As Crônicas de Marte

As Crônicas de Marte George R. R. Martin
Gardner Dozois
Ian McDonald




Resenhas - As Crônicas de Marte


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Yas 30/08/2020

Li esse livro através do BR DLX. No começo achei que fosse somente eu que estivesse com problemas com esse livro, logo depois percebi que o grupo estava pacato, ngm falava nada e quando era para falar, não estavam gostando assim como eu hehehe.


Livro muito sem sal, achei que fosse gostar por conta da introdução, mas... decepção, uma das piores leituras que fiz esse ano!

Os contos não me prendiam, eu começava a ler e me pegava do nada olhando pro teto, vendo a mosca, enfim. Foi decepcionante!
Franciele.Borges 30/08/2020minha estante
Fora que o livro estava caro para caramba...




Pedrol 26/12/2020

Primeiro contato com o planeta vermelho.
As Crônicas Marcianas é uma antalogia de quinze contos, escritos por vários autores de ficção científica, reunidos em um único volume, escolhidos e editados por George R. R. Martin e Gardner Dozois.

Uma grande surpresa esse ano foi ter lido essa antalogia, que enfatizo ter me agradado e muito.

Novato em relação ao planeta vermelho, esse livro me trouxe uma nova experiência com ficção científica.
Para quem já leu obras diversas sobre Marte, pode não ser tão grandioso, o mesmo eu diria para quem não está habituado com contos.

A minha humilde opinião quer deixar claro de forma vaga e muito sucinta os favoritos, e esses seriam:

NAS TUMBAS DOS REIS MARCIANOS, de Mike Resnick.
Um marciano especializado em escrituras antigas contrata dois mercenários para ajudá-lo na busca de um livro.

ESCRITO EM PÓ, de Melinda Snodgrass.
Uma família do futuro com problemas.

O CANAL PERDIDO, de Michael Moorcook.
Um ladrão sendo caçado por alguém, e tentando sobreviver a todo custo.
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Raquel.Euphrasio 28/08/2020

Eu não sabia nada sobre esse livro, mas BR DLX, eu pego e leio... eu já venho participando de todas as leituras conjuntas lá no grupo há dois anos e com toda certeza foi o mais silencioso, ninguém dizia nada, e defino a minha experiência com esse livro exatamente isso: Vazio... não senti nada, não me importei com nada... mas amei a introdução e é isso!
Flora Airbender 29/08/2020minha estante
Eu também só gostei da introdução kkk. Todos os contos parecem ter sido escritos pela mesma pessoa.


Raquel.Euphrasio 30/08/2020minha estante
Tipo isso.. rsrsrs


Davenir - Diário de Anarres 05/10/2020minha estante
O que é BR DLX?




Jacon 01/04/2021

Nada
Isso foi o que senti, nada. Apenas um dos contos me chamou a atenção.
Foi difícil e penosa a leitura, talvez o erro tenha sido minhas expectativas.
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Davenir - Diário de Anarres 17/06/2021

Contos de uma Marte que só existiu até a primeira sonda enviada até lá
"As Crônicas de Marte" é uma coleção de contos organizada por George R. R. Martin e Gardner Dozois. Marte é o cenário de todos os contos e é um assunto que sempre me encantou, ainda que seja pelos motivos diferentes que os leitores mais antigos. George R. R. Martin explica bem, na introdução, o sentimento de fascínio que o planeta gerou nos primeiros leitores de Ficção Científica. Marte ambientou histórias de civilizações antigas, invasões alienígenas, antes das primeiras sondas, as Mariner, nos anos 1960 e 70 acabarem com qualquer aura de magia e o sonho de encontrar vida em Marte, da mesma forma que em Vênus e Mercúrio. George R. R. Martin cita a trilogia marciana de Kim Stanley Robinson como a obra mais relevante escrita sobre Marte após as descobertas do início da corrida espacial. Obra que em nada relembra os tempos de ouro da FC. O objetivo da coletânea é trazer histórias que retomem aquela inspiração e imaginação que havia sobre o Velho Marte, o planeta conforme era sonhado antigamente. Confesso que não partilho do mesmo fascínio, pois não vivi aquele tempo, apesar de adorar As Crônicas Marcianas de Ray Bradbury, o Marte de Kim Stanley Robinson e de Andy Weir me atraem mais. Vamos ver conto a conto, como ficaram essas histórias.

"Sangue Marciano" (Allen M. Steele) - Acompanha Ramsey, um guia turístico nascido e criado em Marte em um trabalho para o astrobiólogo Dr. Al-Baz que veio em busca de uma amostra de sangue de um shatan, aborígene original de Marte, para por a prova uma teoria. O conto prende pelo protagonista esperto e pela contraposição aos colonos de Marte e pela composição do povo original que ficou interessante. Um paralelo óbvio mas bem construído dos tempos de colonização.

"O patinho feio" (Mathew Hughes) - Fred Mather é um arqueólogo que trabalha para a companhia de mineração New Ares em Marte, preparando o terreno para grandes máquinas (Leviatãs) que separam os minérios, terra e insumos orgânicos de antigas cidades de marcianos autóctones. Porém o real interesse de Mather é conhecer aquela civilização que foi extinta quase que ao mesmo tempo da chegada dos terráqueos. Mather faz descobertas que o colocam em constante vigilância de seu chefe, Red Bowman. O conto tem um final aberto e quase decepcionante mas a exploração e a imaginação para essa civilização marciana compensam e salvam o conto. É o segundo conto consecutivo que segue a linha de paralelo entre a colonização de Marte com a colonização do continente americano.

"O acidente do Mars Adventure" (David D. Levine) - Conto narra a história do Capitão William Kidd que prestes a ser executado por pirataria recebe um perdão real, contanto que faça uma missão exploratória até Marte, junto com o o filósofo Dr. Sexton em um barco movido a balões, velas e remos! A premissa chega a ser engraçada em comparação com o que sabemos hoje mas é muito coerente com o que se sabia há mais de um século, e também com o espírito aventureiro dos colonizadores. Neste conto não temos o ele o elemento crítico como das duas primeiras histórias o que deixou o conto uma aventura engraçada mas pueril.

"Espadas de Zar-tu-Kan" (S. M Stirling) - O conto se passa numa Marte ocupada por uma maioria de nativos em choque cultural com os humanos colonizadores. Seguimos Sally e Teyud, uma humana e uma marciana coerciva (mercenária) em uma missã de resgate a um colega de quarto de Sally, um cientista chamado Beckwoth. Em meio a aventura, ricamente narrada, temos um cenário que parodia os filmes orientais e bons momentos de ação. Muitos contos dessa "velha Marte", tem o pano de fundo do colonialismo e do choque cultural, talvez o autor tenha apenas trocado o choque cultural com indígenas da América do Norte pelos chineses atualmente. Seja como for, o conto vale pela ação e é bem escrito.

"Bancos de areia" (Mary Rosenblum) - O conto tem como protagonista um menino com problemas cerebrais e é pelo prisma dele que temos que coletar informações para entender o mistério do conto. A leitura exige mais atenção do leitor. O que se perde em fluidez ganhamos em satisfação a medida que vamos entendendo o desenrolar do conto. Difícil não lembrar do Charlie de Flores para Algernon, pois mesmo não sendo um relato em primeira pessoa, nem epistolar, temos a relação conflituosa de quem é tido apenas como um "retardado". Jorge, um dos mineiros, tenta traduzir o que Maartin sabe mas a incompreensão é a tônica do conto, tanto entre Maartin e as pessoas, quanto da sociedade, voraz por riquezas e as verdadeiras riquezas do local.

"Nas Tumbas dos Reis Marcianos" (Mike Resnick) - Depois de um conto mais complexo, temos uma aventura arqueológica leve e fluida em busca de uma tumba secreta de um rei antigo milenar. Acompanhamos Scorpio, um mercenário da Terra e seu amigo venusiano Merlin, que apesar de andar sob quatro patas, é um telepata inteligente. Ambos aceitam um trabalho de Quedipai, um estudioso marciano atrás de uma tumba que apenas ele acredita existir de verdade. O grosso do conto é uma aventura no melhor estilo Indiana Jones espacial. A interação entre os personagens é divertida e faz as 42 páginas passarem muito rápido.

"Saindo de Scarlight" (Liz Wiliams) - Acompanhamos Zuneida Peace, uma caçadora de recompensas que se disfarça de homem (Thane) e aceitou o trabalho de Houlsen para recuperar Hayfre, uma princesa de uma tribo, que era mantida trancafiada por Houlsen até quem um feiticeiro de Ithiss a raptou. Nessa perseguição ela encontra várias surpresas em um mundo que poderia encaixar-se em qualquer fantasia mas apesar das liberdades que a autora se dá em uma coletânea de FC, o conto se sobressai pela boa construção dos personagens. Zuneida é forte mas não é uma guerreira treinada ou especialmente habilidosa mas uma mulher que se vira da maneira que pode e isso se molda organicamente a história.

