouco estudado nas universidades. Alguns outros citados no posfácio como clássicos são muito mais estudados, casos de Pierre Clastres e Claude Levi-Strauss. Precisamos resgatar e divulgar mais e mais a literatura científica marxista. Necessário o estudo.