I7bela 21/11/2023
Canção de Ninar é uma leitura pra quem gosta de sentir incômodo. O primeiro parágrafo inteiro é digno de olhos arregalados e uma curiosidade latente toma conta só nesse comecinho.
Não há respostas, os porquês não são respondidos com respostas diretas, você, leitor é apenas apresentado aos acontecimentos que antecederam à tragédia.
As críticas estão facilmente visualizadas. O mito da fantástica e perfeita maternidade, as cobranças sociais, a xenofobia, a interação entre classes que adoram gritar “mas é como se você fosse da família”, mas não é. Nunca foi. O trecho, em específico, em que Louise fica doente e a mãe-patroa liga desesperadamente e sem saber onde Louise mora deixa evidente que “é da família sim, porém depende”.
A relação entre empregado e patrões é por vezes noticiada por Paul, o pai das crianças, afinal ela tem que saber seu lugar, não é mesmo? A relação de mútua dependência entre Louise e os Massé é construída sob uma fachada perfeita, loura, de coque, sem filhos, sem família e dívidas atoladas. Os estereótipos que tanto fugiram não evitou absolutamente nada. Não emigrante. Pele branca. Sem filhos para não reclamar de sair mais tarde do trabalho. A perfeição em exercer toda e qualquer tarefa que não somente a de babá, a calma de uma vida negada. Louise percebe um dia que não pode mais amar. Não há mais consolos nem mais nas crianças.
Um livro-baque gostoso pra se sentir remexido por dentro.
Uma grata surpresa.