"Os manuscritos do fundo do mar morto" (Howard Waldrop) - Conto relata uma viagem de forma epistolar. Tanto de quem faz a viagem no presente como trechos e comentários sobre uma viagem passada. A vantagem do relato em primeira pessoa é muito bem explorada pela parcialidade da visão do protagonista que não sente necessidade de se descrever, e isso só acontece no final o que torna tudo muito surpreendente e satisfatório. Conto sucinto, sincero e elegante.

"Um homem sem honra" (James S. A. Corey) - Conto com narração epistolar, acompanhamos o relato do capitão Lawton para a Sua Majestade de uma aventura, um embate com o capitão Smith dos mares do Atlântico até dos desertos marcianos atrás de um metal mais precioso que ouro. A escrita epistolar é coerente com as aventuras planetárias, aliás é a proposta da antologia. O conto esconde muitos ganchos de outras aventuras, nos deixando com vontade de saber mais, mesmo sem ainda terminar essa aventura, e consegue marcar bem os coadjuvantes como o jovem Carter, La'an que é de uma das espécies de Marte e da valente Carina Meer. O conto ainda deixa um questionamento sobre o que é a Honra e caráter, uma vez que Lawton é o desonrado que salva o dia, enquanto Smith que segue um estrito código de honra, é capaz de cometer atrocidades. Questionamento que expõe, a meu ver a contradição e a hipocrisia do pensamento europeu no período colonial.

"Escrito no pó" (Melinda M. Snodgrass) - Conto é um drama familiar transposta para um cenário de Ficção Científica. Acompanhamos Tilda, uma menina dividida entre a obrigação do legado da família e a vida que ela deseja. Stephen, avô de Tilda, é um viúvo amargurado pela solidão e pela perspectiva de ver seu legado (a fazenda) perdido por falta de quem o leve para frente. Seu filho Kane é casado com Noel, um militar e estão em Marte para ficar com Stephen após perder Catherine (mãe de Kane), e sua segunda esposa Mikaiko. O que era para ser provisório acaba dividindo o casal depois que Kane, influenciado pelo pai, decide que todos não devem criar raízes em Marte. Além da família dividida, pois Noel e Tilda querem sair de Marte e Stephen e Kane querem a vida da fazenda, temos os sonhos de Tilda que levam a uma cidade proibida onde as pessoas morrem e voltam nos sonhos dos vivos. A narrativa constrói os personagens com profundidade pelos seus desejos e conflitos, e direciona o leitor até o ápice onde a decisão de Tilda. Outro destaque é o casal homossexual, Kane e Noel, que é retratado de forma simples como deveria ser sempre.

"O canal perdido" (Michael Moorcock) - Este conto tem um clima de western muito envolvente, pela solidão do protagonista que teve de se virar pois a outra alternativa era a morte. Então, para Mac roubar e matar é apenas um meio de não morrer. Temos um herói improvável escolhido entre eras de possibilidades para uma missão de extrema importância. A história tem um ritmo irregular pois tem um infodump que toma 1/3 da obra. O conteúdo é interessante mas não deixa de ser infodump por causa disso. Ainda assim, o conto vale a leitura porque o estilo do autor é muito agradável. Falando nele, o autor é uma lenda na FC mas é incrível que tenhamos tão pouco dele traduzido para a língua de Camões, além da sua série de Fantasia Elric.

"A pedra do sol" (Phyllis Eisenstein) - Aqui a autora foca no relacionamento familiar como em "Escrito no pó", mas aqui disfarçado de escavação arqueológica. A procura de Dave, quando chega a Marte, é por seu pai, e quando ele descobre que ele há havia falecido decide terminar o último trabalho de seu pai com a ajuda de Rekari, um marciano nativo que estava com seu pai nos seus últimos momentos. As revelações e o desenvolvimento da história são sensíveis e recompensadores par ao leitor.

"Rainha do romance barato" (Joe R. Landsdale) - Outro conto focado no relacionamento familiar. Tal qual no conto anterior, o pai da protagonista está morto aqui ele morre na frente dela enquanto estavam em uma missão de transportar vacinas contra uma doença pela área congelada de Marte. Eles nos são apresentados apenas pelos sobrenomes (King). A menina King, decide levar o corpo do pai e precisa passar por provações para sobreviver e salvar as vidas das pessoas que precisam da vacina. Apesar de morto o pai King aparece o tempo todo nas lições e treinamento que refletem nas ações da filha. É como seu seu pai só pudesse morrer mesmo depois que a menina sobrevivesse. Uma boa aventura e, de brinde, uma reflexão sobre a função dos nossos ritos de passagem. Ah e a filha King ainda consegue tempo para encontrar segredos milenares de Marte. Vale a leitura!

"Marinheiro" (Chris Roberson) - Outro conto de piratas em Marte. Aqui temos menos galhofa e alguma tentativa de fazer um cenário mais coerente no "Velho Marte". Os piratas navegam pela areia e convivem com a degradação dos canais de água que agora são bolsões isolados. Esses lagos são basicamente como as ilhas na Terra. São porções onde a civilização ainda respira por aparelhos. Nesse cenário o pirata humano, Jason Carmody (o único "pele-rosada" em Marte), a bordo do seu Argo, luta para ser aceito enquanto tenta ajudar refugiados de uma nação autoritária do norte que estão para serem vendidos para a nação plutocrática do sul. A questão é levada a cidade livre dos piratas que leva a um confronto com um antigo desafeto de Jason. O cenário riquíssimo apresentado pelo autor deixa um gosto de querer ler mais aventuras neste mundo, ironicamente a mesma sensação deixada pelo outro conto de pirata dessa antologia.

"A ária da rainha da noite" (Ian McDonald) - COnto que encerra com chave de ouro a antologia. Escrito pelo autor de Brasyl (que infelizmente foi mal recebido por aqui) que nos mostra personagens cativantes em cenários inusitados. Acompanhamos dois músicos lorde Jack, um excelente músico em decadência e seu fiel Faisal, que além de tocar piano, também é um faz-tudo e muleta psicológica de Jack. Acompanhamos o ponto de vista de Faisal. O estilo de vida de Jack deixou ambos falidos e agora para pagar suas dívidas eles topam fazer shows para soldados que estão na linha de frente de uma guerra e acabam em meio ao conflito sangrento lutando para sobreviver. A relação dos dois é um dos pontos altos do conto. Faisal tem uma atração que se divide entre a admiração pelo talento e a sexual por Jack, que por usa vez consegue enxergar uma beleza na guerra que Faisal não vê e fica deprimido por saber que nunca terá a mesma percepção que Jack. Somando isso ao final surpreendente temos uma visão da guerra interessante, de alguém que não está diretamente vinculado a nenhum dos lados.

site: http://wilburdcontos.blogspot.com/2021/06/resenha-187-as-cronicas-de-marte-george.html
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Alexandre 27/05/2020

Coletânea com gosto de passado
Como dito anteriormente, não estava acostumado a contos, porém gostei muito da experiência e recomendo a leitura desta coletânea que me remeteu a infância, quando lia livros de bolso de guerra e velho oeste comprados em bancas de jornal.
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Luna 25/04/2022

Não Foi o Mais Incrível do Ano
Mas também não entendi porque tem tanta gente falando mal nas resenhas daqui. Me espanta ver gente que acha que contos antigos como esse devem ter a veracidade científica compatível com o que sabem hoje.
Porém, tem aquela datagem que sabemos né... É visível quando o conto tem uma autora. Elas, em geral, me ganharam mais que os autores.
E é isso, leiam tenddo em mente a data de criação da obra pra ter uma imersão melhor. Se você abrir o coração, vai se divertir!
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Elicarlo 08/03/2021

O livro começa até bem com o prefácio de George R. R. Martín (fizeram o favor de colocar o nome dele bem grande na capa, como se fosse ele o escritor das estórias... e essa pequena contribuição é a melhor coisa no livro).
Todo livro com vários contos de vários autores diferentes tem histórias boas e ruins. Aqui as ruins são maioria e são em um nível bem decepcionante. Com exceção de dois ou três contos interessantes, são 500 páginas arrastadas de estórias sem sentido. Eu sei que é ficção científica, mas em determinado momento, por exemplo, precenciamos uma caravela sair do planeta terra até marte com ajuda de balões e dando piruetas...
Foi difícil mas, com muita teimosia cheguei ao fim do livro, lendo um conto ruim torcendo que o próximo fosse melhor, mas não nunca era.. era sempre pior.
Tainá.J 10/08/2021minha estante
Vixe! Kkkk! Obrigada pela resenha, nem vou perder meu tempo então! ?




