IvaldoRocha 21/06/2016
Um verdadeiro achado em um livro quase perdido.
Nunca tinha ouvido falar do autor, mas por se tratar de uma edição da Cosac Naify fui dar uma olhada. Um título um tanto estranho, que depois descobri foi dado por ninguém menos que Manuel Bandeira, retribuindo o favor ao amigo. Publicado em 1936 em uma edição com menos de duzentos exemplares pela cooperativa Amigos do Livro de Belo Horizonte, e que com um mês depois de lançado o autor resolveu recolher os exemplares. Segundo alguns em razão da sua autocritica implacável e segundo outros pelo fato de ter sido indicado para comandar o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e eticamente se sentiu desconfortável em ser um autor de ficção e trabalhar como servidor público na área da cultura.
Uma segunda edição saiu após a sua morte em 1974. São oito contos todos relacionados com a morte e ainda segundo Manuel Bandeira, apenas dois foram “inventados”, um deles “O Nortista” que Mario de Andrade considerava “uma perfeição de psicologia” e “Seu Magalhães Suicidou-se” que em 1938 em uma enquete da Revista Acadêmica foi colocado entre os dez melhores contos da literatura brasileira. Pedro Nava era outro que tinha certeza que pelo menos dois contos, “Quando Minha Avó Morreu” e “Iniciação” eram autobiográficos.
Os contos são realmente de uma qualidade superior, você fica pensando neles por um tempo depois de lidos, alguns possuem uma sutileza onde as coisas são levemente sugeridas, mas o bastante para se ficar com a pulga atrás da orelha como em “O Príncipe dos Prosadores”. O conto “O Nortista” é fantástico e “Seu Magalhães Suicidou-se” te deixa incomodado com o fato de ninguém da família, cuidar do defunto e receber as pessoas que chegam ao velório, até saber a razão.
Nesta edição da Cosac Naify, acompanham textos e cartas de Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Sérgio Buarque de Holanda e Antônio Candido, sobre Rodrigo de Andrade e sua obra.
Antônio Candido, dizia que Rodrigo de Andrade tinha a capacidade de dar relevo ao que é banal e familiarizar o que é excepcional e dá um exemplo.
- Tem visto Otávio Tarquínio? – perguntei-lhe faz muitos anos.
- Meu querido – respondeu - não lhe digo nada. Outro dia fui encontrar o nosso preclaro ministro nas garras de uma gripe, profundamente acoelhado, tomado do maior nojo de tudo e de todos!
Um livro com tantas histórias, de um autor que apenas escreveu oito contos, não acredito que venha a ser reeditado após o fim da Cosac Naify, então se ficou curioso aproveite.