Carol.Cordeiro 07/11/2021
Mais uma vez surpreendida por Naomi Novik
Gostaria de iniciar dizendo que, uma das coisas que mais me impressiona nos livros da Naomi (que fique claro que li apenas Enraizados, além desse) é a capacidade que ela tem de levar a história por rumos inesperados e totalmente diferentes do proposto nas primeiras páginas, de uma forma rítmica e fluída.
Assim como em Enraizados, a autora faz personagens que correm atrás de seus objetivos quando despertas por um gatilho e as faz adentrar o mundo da política, sem deixar a trama chata ou permeada por termos e cenas que não alimentem a história. E não nos esqueçamos da magia, escondida mas sempre presente, até que se faça parte principal de tudo.
Uma coisa que me agradou e foi inesperado, foi a narração feita por diferentes personagens, iniciando com as três protagonistas que entrelaçam suas histórias e tendo contribuições de personagens coadjuvantes que deram visões enriquecedoras à trama.
Mas pra mim, o fato que mais abrilhantou esse livro em especial, foi o cuidado na demonstração de diferentes aspectos do convívio humano. A primeira heroína apresentada é Miryem, uma jovem judia que viveu na pobreza durante toda sua vida pois seu pai era um péssimo agiota, mas que teve todo o amor que poderia ter pedido por parte de seus pais; temos também Irina, que cresceu cercada por todo o luxo e conforto, mas que conheceu o amor apenas pelas mãos de sua cuidadora; e nossa querida Wanda, que não tinha nada. Sem amor ou dinheiro, Wanda arruma nas dívidas de seu pai uma forma de impedir o mesmo de a vender para um casamento forçado.
As histórias das protagonistas se entrelaçam e mostram a nós diversas realidades duras que as vezes, escolhemos esquecer que existem. Miryem representa o povo judeu, e durante todo o livro fala orgulhosamente deles, ao mesmo tempo que mostra a discriminação que eles sofrem e como isso tornou sua vida ainda mais difícil, tendo que ver seu povo ser rejeitado, sem a certeza de um futuro de segurança. A história de Wanda fala sobre violência e relações abusivas na família, mas também sobre como um ato de empatia e compaixão pode mudar a vida de alguém, tal qual o amor de uma mãe, que é a única coisa que a mantém unida a seus dois irmãos mais jovens.
Como já me estendi demais, quero finalizar dizendo que já esperava pouco dos romances, mas fiquei levemente decepcionada com o da Irina, pois havia muito para se trabalhar ali. O Final da Miryem foi bonito, mas eu tive que ler muito nas entrelinhas pra conseguir ver o desenvolvimento do romance em si. A Naomi realmente gosta de um Enemies-to-lovers, mas ela pesa muito a mão no enemies kkklkkk.