Acervo do Leitor 13/02/2018

As Crônicas De Marte | Resenha | Acervo do Leitor
Marte. Aquele misterioso planeta vermelho. Gelado, desértico, cheio de vulcões e desfiladeiros. Qual a sua história afinal? Quem habitou ou habita sua vastidão? É tempo de explorar caminhos e segredos através da ótica de 15 escritores visionários que ousaram descrever o inimaginável… até então.

“Em Marte todas as coisas que podem dar errado dão, e as que não podem também.”

É sempre difícil e desafiador resenhar um livro de contos, ainda mais quando são quinze histórias. Ou acabamos deixando alguma de fora, ou corremos o risco de sermos breves e superficiais demais. Porem, seguindo a metodologia do “Acervo do Leitor”, darei uma visão geral do que trata cada narrativa e no final darei minha impressão sobre sua coletânea. (Conto 1) “Sangue Marciano” conta a jornada de um pesquisador em busca do “elo perdido” genético entre os humanos e marcianos, mas a descoberta de uma mesma origem para ambas as espécies pode mudar a dinâmica entre essas duas raças e como a dominação de uma sobre a outra é aceita. (Conto 2) “O Patinho Feio” é sobre explorador(es) de terras marcianas buscando ossos fertilizantes e metais nos escombros de uma sociedade perdida no tempo que acaba encontrando objetos e alucinações que o levarão para o passado e a loucura.(Conto 3) “O acidente do Mars Adventure” narra a navegação de um dirigível da realeza britânica rumo a Marte em busca de uma nova rota comercial interplanetária. (Conto 4) ” Espadas de Zar-tu-Kan” uma louca aventura em Marte explorando o confronto entre terráqueos, marcianos e algumas criaturas inusitadas. (Conto 5) “Bancos de Areia” conta a história de uma jovem colona que recebe ajuda de marcianos até então invisíveis para refrear mineradores que visam expandir a exploração de pérolas afrodisíacas ao custo da destruição de assentamentos humanos. (Conto 6) “Nas Tumbas dos Reis Marcianos” a dupla inusitada formada por Escorpião e sua criatura Merlim são contratados como seguranças para explorar uma tumba de um Rei Marciano enterrado em uma cratera visando achar um livro sagrado perdido.

“Humanos não querem saber nada sobre nós. Tudo que querem é pegar o que não pertence a eles e arruinar.”

(Conto 7) “Saindo de Scarlight” uma fantasia envolvendo uma caçadora atrás de uma mulher que é um oráculo, atravessando tribos marcianas matriarcais. (Conto 8) “Os manuscritos do fundo do Mar Morto” uma louca aventura arqueológica em busca do passado enterrado de Marte. (Conto 9) “Um homem sem honra” um pirata descobre um navio repleto de ouro enquanto fugia do Governador local e acaba encontrando uma misteriosa marciana que o leva para uma Marte enterrada no submundo. (Conto 10) “Escrito no pó” é um drama familiar envolvendo realidades diferentes entre Marte e Terra e a perpetuidade da memória, literalmente, daqueles que se foram. (Conto 11) “O Canal perdido” revela uma Marte que explora a mão de obra barata terráquea com baixa educação, onde um ladrão é contratado para encontrar uma bomba milenar perdida nas profundezas do planeta. (Conto 12) “A pedra do sol” um recém formado doutor em arqueologia retorna a Marte depois de sua formação de estudos na Terra para visitar a família e acaba se deparando com a morte do pai em um sítio de escavação que irá mudar sua vida. (Conto 13) “Rainha do romance barato” acompanha a aventureira Angela King em busca de uma vacina para uma febre mortal em Marte se deparando com criaturas antigas, tubarões de gelo e uma louca pirâmide. (Conto 14) “Marinheiro” narra a história de um visionário terráqueo apaixonado por viagens marítimas que acaba sendo transportado para Marte onde aprende a velejar nas areias vermelhas deste planeta. (Conto 15) “A ária da rainha da noite” é sobre a empreitada perigosa de alguns artistas tocando nas linhas de frente de uma guerra.

SENTENÇA
Não acho que deva ser fácil escrever um conto. Costumam ser fragmentos de uma história ou “retratos” de um momento que devem entregar certa emoção e entretenimento em poucas páginas. Alguns autores conseguem tal façanha, mas não foi o caso nesta obra. As histórias em sua maioria tendem a mostrar uma Marte atrasada, defasada ou quase aborígene frente aos humanos e muitas vezes o planeta vermelho serve apenas como pano de fundo para certos dramas pessoais. Mas, independente do foco do cronista, nenhuma história satisfaz. Todas, até as mais curtas, soam enfadonhas e me vi tentado a abandonar o livro na metade. Confesso que se não fosse pelo trabalho aqui no Blog não teria ido até o final. Não me impressiono pela fama dos escritores das histórias e muito menos pelo editor das mesmas, neste caso o aclamado George R.R. Martin (A Guerra dos Tronos). O que vemos aqui é um compilado de aventuras e desventuras criadas por aqueles que claramente não estavam no auge de suas inspirações. Com tanta coisa boa em ficção científica para se publicar no Brasil eu me pergunto: Porque publicar isso?? Ahh, deve ser pelo “George R.R. Martin” na capa… dizem que o nome dele vende, será? Bom, ele pode até ser garantia de receita, mas com certeza não é de qualidade.

site: http://acervodoleitor.com.br/as-cronicas-de-marte/
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Lina DC 16/02/2018

"As crônicas de Marte" é um livro composto de Introdução + 15 contos fantásticos e completamente diferentes sobre o querido planeta vermelho.

A introdução foi escrita por George Martin, que relata sua infância em uma cidade de trabalhadores. Vivendo de salário a salário, não havia muitas oportunidades para férias e viagens, então o autor relata que "viajava" através dos livros, principalmente para o planeta vermelho, onde sua imaginação criava situações, personagens e aventuras incríveis.

Antes de iniciar cada conto, existe uma página falando da biografia do autor que o escreveu. Os contos:

1. Sangue Marciano, de Allen M. Steele - A história é narrada em primeira pessoa e tem como protagonista Jim Ramsey, um guia turístico contratado por um cientista para localizar alguns aborígenes em suas colônias para conseguir uma amostra de sangue, com o objetivo de provar sua teoria. Jim é filho da primeira geração de colonizadores e tem um grande respeito pelos habitantes locais e seus costumes, além do conhecimento adquirido por conta de sua experiência. Os dois mergulham no deserto vermelho, mas as revelações podem mudar o rumo tanto de Marte quanto da Terra.

Esse se tornou um dos meus contos favoritos, pois Jim é um protagonista astuto e cativante. A história também tem várias lições e questionamentos sobre o comportamento social e a exploração de uma cultura sobre a outra.

2. O Patinho feio, de Matthew Hughes - Narrado em terceira pessoa, a história gira em torno de Fred Mather, um arqueólogo disfarçado de mineiro em uma caravana que está explorando a cidade dos ossos, com o intuito de lucrar com o local. Fred está procurando indícios que possam manter a cidade preservada, mas não faz ideia de que encontrará algo muito mais precioso...

Esse conto tem um ar mais sombrio, mescla a imaginação fértil do leitor com elementos do planeta vermelho. O silêncio, o isolamento e a escuridão dão asas a uma história assombrosa.

3. O acidente do Mars Adventure, de David D. Levine - narrado em terceira pessoa, a história gira ao redor do pirata William Kidd, um pirata condenado à morte, preso em Newgate em Londres. A Vossa Majestade dá uma oportunidade a ele: ir a uma aventura ao desconhecido em Marte com o fisiólogo John Sexton ou a forca. Bom, digamos que Kidd vai embarcar de uma forma bem diferente no planeta vermelho.

A criatividade de David D. Levine tornou esse conto um dos meus favoritos. Piratas em Marte? Totalmente genial!

4. Espadas de Zar-Tu-Kan, de S.M. Stiriling - Narrado em terceira pessoa, a história se passa em 1998 quando Sally Yamashita recepciona Tom Backworth em Zar-Tu-Kan, a principal cidade em Marte para exploradores e cientistas. Logo após a sua chegada, Tom é sequestrado e cabe à Sally resgatá-lo de um destino cruel.

Aqui temos uma história de aventura e perseguição com uma protagonista implacável e decidida. Com muita ação, facções e grupos com ideias próprias, Sally torna-se uma detetive para resgatar Tom.

