Alle_Marques 19/04/2021
“O bebê está morto... a menina não vai resistir.”
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[...] Naquele dia, depois da sesta, ela abriu as venezianas. E foi então que ela ouviu. A maioria das pessoas vive sem jamais ouvir gritos assim. São gritos que existem apenas na guerra, nas trincheiras, em outros mundos, em outros continentes. Não são gritos daqui. Durou ao menos dez minutos, esse grito, num fôlego só, sem pausa e sem palavras. Esse grito que foi ficando rouco, que se encheu de sangue, de muco, de raiva. [...]
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A leitura conseguiu me prendeu ainda nos primeiros parágrafos, no primeiro capítulo, a escrita é fluida e a história interessante, gostei da maneira como a história se fecha, em como para ter maior compreensão do final é necessário voltar ao começo, os personagens também são bem escritos, apesar de muitas vezes causarem a sensação de faltar algo, principalmente Louise, uma personagem complexa e difícil de entender, as vezes até de gostar, a ambientação por sua vez deixa a desejar, é muitas vezes vaga, mas acredito que o principal problema da obra é ter muitas coisas que não foram ditas, que não foram reveladas, isso dá a sensação de inacabado, vago, as vezes até superficial, é uma pena pois a história trata de temas bem importantes e que merecem serem debatidos, muitos conflitos e tramas também parecem não chegarem a lugar algum, são esquecidas ou ignoradas, mas ainda sim acho que a leitura vale a pena, seja pra provocar uma reflexão sobre papeis de gênero na criação dos filhos, ambientes familiares tóxicos, saúde mental, entre outros, ou apenas para entreter por alguns dias.
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[...] É preciso que alguém morra. É preciso que alguém morra para sermos felizes.
Refrãos mórbidos embalam Louise enquanto ela anda. As frases, que ela não inventou e cujo sentido ela não tem certeza de compreender, assombram seu espírito. Seu coração endureceu. Os anos o cobriram com uma casca grossa e fria, e ela mal o ouve bater. Nada mais a emociona. Precisa admitir que não sabe mais amar. Esgotou toda a ternura que tinha em seu coração, e suas mãos não têm mais nada para afagar.
Serei punida por isso, ela se ouve pensar. Serei punida por não saber amar. [...]
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