5. Bancos de Areia, de Mary Rosenblum - Narrado em terceira pessoa, conta a história de uma criança que sofreu um acidente em uma cidade mineira e nunca mais foi o mesmo. Mas Maartin é especial e consegue enxergar além do que os olhos normais conseguem ver. Lutando para manter a cidade segura, os habitantes vão descobrir que o local tem uma história extraordinária.

Esse conto tem um protagonista especial, que tem uma mente aberta e uma história emocionante. A forma como ele enxerga o valor da terra, das pessoas e respeita o passado é bonito de se observar.

6. Na tumba dos reis marcianos de Mike Resnick - A história é narrada em terceira pessoa e gira em torno do Escorpião um mercenário com um "bicho de estimação" especial, o Merlin. Ele é contratado por um marciano, o Quedipai, para acompanhá-lo na exploração de algumas tumbas. Quedipai é um estudioso que acredita que consegui localizar um dos maiores tesouros marcianos.

Outro conto repleto de aventuras. Gostei muito do protagonista que possui uma personalidade sarcástica e uma habilidade de sobrevivência espetacular.

7. Saindo de Scarlight de Liz Williams - Narrado em primeira pessoa, temos Zuneida Peace, uma mulher disfarçada de homem e conhecida como Thane que viveu em um palácio de escravos e tem como missão capturar Hafyre, a princesa dos Ynar. Em meio ao deserto marciano, ela irá enfrentar concorrentes, sacerdotisas e feiticeiros.

Com um ar mais de "mil e uma noites", o conto encanta com suas descrições e personagens femininas fortes.

8. Os manuscritos do fundo do mar morto de Howard Waldrop - O conto é narrado em primeira pessoa e narra a jornada de Oud, uma figura marciana importante em forma de diário.

Não foi um dos meus contos favoritos. Achei a narrativa um pouco arrastada e o protagonista não foi exatamente cativante.

9. Um homem sem honra de James S. A Corey - a história falado capitão Alexander Lawton, um homem sem honra que ao conhecer a Madame Carina Meer e dar a sua palavra de que a manteria em segurança. Após isso, ele precisará enfrentar vários inimigos para cumprir sua promessa.

Outro conto sobre piratas, mas sob uma perspectiva diferente. Apesar do tema náutico, o foco foi sobre a honra do protagonista.

10. Escrito no pó de Melinda M. Snodgrass - Narrado em terceira pessoa, temos a jovem Tilda, filha de Noel-Pa e Papai Kane. Ela começa a ter visões de Miyako McKenzie a segunda esposa de seu avô. Ao voltarem para a cidade natal e morar na fazendo do avô, um homem ríspido, controlador e antiquado que tentará moldar todos as suas vontades.

Esse conto poderia se passar em qualquer lugar no Universo, pois se trata da dinâmica familiar e do controle e impacto que alguém pode ter nas pessoas ao seu redor.

11. O canal perdido de Michael Moorcock - Narrado em terceira pessoa, conta a história de Mac Stone, um fora da lei que está sendo perseguido implacavelmente (sem entender direito o motivo). Durante a sua epopeia, ele descobre que o planeta está em risco e precisa tomar uma decisão: arriscar-se e tentar salvar o mundo ou continuar a sua fuga?

Esse é um dos contos mais longos do livro, mas infelizmente foi um dos que menos me agradou. Com uma narrativa arrastada e a inserção de personagens desnecessários, O canal perdido deixou a desejar.

12. A pedra do sol de Phyllis Eisenstein - Narrado em terceira pessoa a história se passa inicialmente no espaçoporto de Meridiani. David Miller retorna à Marte após passar anos na Terra estudando. Seu objetivo é juntar-se ao pai em suas expedições científicas, mas acaba descobrindo que o pai faleceu. Com a ajuda de Rekari, o sócio marciano do pai, David vai procurar o local onde o pai foi enterrado e descobrirá um pouco mais sobre a história de sua própria família.

Esse é outro dos meus contos favoritos. David é um ótimo protagonista e a jornada dele não é apenas aventura e sim uma reflexão sobre a família e os erros que cometemos e arrependimentos que temos.

13. Rainha do romance barato de Joe R. Lansdale - É narrado em primeira pessoa e conta a história de Angela King. Ela e seu pai, um médico, estavam viajando para locais distantes para distribuir vacinas durante uma terrível epidemia quando sofrem um terrível acidente aéreo que a deixa como única sobrevivente. Determinada a cumprir os desejos do pai, seu objetivo é chegar ao Outro Lado, mas ela precisará enfrentar criaturas horríveis para sobreviver.

Outro conto muito interessante que mescla aventura com questões familiares. Angela é inteligente e aprenderá rapidamente que é mais habilidosa do que acredita.

14. Marinheiro de Chris Roberson - Narrado em terceira pessoa, conta a história de Jason Carmody, um terráqueo que foi transportado magicamente ainda na adolescência para Marte. Após chegar ao planeta desconhecido, acaba se vendo no meio de problemas políticos e torna-se um pirata. Durante uma de suas viagens no navio Argo, acaba atacando um galeão e descobrindo uma carga valiosa. A questão é o que ele fará com essa carga.

Marinheiro é um conto surpreendente, que fala sobre caráter e boas ações em meio de situações muito ruins. Os personagens são envolventes e carismáticos e o final é inesquecível.

15. A ária da rainha da noite de Ian McDonald - A história é narrada em primeira pessoa pelo Faisal, acompanhante do maestro Conde Jack Fitzgerald, um conde dramático e falido. O agente do conde, Ferid Bay consegue uma excursão de cinco noites, com festas para o exército em zona de Guerra. Sem muitas opções, o Conde e Faisal aceitam realizar a excursão, mas o destino tem outros planos.

Um livro espetacular, com diversos contos que irão mexer com a imaginação do leitor. A Editora Arqueiro caprichou na diagramação, revisão e layout do livro e a capa combina perfeitamente com o tema ao mesmo tempo em que chama a atenção por sua textura e imagem.
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Lissa - @lissa.studiies 12/02/2019

Eu gostei, mas....
As Crônicas de Marte é um livro de contos que foi organizado por George R. R. Martin e Gardner Dozois. Como o titulo do livro já diz, ele fala sobre Marte. E todos os contos tem o mesmo cenário - Marte.

O livro vai nos apresentar 15 contos de ficção-cientifica. E cada história tem uma forma diferente de nos prender a leitura, com personagens e enredos cheios de mistérios, escritos com grande detalhes.

Não vou falar sobre cada conto porque são muitos, mas quero que saibam que essa obra é perfeita para quem gosta de ficção e fantasia.
" Ele às vezes se perguntava se Deus e Lúcifer tinham feito um pacto. Deus governaria a Terra e o diabo ficaria com Marte"
Cada conto tem detalhes intrigantes, com personagens bem desenvolvidos. Encontramos alguns sendo narrados em primeira pessoa e outros em terceira pessoa.

O livro tem uma capa linda, as paletas de cores remetem ao planeta vermelho que é descrito várias vezes na leitura. A diagramação é ótima, e vamos ter 15 contos com a descrição de cada autor e do conto que vamos ler.

Espero que tenham gostado da resenha, que mesmo sendo pequena foi bem detalhada sobre o que vocês vão encontrar durante a leitura.

"Em Marte todas as coisas que podem dar errado dão, e as que não podem também."

Beijoss, e até a próxima!

site: https://www.blogenjoybooks.com/2018/06/resenha-as-cronicas-de-marte-de-george.html
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Paulo 06/03/2018

1 - Sangue Marciano (Alan Steele) - 4 estrelas

As histórias de John Carter se tornaram muito famosas nos EUA. As explorações nos rios de Marte, os combates contra jeddaks, contra tiranos e até líderes de seitas levavam os americanos à loucura nas décadas de 1920 e 1930. Até os dias de hoje vemos reflexos da obra de Edgar Rice Burroughs nos livros de muitos autores de ficção científica. Allan Steele pegou toda essa herança e influência e ressignificou em uma história onde a colonização de Marte se tornou algo maligno. Nosso protagonista é uma espécie de faz-tudo que é contratado por um doutor para levá-lo até uma comunidade de marcianos. Nesse mundo, os seres humanos acabaram construindo grandes cidades e os marcianos se afastaram da esfera de influência dos homens e se retiraram para uma vida no interior dos desertos marcianos. São muito avessos ao contato com os homens e apenas poucos deles como Ramsey são capazes de se aproximar e entender os mesmos. Mas, o doutor deseja uma gota de sangue dos marcianos. Ele quer provar que terráqueos e marcianos possuem uma origem comum. Mas, isso vai ser uma jornada extremamente complexa e difícil.

O leitor é colocado em uma espécie de Las Vegas em Marte. Tudo respira John Carter: as garçonetes estão vestidas como as mulheres de Carter, os seguranças vestidos como marcianos vermelhos, e até tem estátuas simulando as montarias das histórias de Burroughs. Isso mostra a banalidade dos objetivos do homem ao colonizar outros planetas. Vemos que tudo o que tem na Terra foi transplantado para o planeta vermelho. Tanto as coisas boas como as coisas ruins. Essa crítica social é forte à medida em que hoje pensamos em singrar o espaço seja para encontrar outros seres inteligentes ou para criar um mundo melhor. Mas, o autor deixa claro que o ser humano visa apenas repetir o que ele fez aqui na Terra.

A relação entre terráqueos e marcianos se assemelha demais a de colonizadores e colonizados. Os colonizadores espanhóis expulsaram os nativos para o interior do continente. Estes ou foram escravizados ou criaram uma forte aversão aos europeus. Com o tempo essa aversão acabou se transformando em guerras que duraram muitos séculos. Os povos indígenas acabaram massacrados pela superioridade tecnológica dos europeus. Aqui, não é que o autor coloca que os marcianos serão exterminados, mas que isso pode acontecer. Um determinado acontecimento no conto dispara um gatilho que faz o protagonista pensar se vale a pena deter um certo conhecimento ou não. Vale a pena arriscar o tênue equilíbrio da relação entre humanos e marcianos?

2 - O Patinho Feio (Matthew Hughes) - 5 estrelas

Esse é um conto que vocês vão criticar a escolha do gênero dele. Não acredito que o Matthew Hughes tenha escrito uma ficção científica justamente pela história na qual ele se inspira para escrever a história: Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury. Muitos consideram a escrita de Bradbury em seu clássico como uma fantasia passada no espaço, pelos elementos que ele utiliza e pela maneira como conduz a trama. Hughes faz o mesmo em um planeta desconhecido e encantador.

A narrativa acontece em terceira pessoa a partir do ponto de vista de Fred Mather, um arqueólogo que conseguiu seu lugar na expedição a Marte por acaso, mentindo sobre o seu currículo. Tudo o que ele quer é ter a sensação de estar sozinho no planeta e tentar encontrar alguma coisa que desperte a sua atenção. Ele foi destacado pelo seu supervisor, Red Bowman para seguir até a Cidade dos Ossos e inserir uma série de transponders no chão para facilitar o trabalho das máquinas escavadoras. Estas irão retirar todo o minério possível, não sem destruir tudo ao redor. Mas, Mather vai encontrar estranhas estruturas na cidade que o transformarão para sempre.

No fundo temos alguns temas circulando. Não quero discutir aspectos da metade final do conto, mas dá para comentar o que é dito logo nas primeiras páginas. A New Ares Mining é uma empresa que está ali para retirar o que for possível de Marte e tentar lucrar ao máximo com isso. Hughes retoma o tema da colonização selvagem que foi trabalhada por Bradbury em seu clássico. Aliás, o conto em si é uma releitura de um dos melhores contos da coletânea Crônicas Marcianas e tem até um easter egg para os leitores: Bowman fala de uma expedição que deu errado porque um dos que estavam lá matou todos os outros. Pois é... esta é a terceira expedição descrita por Bradbury em um dos primeiros contos da coletânea. Então, o que podemos ver é que o homem ainda deseja explorar de forma selvagem e sem se importar com os arredores tudo o que ele consegue retirar dos lugares. Muitas vezes as riquezas de uma civilização não podem ser medidas em ouro, prata ou metais preciosos, mas em experiências que vão além de nossa imaginação.

3 - O Acidente do Mars Adventure (David D. Levine) - 4 estrelas

Queria aproveitar a resenha deste terceiro conto para fazer uma crítica básica:

Leitores, os senhores entenderam qual é a proposta da coletânea?

Pergunto isso porque muita gente teceu críticas duras à coletânea e sequer entenderam a essência dos contos apresentados aqui. Quem estava esperando space operas contemporâneas, hard sci fi de ponta, ideias de vanguarda, quebrou a cara feio. Não é nem de longe a proposta de Crônicas de Marte. Gardner Dozois pediu aos autores que escrevessem histórias baseadas nas antigas pulps das décadas de 1930 e 1940, como as que Edgar Rice Burroughs, C.L. Moore e até o Ray Bradbury chegaram a contar nas páginas da Weird Tales e de tantas outras revistas. Desculpe dizer, gente, mas isso não é ficção científica... é fantasia. A maioria das histórias presentes aqui puxa para o fantástico e não para o científico. E algumas, como este conto do David D. Levine vão se inspirar no Edgar Rice Burroughs que escrevia histórias com elementos absolutamente bizarros.

A história é divertida. Não é para ser levada a sério. Lógico que eu não vou dar nota máxima para um conto assim, mas eu ria sozinho lendo a história. Os absurdos que o Levine inventava me fez lembrar e muito de quando eu me divertia na adolescência lendo as histórias de John Carter. Não dá para a gente ser aquele leitor de ficção científica fiscalizador o tempo todo; relaxa. A história da ficção científica da Era de Ouro é repleta de ideias bisonhas, como as de Curt Siodmak, Edmond Hamilton e tantos outros. Levine resgata essa nostalgia em uma escrita bem simples de ser entendida. Chega até a brincar com os clichês das histórias de piratas.

4 - Espada de Zar-Tu-Kan (S.M. Stirling) - 4 estrelas

Beckworth é um jovem pesquisador que chega à Marte e vai morar com Sally, alguém que já conhece o funcionamento daquela sociedade. Apesar de os humanos terem colonizado boa parte de Marte, Zar-Tu-Kan ainda tem a maioria de marcianos. É uma cidade em que as culturas terrestre e marciana entram em conflito com muitos não compreendendo os hábitos estranhos desses povos. Quando Beckworth é sequestrado por Coercivos (mercenários marcianos) dentro de seu apartamento, Sally vai buscar a ajuda de Teyud, a Graça Pensativa, uma Coerciva que já trabalhou com Sally para tentar resgatá-lo. Teyud e Sally vão precisar enfrentar inúmeros perigos para descobrir quem levou Beckworth e como resgatá-lo.

Claramente Stirling se baseou em filmes de artes marciais para compor a personalidade dos marcianos. Até mesmo os nomes curiosos como Graça Pensativa, Dinastia Carmesim, Harmonia Sustentada. Dá aquele ar de paródia. Então, é aquele tipo de conto que você vai se divertir lendo, muito mais do que tentar buscar uma seriedade na história. As cenas de ação são bem construídas e muito dinâmicas o que me fez gostar da escrita do autor. O final é curioso e surpreende o leitor. Não por ser um plot twist, mas por ser irônico até. A história é escrita em uma narrativa em terceira pessoa com discurso direto, mas o estilo de escrita nem é o mais importante da história, mas o seu ritmo alucinante.

Os personagens são bem ricos e, mesmo não tendo muito espaço para desenvolvê-los melhor, redondinhos. Sally é uma personagem marcante, com uma personalidade ácida e distinta. Ela é bem ativa na história e representa bem o seu papel como protagonista. Satemcan é o cachorro-que-não-é-cachorro e fornece alguns momentos bem engraçados como durante a invasão no apartamento. A gente acaba se afeiçoando pelo Satemcan. Teyud está ali para representar o choque de culturas entre terráqueos e marcianos. Representa um jeito diferente de pensar e ver o mundo.

5 - Bancos de Areia (Mary Rosenblum) - 4 estrelas

Maartin é um menino que sofreu um acidente junto com sua mãe quando estavam indo até as minas em Marte. Eles caíram em um banco de areia e apenas o menino sobreviveu. E ele bateu a cabeça muito forte, causando uma hemorragia que deixou sequelas. Agora, ele consegue ver estranhas criaturas perambulando pelo ambiente. Criaturas além dos seres humanos. Por causa do acidente, ele não consegue mais articular bem o sentido da fala então as outras pessoas o enxergam como um retardado. Mas, ele pode ser o único que pode salvar a cidade quando os homem começam a destruir os bancos de areia onde as pequenas criaturas que somente Maartin vê decidem retaliar.

Foi bem ousado da Mary Rosenblum trabalhar com Maartin. Ele é um menino com muitos problemas para compreender o mundo ao seu redor. Enxergamos a história a partir do seu ponto de vista. Por causa de seu acidente, ele articula as frases e as percepções de um jeito estranho, que pode parecer uma escrita truncada para o leitor. Mas, não é. É simplesmente a maneira como um menino com hemorragia cerebral e dificuldade de articular ideias em frases enxerga o mundo. Por essa razão, suas descrições são camadas atrás de camadas em riqueza literária. Não dá para julgar ingenuamente o que ele está descrevendo e descartar como se fosse algo inútil. Um contraste muito bom vai ser quando Jorge, um dos mineiros, vai traduzir o que Maartin está tentando dizer para as outras pessoas da cidade. A narrativa é em terceira pessoa e o discurso varia entre o direto e o indireto livre.

O tema da existência é muito bem abordado pela autora. Quando pensamos em um ser, seja lá o que ele for, sempre pensamos em uma dicotomia vivo ou morto. Mas, no universo pode existir algo além disso ou diferente disso. Ainda não temos capacidade para explicar o que isso poderia ser, mas Rosenblum nos mostra o quão complexo isso é. Nos faz pensar o quanto sabemos sobre a realidade de fato. E a incompreensão do mal que os mineiros estavam fazendo também é típica da exploração selvagem do homem por recursos. A riqueza sempre acaba cegando o nosso julgamento.

6 - Nas Tumbas dos Reis Marcianos (Mike Resnick) - 4 estrelas

Temos a história de Scorpion e seu companheiro Merlin (que não é um cachorro), mercenários que são os melhores o que fazem. Pelo preço certo eles podem cumprir a sua missão desde um assassinato até um resgate. Quedipai é um marciano que se especializou nos escritos antigos e deseja encontrar a Tumba doa Reis Marcianos onde ele irá encontrar um livro sagrado contendo todos os segredos ancestrais. Uma missão que parece simples, mas vai ser uma montanha russa de emoções.

Quem busca uma aventura séria com altos conceitos não vai encontrar aqui. Resnick escreve uma história muito solta em uma narrativa em terceira pessoa em discurso direto no qual o que vale é a aventura. Escapar de perseguidores, evitar armadilhas, enfrentar perigos ancestrais. Parece até um Indiana Jones no espaço. E é essa a proposta. A escrita do autor é bem simples e direta, mas ao mesmo tempo ele consegue nos entregar algo formidável. Não é fácil escrever uma narrativa que flua como água, no qual as páginas se passam sozinhas sem sequer o leitor perceber o que está fazendo. Apesar de suas quarenta e duas páginas, a história pode ser lida direto sem interrupções.

7 - Saindo de Scarlight (Liz Williams) - 4 estrelas

Zuneida Peace já foi escrava e dançarina em Cadrada. Precisou fazer várias coisas das quais ela não se orgulha. Disfarçando-se de um homem, Thane, soturno, protegido por uma máscara, ela vaga pelo continente em busca de serviços. Ela foi contratada por Houlsen para resgatar a princesa Hafyre sequestrada pelo feiticeiro de Ithiss. Ao longo de sua busca ela vai precisar lidar com o seu passado e enfrentar diversos desafios. Principalmente outro caçador de recompensas chamado Nightwall Dair.

Adorei a personalidade de Zuneida. A autora consegue nos entregar uma personagem forte que precisa viver em um mundo onde as mulheres não tem espaço. Elas servem a propósitos servis, mas mesmo assim nossa protagonista consegue tocar sua vida e enfrentar os seus desafios de frente. Ela não é nem uma mulher-guerreira, mas alguém que precisou se adaptar a um meio difícil e agressivo a ela. Esconder sua identidade foi a única maneira que ela encontrou para manter sua integridade. Em todos os momentos em que ela se encontra em perigo, Zuneida faz suas escolhas sem pestanejar.

A ambientação não é nem um pouco de ficção científica. A autora usou o planeta Marte como uma ambientação incomum como Nárnia ou a Terra Média ou qualquer outro mundo fantástico. Tem algumas coisas que lembram armas futuristas, mas poderia fazer parte de qualquer livro de fantasia. A autora demonstrou sua flexibilidade diante da proposta e se inspirou em autores como C.L. Moore que usam esse tipo de espaço para construir suas histórias. Não dá nem para falar muito sem estragar as surpresas que a autora apronta por aqui.

8 - Os Manuscritos do Fundo do Mar Morto (Howard Waldrop) - 5 estrelas

O nosso protagonista está em uma jornada para reviver os passos de um antepassado chamado Oud. Há milhares e milhares de anos ele embarcou em uma jornada rumo a um ponto distante onde ele teria dado origem à forma como os marcianos passaram a viver. Ele descreve sua jornada em um diário de viagem que o protagonista procura reviver passo a passo. A história possui dois pontos de vista: em primeira pessoa com o protagonista contando como está o andamento da reconstituição e em terceira pessoa com o diário de Oud.

Howard Waldrop mostra muito bem como é a nossa cisma de buscar nossa origens. Se tornou algo quase filosófico entender de onde viemos para projetar o para onde vamos. Para o protagonista essa é uma viagem emocional, não há um objetivo profundo por trás e ele sequer espera encontrar algo espetacular no ponto onde Oud fez seu ritual de passagem. Neste caso aqui, não se trata de dar importância ao objetivo final, mas à trajetória em si. São as etapas da viagem que vão fornecendo ao protagonista insights sobre si mesmo.

A criatura Oud é bem original. A gente sempre tende a imaginar os personagens espaciais como humanóides e eu imaginei isso até a metade da história. Quando Waldrop descreveu parte da constituição física do personagem, meu queixo caiu. Ele nos surpreende de uma maneira incrível e até a gente ficava se perguntando quem é o tal de Gui que aparecia de vez em quando no diário. Isso porque no começo, ficamos sabendo que Oud embarca sozinho na jornada. Gostei da originalidade e isso me fez querer muito ler outras coisas do autor.

Vale destacar também que de certa forma a escrita é feita em uma maneira epistolar. Logo temos trechos do diário alternando-se com a narrativa em primeira pessoa do protagonista. Para quem quer aprender novas formas de uso deste tipo de estilo, aqui fica uma excelente dica.

9 - Um Homem Sem Honra (James S.A. Corey) - 4 estrelas
Para os leitores que buscam uma grande space opera nos moldes do que eles publicaram, vai tomar uma rasteira feia. Esse é um conto muito inspirado nas histórias de John Carter, com várias situações impossíveis acontecendo e personagens com uma fala bem estóica e estilosa. A escrita é na forma de uma carta na qual o protagonista, o capitão Lawton conta ao rei da Inglaterra as suas aventuras em Marte. Ele pede perdão por ter cometido um crime último contra a sua honra.

O estranhamento inicial é pela escrita estranha e até "ultrapassada" do autor. Mas, isto é um estilo, de forma a homenagear os pulps e romances planetários do começo do século XX. Gostei da coerência com a qual o autor manteve sua escrita e em nenhum momento encontrei uma inconstância (ele não surta e muda o estilo no meio da história). As falas dos personagens parecem muito coerentes com aquilo que eles querem passar e com o lugar de onde eles vem. Lawton é um corsário e ele vive ao lado de uma tripulação de bandidos e rejeitados.A vida no mar é dura para eles e isso forma na tripulação um esprit de corps que os fazem ainda mais mortais. Para mim, a dupla acertou e muito na criação de uma escrita que pudesse reviver a época dos piratas.

Os personagens são bem construídos também. Mesmo aqueles que participam pouco da história. Novamente fica aquela impressão de uma história enorme, mesmo ela sendo apenas um conto. A gente fica querendo ver mais aventuras com o sr. Darrow, o jovem Carter, o gentil La'an (uma espécie de homem sapo) e, claro, da valente Carina Meer. O mais legal é que o personagem deixa uma série de pistas quanto a outras aventuras que ele possa ter vindo a fazer em Marte, mas ele usa aquela expressão do tipo "mas, isso é uma outra história". O contorno dado aos personagens os faz se individualizar uns dos outros. Carter é aquele jovem ambicioso que faz o que for possível por dinheiro. O sr. Darrow é o fiel imediato da tripulação, que já viveu inúmeras aventuras do lado do capitão e que não vê outra vida além dessa. Carina representa o elemento alienígena na história na primeira metade e é ela quem abre as portas para uma outra maneira de enxergar o mundo.

A história se centra na noção de honra. Os personagens por terem sido construídos a partir de um ideal romântico, seguem toda uma série de códigos de conduta de cavalheiros. Se fôssemos posicionar os personagens em alguma corrente literária, seriam como os personagens de romances do século XIX. Então a todo momento, vemos o capitão enfrentar obstáculos que vão testar a sua noção de honra. Até porque o governador Smith, mesmo sendo um vilão, segue as normas do cavalheirismo. Mas, aí fica aquela pergunta: se o cavalheirismo torna alguém virtuoso, por que um ser inescrupuloso como Smith é honrado? Existe outro caminho além da honra? É possível ser bondoso e desonrado? Essas são as questões deixadas pelo autor nessa história.

10 - Escrito no Pó (Melinda Snodgrass) - 5 estrelas

O quanto a falta de ação pode ferir as pessoas ao nosso redor? Muitas vezes somos colocados diante de decisões difíceis: sair de um trabalho e ser feliz, se separar porque uma relação não deu certo, dar uma bronca em um amigo que está machucado. É aquele momento em que tudo que está entalado na garganta sai como uma torrente de lava vulcânica que amarga o nosso interior. Devemos ficar quietos ou expulsar nossos demônios? É com essa proposta que Melinda Snodgrass escreve uma história repleta de sensibilidade e que fala um pouquinho a cada um de nós.

Stephen é um velho amargo que depois que perdeu sua esposa Catherine se tornou uma pessoa rude. Mas, ele precisa de pessoas para cuidarem dele, pois sua saúde está debilitada. Catherine morreu por conta de uma doença que afeta muitos humanos que colonizaram Marte, os obrigando a seguir para as cidades abandonadas pelos marcianos e lá permanecerem até adoecerem por completo. Kane e Noel são um casal homossexual que conseguiram ter uma filha, Tilda, através da ciência avançada da época, mas esta se parece muito com Catherine. Stephen acaba tendo um carinho profundo por ela. Kane e Noel viajam para Marte para cuidar de Stephen e de seus negócios e chamam Tilda para visitá-los. Seria uma visita curta, já que Tilda vai retornar à Terra para ingressar na universidade de Cambridge para estudar psicologia. Mas, Kane e Stephen tem outros planos para ela: obrigá-la a estudar agronomia e a assumir o "negócio da família".

Adoro quando autores de ficção científica pegam temas batidos de ficção e transportam para este tipo de cenário futurista, dando uma nova cara ao enredo. Quantas vezes já não vimos o tema da criança que é obrigada pelos pais a assumir o negócio da família e terá que lutar para provar que ele deve seguir o seu próprio destino. Esse é o tema da história. Claro que existe toda uma série de situações a mais colocadas aqui como as cidades marcianas, o ambiente inóspito. Achei o enredo genial e a forma como a autora vai nos encaminhando para a conclusão é magnífico. Ela empilha os acontecimentos um em cima do outro até que não há retorno para aquilo que acontece mais para a segunda metade. O status quo de todos é quebrado por conta da decisão de Tilda. Ela é a mola que provoca a mudança.

Muita coragem da autora colocar um casal gay como protagonista da história. O que mais me satisfez é como ela fez com que eles se tornassem absolutamente normais, sendo um casal propriamente dito. O fato de ambos serem homens não é o mais importante. O amor que um sente pelo outro é bonito e doce. Noel representa o lado brando da relação e deseja que a filha tenha liberdade para fazer suas próprias escolhas. Kane é preso à sombra de seu pai, Stephen, e comprou a ideia de que é preciso que Tilda permaneça em Marte. Outro elemento curioso é como os papéis são invertidos: Noel fez parte do exército de defesa da Terra e participou de inúmeras guerras enquanto Kane é uma espécie de fazendeiro. Noel sendo o mais doce da dupla era para ser alguém cruel, que viu a morte de perto em vários momentos. Mas, tal não é o caso. A relação de ambos é riquíssima, fazendo com que todo o núcleo familiar seja importante para a história.

11 - O Canal Perdido (Michael Moorcock) - 4 estrelas

Michael Moorcock pertence a uma outra geração de autores que desbravaram o universo de fantasia e trouxeram um sopro de ar fresco ao gênero. Portanto, ao lê-lo é possível perceber o quanto sua pena é carregada com o peso da experiência e da habilidade de romper com os padrões. Ele nos entrega uma história sobre alguém que vai ser impelido a se tornar um herói, mesmo diante de tudo aquilo que acredita ser o contrário.

Mac Stone é um ladrão; alguém que aprendeu em toda a sua vida que é preciso sobreviver antes de tudo. Tendo sido vendido ainda pequeno por sua mãe para trabalhar no subsolo de um asteróide em um ambiente extremamente perigoso, Mac aprendeu a ser ardiloso. Tendo conseguido fama e fortuna através de sua habilidade de se adaptar às mais perigosas situações, ele se vê perseguido agora por um estranho caçador. Quando encontramos com ele, Mac está fugindo pelos desertos marcianos de forma a conseguir uma brecha para matar aquele que o está caçando. E descobrir quem quer a sua cabeça. Mas, ele se verá envolvido em uma trama maior que pode colocar o planeta inteiro em risco.

Me lembro da sensação da leitura depois da quinta página da história. Pensei: "caramba... estou lendo um western". A história te passa a sensação disso a todo momento: um cavaleiro solitário, perambulando pelo deserto e que só deseja uma vida simples no planeta em que nasceu e aprendeu a amar. A história parte do ponto de vista de Mac e passamos longos momentos apenas com o protagonista em que ele nos transmite seus sentimentos e sensações sobre o que ele está vivendo. O leitor percebe que o personagem é um solitário, mas que ele deseja para si algo diferente. Porém, devido a tudo o que ele teve de fazer para sobreviver, ele não se sente digno de ter alguma coisa melhor. É muito engraçado porque quando o chamado do herói vem a ele, ele não recua. Aceita de pronto e entende que aquela é a possibilidade de se redimir.

O único problema nesse conto é o imenso info dumping que tem na metade da história. O autor conta toda a história do desenvolvimento marciano ao longo de mais de dez páginas. Isso faz a história ficar um pouco lenta na sua metade. A gente precisa dessa história para entender o peso da decisão e da missão de Mac, mas isso poderia ter sido feito de forma diferente. O personagem poderia ter flashes através do capacete, ter descoberto um diário ou até o holograma contar a história em partes enquanto Mac se dirige para o clímax.

Enfim, se você ainda não teve a oportunidade de ler alguma coisa escrita por Michael Moorcock, essa é a sua oportunidade. O autor tem uma escrita muito elegante e os altos conceitos que ele cria são facilmente compreensíveis.

12 - A Pedra do Sol (Phyllis Eisenstein) - 4 estrelas

Assim como o conto de Melinda Snodgrass, estamos diante de um conto que explora bastante o lado emocional dos personagens. O ambiente de Marte acaba sendo palco para uma exploração da relação entre pai e filho e de o quanto é importante entendermos os desejos de nossos pais, queiramos ou não seguir aquilo que eles nos deixaram.

Depois de passar alguns anos estudando na Terra, Dave retorna para casa para retomar os negócios de turismo em sítios arqueológicos junto de seu pai, Ben. Mas, ao chegar em casa, Rekari, o estranho assistente marciano de Ben, informa a Dave que seu pai morreu, vítima de um problema cardíaco. Rekari lhe entrega uma pedra do sol e lhe diz que esse foi o último desejo de seu pai. Mas, o filho quer ter uma conversa final com seu pai e lhe prestar as devidas homenagens e parte até o local onde ele foi enterrado. A Pedra do Sol deixada por Ben a seu filho tem um significado profundo que ele só descobrirá ao longo dessa viagem.

Phyllis tem uma pegada muito boa acerca do psicológico dos personagens. Vemos o choque cultural entre Dave e Rekari, mesmo Dave sabendo como se comportar diante dos marcianos. Seus hábitos ainda lhe são estranhos e Rekari apenas lhe passou parte do conhecimento total sobre seu povo. O quanto é importante a aceitação de outros. Dave é diferente porque é um terráqueo nascido em Marte. Isso faz dele um marciano? Mesmo ele sendo de outra raça? Será essa dicotomia que perseguirá toda a narrativa. Seja na capacidade que ele tem de portar uma Pedra do Sol, uma joia dada ao herdeiro legítimo de uma família marciana, seja no que ele encontrará no final da história.

A escrita é feita em uma terceira pessoa e, na maior parte, em discurso direto. Apesar de o conto possuir largos trechos descritivos e poucos diálogos, ainda podemos caracterizá-lo como direto pela forma como o autor constrói seus diálogos. Gostei do domínio que ele tem sobre seus personagens e a maneira como ele fez para abrir aquilo que eles sentem no fundo de seus corações. Esse é, sem dúvida, o grande diferencial desse conto.

15 - A Ária da Rainha do Norte (Ian McDonald) - 5 estrelas

Isso é que é maneira de encerrar uma coletânea. UM conto de altíssimo nível escrito por um dos caras que eu considero um dos pistoleiros da ficção científica; Ian McDonald. Aqui no Brasil, apenas Brasyl (sem trocadilhos entendidos) chegou a ser publicado, sem uma boa recepção do público. Uma pena, sinceramente. Não aprenderam a apreciar a ótima escrita deste autor que é muito criativo. Ele sempre usa algum ambiente diferente, ou coloca os personagens em uma situação pouco usual.

Aqui, somos apresentados a lorde Jack e Faisal. Um é um cantor de ópera ao estilo antigo e com um talento que o coloca em outro patamar. Já Faisal é seu ajudante, fazendo as vezes de alguém que cuida do seu bem-estar ao mesmo tempo em que é o pianista. Jack é um bon vivant, alguém que se embebeda, curte mulheres e a boa vida que a profissão de cantor lhe assegurou. Mas, eles estão falidos: a vida de luxos deixou uma dívida enorme. Graças a alguns contatos eles são enviados para realizar cinco shows para um grupo de militares que estão nas linhas de frente na guerra contra os uliris, um povo que detesta a presença dos terráqueos em Marte. Jack e Faisal vão ver todas as agruras e o terror da guerra da primeira fila.

Uma coisa que é preciso dizer acerca da escrita de McDonald é como ela é elegante. O título da história pode ser dado tanto a um momento final da narrativa quanto à própria composição da mesma. A escrita é feita em terceira pessoa e composta como se fosse a letra de uma música. Os momentos de luxo e segurança se parecem com uma canção tranquila e acolhedora; os shows se parecem com refrãos de uma bela música dançante; as batalhas se parecem com música clássica com altos e baixos. A forma como ele descreve uma batalha no espaço parece algo saído de uma Cavalgada das Valquírias. É uma beleza da violência, um encantamento do aterrador. Mortes são apresentadas como innuendos.

A relação entre os dois personagens é forte. Ambos desenvolveram uma comunicação que muitas vezes a gente confunde com a de dois amantes. Aliás, Faisal deixa transparecer que sente algum tipo de atração por Jack ao mesmo tempo em que sabe que jamais será tão talentoso quanto ele. O olhar de Jack quando observa o absurdo da destruição é o prego final no caixão dos sonhos de Faisal. Ele sabe que não consegue observar os mesmos detalhes e a mesma música que Jack vê em algo tão fútil quanto dois povos se matando. E então, a gente se questiona: o que é mais forte, o amor pelo homem ou a adoração pelo mito? Jack possui uma personalidade extremamente complexa por ter passado pelo luxo e pelo lixo. Ele tem um comprometimento artístico incrível, capaz de passar por uma plateia ou por um grupo receptivo, ou até por uma festa onde todos estão tão bêbados que nem raparam nele.

A ambientação da guerra já foi trabalhada inúmeras vezes. Seja com personagens que sofrem com ela ou até aqueles que fazem parte dela. Mas, é sempre muito curioso quando o autor consegue nos mostrar a visão daqueles que não estão envolvidos necessariamente com a guerra. São aquelas pessoas comuns passando por toda a violência que os cerca, sem poder fazer nada a respeito. São histórias carregadas de emoção e sentimento. E aqui o autor consegue entregar exatamente isso.

Baita maneira de encerrar uma coletânea, conto recomendadíssimo!

site: www.ficcoeshumanas.com
Ryllder 06/03/2018minha estante
Resenha muito boa, parabéns. Realmente este livro vem recebendo críticas, inclusive o Diego,do Acervo. Mas a sua reabilitou a obra...


Paulo 09/03/2018minha estante
Eu só queria mostrar o quanto esse livro tem valor. Com tantos autores renomados reunidos aqui, é impossível que nada tenha dado certo.


Davenir - Diário de Anarres 13/11/2020minha estante
Sua resenha é excelente. Só falou o teu parecer sobre os contos 13 e 14




Caique.Emanuel 11/08/2018

Novas perspectivas
O livro trás novas perspectivas a respeito de marte, foge dos dados científicos e do imaginário popular a respeito do planeta vermelho, cada autor coloca uma característica única no planeta dos "sonhos" saindo da mesmice de obras que buscam retratar um Marte fiel ao cientificamente provado até agora. Cada conto tem sua particularidade e enquanto alguns vc termina de ler e fica a sensação de "quero mais" outros vc acaba sentindo que perdeu tempo, mas é uma obra que consegue encantar todo o "público"!
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Arnaldo.Veiga 01/05/2021

Eu não gosto de crônicas por serem histórias muito curtas e que dificultam você a se apegar com os personagens e o enredo, geralmente estas histórias já começam no meio praticamente e não terem um início, meio e fim propriamente dito.

Neste livro acompanhamos 16 autores embarcando em história no quarto planeta do sistema solar, temos bastante representatividade até entre os próprios autores e até mesmo nos personagens. Pra mim crônica não rola muito, principalmente se for de um gênero como ficção científica que você precisa elaborar melhor o enredo, teve alguns contos que eu gostei, mas nada 5 estrelas, porém os que eu não gostei eu não gostei mesmo.
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Tamirez | @resenhandosonhos 01/08/2018

As Crônicas de Marte
Quanto mais eu leio ficção científica que se passa no espaço mais eu me interesso pelo assunto, e foi por isso que As Crônicas de Marte chamou minha atenção. Algo que acho que é necessário tirar logo do caminho é que apesar de ter o nome de Martin bem estampado na capa, ele não tem um conto dentro do livro, apenas escreve a introdução, que pra mim, ainda assim, é um dos melhores textos que você vai encontrar aqui.

Nela, o autor conta a sua trajetória de consumo de sci-fi, cita várias referências de obras e autores que escrevem sobre o assunto e situa muito bem o leitor com material extra para seguir em frente. É um texto empolgante que certamente abre muito bem as portas para os 15 contos que virão. E é nesses contos que esse livro me consumiu de uma forma não tão positiva.

Dos 15, apenas cinco entraram pra minha listinha de boas leituras e foi extremamente demorado passar pelas histórias que não eram tão interessantes. Muitos dos contos mal citam Marte e, se não soubéssemos que o livro se passa nesse ambiente, ficaríamos sabendo sobre ele muito tarde na narrativa. Diferente do que o título sugere, esse não é um livro que tem o planeta vermelho como “protagonista” de seus contos, ele é apenas o local onde a maioria das tramas se passa ou para onde os personagens vão se dirigir em algum momento.

“Poucas satisfações equivalem à tortura dolorosa daqueles que antagonizaram ou sobrepujaram você.”

Entre os contos que mais me chamaram a atenção estão “Bancos de Areia”, uma história que envolve um garoto que sofreu um acidente na infância e passa a ver um pouco além do que o olhar comum, desmistificando uma visão diferente do planeta; “Nas Tumbas dos Reis Marcianos” onde um homem é contratado para ir até tumbas antigas atrás de algo, e há uma conexão bem forte com um “animal”; e “Um Homem Sem Honra”, provavelmente o meu favorito, do autor James S. A. Corey.

Algo que me chamou a atenção em alguns contos foi a junção da fantasia com a ficção científica, não limitando a trama a somente coisas “plausíveis” e, sendo o gênero que mais curto, ajudou com que eu acabasse criando uma identificação maior. Porém, a falta de centralidade ou destaque em Marte acabou surtindo o efeito contrário e me fez não curtir tanto vários textos.

Eu tenho plena consciência que contos são uma dificuldade grande que eu tenho enquanto leitora e, certamente, isso influencia na impressão que eu tenho do livro. Histórias curtas que surgem do nada e acabam do nada sem aprofundamento não me cativam tanto, entretanto, eu sigo tentando. Infelizmente, As Crônicas de Marte não foi o livro que fez com que o jogo virasse por aqui.

Portanto, minha impressão final do livro é que consegui tirar proveito de apenas um terço dele e anotar todas as referências dadas por Martin no texto inicial como opções de leituras para o futuro. O bacana é que, pelo menos, pude conhecer o trabalho de vários autores que ainda não tinha tido contato e reencontrar outros que já li alguma obra.

Essa edição da Arqueiro chegou por aqui com um trabalho de acabamento bem bonito e curti bastante a capa. Por dentro o livro segue o mesmo padrão de separação entre os contos que já vi em outros livros da editora e o texto está com uma fonte ok.

Tendo dito tudo isso, acho que se você tem uma relação melhor com contos, provavelmente sua leitura será mais produtiva que a minha, principalmente se Marte ou sci-fi for algo do seu interesse. Por aqui, seguirei tentando, tanto com contos, quanto em desbravar novos planetas espaço afora.

site: http://resenhandosonhos.com/as-cronicas-de-marte-george-r-r-martin-gardner-dozois/
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